São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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China exporta 1.500 professores para levar mandarim ao mundo

Instituto Confúcio já tem 382 unidades em 82 países, com custos de ao menos US$ 100 mi ao ano para governo chinês

Professor relata à Folha que professores têm dificuldade de se adaptar a estudantes ocidentais, que são menos obedientes do que chineses


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China planeja enviar até o ano que vem mais de 1.500 professores de mandarim para 82 países onde abriu centros de ensino de mandarim e cultura chinesa.
Atualmente são 382 centros com 5.000 professores, quase todos instalados em universidades -o número deve pular para 500 centros em 2010. No Brasil, há duas unidades.
O Instituto Confúcio quer ser a versão chinesa do British Council e dos institutos Cervantes (espanhol) e Goethe (alemão). "Queremos promover a cultura e o idioma chineses, ampliar o entendimento sobre a China no exterior", disse à Folha o vice-presidente da instituição, Ma Jianfei.
Em apenas cinco anos de existência, o Confúcio já produziu material didático em 42 idiomas. São 300 livros novos por ano. Apesar de o orçamento oficial anual ser de US$ 100 milhões, acredita-se que o número real seja muito superior, pois o instituto recebe verbas extraorçamentárias dos ministérios de Comércio, Finanças e Relações Exteriores.
Se a China já é potência política, militar e econômica, ainda patina no chamado "soft power" -sua cultura pop é desconhecida além de suas fronteiras, e sua imagem ainda é arranhada pela ausência de democracia e pelo desrespeito aos direitos humanos.
A escolha do idioma é estratégica -40 milhões de estrangeiros estudavam chinês em 2008, segundo estimativa do governo da China, que prevê 100 milhões em 2011.

Professores choram
Mas aí começam outros desafios. Atingir um alto nível de fluência no mandarim pode levar mais de dez anos. "Igual à sua língua materna", contemporiza o professor Ma. "Discordo de que o chinês seja uma língua muito difícil, talvez demande um comprometimento maior por parte do aluno."
Alunos têm reclamado de livros didáticos desatualizados e professores muito rígidos. "Nossa metodologia de ensino está pelo menos dez anos atrás do Ocidente no ensino de línguas. Temos excesso de memorização, e o aluno participa pouco, há pouca interação", admite Ma, que também é vice-reitor da Universidade de Línguas de Pequim.
"Mas os professores não gostam de muitas mudanças, é uma transformação demorada", queixa-se.
"Fazemos treinamentos de 300 horas com nossos professores antes de mandá-los para o exterior para tentar evitar choques culturais", diz Ma, que ressalta que os professores chineses não sentem tanta diferença na Coreia, no Japão ou no Sudeste asiático.
O problema é no Ocidente. "É comum termos professores chorando diariamente nas primeiras semanas, pois a disciplina e a relação dos alunos com os professores são muito diferentes fora da China. Nossos professores não estão acostumados a ser desafiados ou que alunos discordem."
No esforço de modernização do ensino, foi criado um Instituto Confúcio on-line, onde há classes gravadas, demonstrações de pronúncia e um tira-dúvidas interativo. Alunos já começam a ter acesso a MP3, DVDs e CDs, além de mangás, com as aulas.
O Confúcio tem organizado acampamentos de verão e inverno para cerca de 5.000 estudantes por ano que visitam a China e ficam duas semanas no país. Tirando a viagem aérea, todos os gastos internos dos alunos estrangeiros na China, de hospedagem a alimentação, são responsabilidade do governo chinês.


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