São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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ANÁLISE BANCOS

Europeus são 'grandes demais para quebrar'

Socorro às instituições financeiras não é para viabilizar o futuro dos bancos, mas para honrar o passado deles

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Os governos e os reguladores não sabem exatamente o que fazer para lidar com a crise atual, mas farão de tudo para não deixar nenhum banco "grande demais" quebrar.
O motivo alegado é o quase mantra do risco sistêmico de quebradeira em cascata de instituições financeiras -e com eles as famílias de milhões de depositantes, mutuários da casa própria, aposentados, empresas e até parte da máquina pública que deles depende. Para não afundarem, os bancos europeus precisarão de dinheiro -e quem tem dinheiro hoje, mesmo sob forma de mais dívida, são os governos- para garantir empréstimos que essas instituições fizeram no passado; o socorro não é para viabilizar o futuro dos bancos, mas para manter o passado deles.
Isso porque o capital próprio dessas instituições "derreteu" junto com o preço dos títulos da dívida da Grécia pré-calote, da Itália, da Irlanda e da Espanha. Esses papéis são o pouco que sobrou da antiga riqueza desses bancos, que desvaloriza a cada rebaixamento da avaliação de risco feita pelas agências de rating (nota).
Esse é um dos motivos da longa agonia da Grécia. Um calote grego só vai "materializar" o problema existente, derrubando ainda mais o preço da dívida grega -e da dos demais países- e tornando a situação mais crítica.
Para socorrer os bancos, só há dois caminhos: emprestar dinheiro com custo subsidiado -mas depois, o banco têm de pagar o empréstimo- ou injetar capital em troca de participação acionária; se a participação estatal for majoritária, é uma "estatização". Normalmente, acontece um misto dos dois.
Há uma terceira técnica, aplicada na recuperação de empresas, que é separar a "parte boa" da "parte podre". No caso, a parte podre costumar ser liquidada pelo Banco Central ou "comprada" pelo governo, que assume o mico definitivo -isso aconteceu no Brasil nos anos 90.
A parte boa é vendida para um concorrente privado, como ocorreu em privatizações brasileiras como a do antigo Banespa. Quando a "parte podre" não compromete o todo, o governo pode "obrigar" um concorrente a comprá-la por um preço irrisório, como aconteceu em 2008 quando o Bank of America comprou a Merrill Lynch nos EUA.


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