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China exporta 1.500 professores para levar mandarim ao mundo
Instituto Confúcio já tem 382 unidades em 82 países, com custos de ao menos US$ 100 mi ao ano para governo chinês
Professor relata à Folha que professores têm dificuldade de se adaptar a estudantes ocidentais, que são menos obedientes do que chineses
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China planeja enviar até o
ano que vem mais de 1.500 professores de mandarim para 82
países onde abriu centros de
ensino de mandarim e cultura
chinesa.
Atualmente são 382 centros
com 5.000 professores, quase
todos instalados em universidades -o número deve pular
para 500 centros em 2010. No
Brasil, há duas unidades.
O Instituto Confúcio quer
ser a versão chinesa do British
Council e dos institutos Cervantes (espanhol) e Goethe
(alemão). "Queremos promover a cultura e o idioma chineses, ampliar o entendimento
sobre a China no exterior", disse à Folha o vice-presidente da
instituição, Ma Jianfei.
Em apenas cinco anos de
existência, o Confúcio já produziu material didático em 42
idiomas. São 300 livros novos
por ano. Apesar de o orçamento oficial anual ser de US$ 100
milhões, acredita-se que o número real seja muito superior,
pois o instituto recebe verbas
extraorçamentárias dos ministérios de Comércio, Finanças e
Relações Exteriores.
Se a China já é potência política, militar e econômica, ainda
patina no chamado "soft power" -sua cultura pop é desconhecida além de suas fronteiras, e sua imagem ainda é arranhada pela ausência de democracia e pelo desrespeito aos direitos humanos.
A escolha do idioma é estratégica -40 milhões de estrangeiros estudavam chinês em
2008, segundo estimativa do
governo da China, que prevê
100 milhões em 2011.
Professores choram
Mas aí começam outros desafios. Atingir um alto nível de
fluência no mandarim pode levar mais de dez anos. "Igual à
sua língua materna", contemporiza o professor Ma. "Discordo de que o chinês seja uma língua muito difícil, talvez demande um comprometimento
maior por parte do aluno."
Alunos têm reclamado de livros didáticos desatualizados e
professores muito rígidos.
"Nossa metodologia de ensino
está pelo menos dez anos atrás
do Ocidente no ensino de línguas. Temos excesso de memorização, e o aluno participa
pouco, há pouca interação", admite Ma, que também é vice-reitor da Universidade de Línguas de Pequim.
"Mas os professores não gostam de muitas mudanças, é
uma transformação demorada", queixa-se.
"Fazemos treinamentos de
300 horas com nossos professores antes de mandá-los para
o exterior para tentar evitar
choques culturais", diz Ma, que
ressalta que os professores chineses não sentem tanta diferença na Coreia, no Japão ou
no Sudeste asiático.
O problema é no Ocidente.
"É comum termos professores
chorando diariamente nas primeiras semanas, pois a disciplina e a relação dos alunos com
os professores são muito diferentes fora da China. Nossos
professores não estão acostumados a ser desafiados ou que
alunos discordem."
No esforço de modernização
do ensino, foi criado um Instituto Confúcio on-line, onde há
classes gravadas, demonstrações de pronúncia e um tira-dúvidas interativo. Alunos já
começam a ter acesso a MP3,
DVDs e CDs, além de mangás,
com as aulas.
O Confúcio tem organizado
acampamentos de verão e inverno para cerca de 5.000 estudantes por ano que visitam a
China e ficam duas semanas no
país. Tirando a viagem aérea,
todos os gastos internos dos
alunos estrangeiros na China,
de hospedagem a alimentação,
são responsabilidade do governo chinês.
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