São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Cobertura do movimento é enviesada, dizem especialistas

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Os manifestantes do Ocupe Wall Street partiram ontem do distrito financeiro, na ponta sul de Manhattan, para o lado leste do Central Park, no centro da ilha. Era a "Marcha dos Milionários", pouco acompanhada pelos canais de notícias, sediados também em Nova York. Os alvos não eram mais os operadores do mercado, mas as "mansões" do presidente do banco JP Morgan Chase, Jamie Dimon, e do presidente da News Corp, Rupert Murdoch, entre outros.
Em reedição contida da "guerra dos jornais", o nova-iorquino "Daily Mail" jogou o foco sobre Murdoch, publisher do concorrente "NY Post". Os dois tabloides têm explorado o Ocupe Wall Street com sinais opostos. Mais contida que nos tabloides, a cobertura em geral, para críticos de mídia como Jay Rosen (New York University) e Todd Gitlin (Columbia), vem sendo enviesada.
O movimento começou no dia 17 com mínima atenção, acompanhado por sites e jornalistas engajados, caso do âncora Keith Olbermann, hoje na pequena Current TV.
Apesar de certa penetração junto a colunistas liberais como Paul Krugman, do "New York Times", ecoando no movimento sindical, o Ocupe Wall Street continuou sendo retratado em canais de notícias e jornais de prestígio com imagens e entrevistas dos integrantes mais caricatos.
Pelo menos é a avaliação de Gitlin, que sublinha um cartaz dos protestos: "Estou bem vestido demais para que a mídia não me entreviste?".
No fim de semana, um dos líderes das manifestações, Jesse LaGreca, entrevistado na ABC, apontou o dedo para a própria TV, dizendo que a maioria dos americanos sofre com a crise e é "inteiramente ignorada pela mídia".
Já a Fox News, que descreve o Ocupe Wall Street como "lunáticos" e "anarquistas", dizia que os democratas estavam diante de um impasse, pois os seus financiadores de campanha são os maiores alvos dos ativistas.
Abrindo esta semana, o movimento sindical, próximo dos democratas, se distanciou do Ocupe Wall Street. E o "NYT" destacava ontem na home não a "Marcha dos Milionários", mas o "risco", para os democratas, de vinculação maior ao movimento.
Após os dias de atenção que se seguiram à repressão na Brooklyn Bridge, o Ocupe Wall Street parecia voltar aos meios originais: o jornalismo voluntário que publica o "jornal" de mobilização "The Occupied Wall Street Journal"; e o site Pastebin, de posts anônimos, que divide com grupos de hackers e outros.


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