São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Assembléia vota hoje moção para rejeitar texto da ONU; George W. Bush volta a ameaçar Saddam Hussein

Parlamento iraquiano ataca resolução

DA REDAÇÃO

O Comitê de Relações Exteriores do Parlamento iraquiano recomendou ontem a rejeição da resolução da ONU aprovada na última sexta-feira, e o líder da Assembléia disse que o texto era "um preâmbulo para a guerra".
O presidente americano, George W. Bush, voltou a advertir Bagdá de que uma ação militar seria iniciada pelos EUA se o Iraque não obedecesse à resolução que dá a inspetores de armas da ONU poder total de locomoção no país.
"Não tenho responsabilidade maior do que a de proteger a população americana. Se a ação militar se tornar necessária para nossa própria segurança, acionarei todo o poder e a força do Exército dos EUA, e venceremos", disse Bush em uma cerimônia na Casa Branca pelo Dia dos Veteranos, comemorado ontem.

Sessão de emergência
As declarações do líder da Assembléia iraquiana foram feitas no início de uma sessão de emergência do Parlamento iraquiano convocada pelo ditador Saddam Hussein. Ele pediu que os parlamentares recomendassem uma resposta à resolução, que exige que o país elimine suas armas de destruição em massa ou enfrente "sérias consequências". Bagdá tem até sexta-feira para dar uma resposta à ONU.
Mas a decisão final sobre a resposta ao Conselho de Segurança da ONU -cujos 15 membros votaram pela adoção do texto proposto por EUA e Reino Unido- recairá sobre o Conselho de Comando Revolucionário, a autoridade mais alta do Iraque, que é liderada por Saddam.
O ditador já utilizou o Parlamento como cobertura para anunciar decisões difíceis, e palavras duras não significam que a resolução será rejeitada. Se a recomendação for a de aceitar a resolução, como analistas esperam, Saddam poderia voltar atrás de objeções anteriores a qualquer nova resolução sobre inspeções de armas alegando estar seguindo a vontade da população.
O Parlamento é controlado por Saddam, e o debate de ontem foi transmitido ao vivo pela TV iraquiana. Parlamentares aplaudiam ontem a cada vez que o nome de Saddam era mencionado, sempre dentro da mesma construção: "Sua Excelência o Sr. Presidente, o líder dos guerreiros sagrados, Saddam Hussein".
Salim al Kubaisi, chefe do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento, disse: "O comitê recomenda o seguinte: a rejeição da resolução 1441 do Conselho de Segurança e não concordar com ela por causa da opinião de nosso povo, que deposita confiança em seus representantes".
Ele fez a declaração depois de o presidente do Parlamento iraquiano, Saadoun Hammadi, abrir a sessão dizendo que a resolução violava leis internacionais e a soberania do Iraque.
"Essa resolução da ONU procura um pretexto para a guerra, e não uma solução abrangente. Ela tenta criar crise em vez de cooperação e abre caminho para a agressão, não para a paz", afirmou Hammadi. "Ela mostra claramente as más intenções do governo dos EUA", acrescentou.
Após uma sessão de três horas, Hammadi disse que o Parlamento voltaria a se reunir hoje às 10h (5h em Brasília) para votar uma moção para rejeitar o texto da ONU. Ele disse, contudo, que a decisão final caberia a Saddam.
Se o Iraque aceitar a resolução, uma equipe de cerca de 25 técnicos e especialistas em desarmamento da ONU, liderada pelo chefe de inspeções de armas da organização, Hans Blix, deve partir de Nova York já na sexta-feira.
A primeira parada do grupo será em Chipre, onde o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed El Baradei, deve se unir à equipe.
A chegada a Bagdá -onde os técnicos devem começar a montar laboratórios de inspeções- está prevista para o dia 18.
Em Washington, a assessora de Bush para assuntos de segurança nacional, Condoleezza Rice, rejeitou questionou a legitimidade do Parlamento iraquiano.
"É preciso ser um pouco cético quanto à independência do Parlamento iraquiano em relação a Saddam Hussein", afirmou. "Não creio que ninguém acredite que isso seja qualquer coisa além de uma ditadura absoluta. Essa decisão cabe a Saddam Hussein."
Ela também disse que o Iraque não tem direito de aceitar ou rejeitar a resolução. "Eles são obrigados a aceitá-la, mas a ONU achou melhor pedir um recibo", disse.


Com agências internacionais



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