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SUCESSÃO NOS EUA / PAGANDO PROMESSA
Obama pressiona Bush sobre montadoras
Republicano teria pedido em troca aprovação de acordo de livre comércio com a Colômbia; Casa Branca nega combinação
Eleito quer liberação de empréstimo para o setor automotivo; vazamento do teor da conversa dos dois cria saia-justa entre equipes
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na reunião de pouco mais de
uma hora que tiveram anteontem, Barack Obama pressionou
George W. Bush pela aprovação
da ajuda às montadoras americanas em dificuldade. Em troca, o atual presidente teria pedido que o Congresso de maioria democrata aprovasse o tratado de livre comércio com a
Colômbia, parado desde 2006.
Tanto a Casa Branca quanto
o comando do presidente eleito
negam que tenha havido o que
chamaram de "toma-lá-dá-cá".
Em crise, GM, Chrysler e
Ford negociam a liberação
mais rápida pelo governo de
um empréstimo já aprovado
pelo Congresso de US$ 25 bilhões. Os democratas pedem
ainda que mais US$ 25 bilhões
sejam liberados do pacote de
US$ 700 bilhões de ajuda ao
mercado financeiro aprovados
em setembro. Bush se recusa a
incluir as montadoras entre os
beneficiários do pacote.
Na avaliação do republicano,
isso criaria um precedente para
que outros setores em dificuldade pedissem dinheiro ao governo, o que desvirtuaria o espírito original da iniciativa. Já
Obama acha que um auxílio às
montadoras agora é crucial,
pois 1 em cada 10 empregos do
país é relacionado de alguma
forma ao setor automobilístico.
O democrata tem ainda dívida eleitoral com Michigan, Estado em que estão as sedes dessas empresas e onde ele venceu
com quase 800 mil votos a mais
que o republicano John
McCain ao fazer campanha
prometendo empregos e ajuda
às montadoras.
Por outro lado, o acordo comercial com a Colômbia, principal aliado americano na América do Sul, é a menina-dos-olhos de Bush. O tratado parou
no Congresso, onde os democratas têm maioria desde as
eleições legislativas de 2006. O
partido de oposição argumenta
que aquele país deve mostrar
que conteve a violência contra
sindicalistas antes de receber
as benesses (leia abaixo).
Negativa
O toma-lá-dá-cá foi noticiado ontem pelos jornais "New
York Times" e "Washington
Post", citando fontes anônimas. Dana Perino, porta-voz da
Casa Branca, disse depois que a
informação era incorreta.
À tarde, na primeira coletiva
da equipe de transição em Washington, o coordenador John
Podesta confirmou que tanto o
auxílio às montadoras quanto o
tratado colombiano realmente
fizeram parte da conversa entre os dois líderes, mas que
"não houve toma-lá-dá-cá".
O vazamento do teor da conversa da qual participaram só
os dois presidentes causou
constrangimento entre as duas
equipes, com a Casa Branca
apontando o dedo para o pessoal da transição. "O senador
Obama pode não estar familiarizado com a tradição antiga de
os presidentes manterem privadas suas conversas", teria dito um assessor de Bush ao site
conservador "Drudge Report".
Seja como for, a ameaça real
de Bush dificultar a liberação
dos US$ 25 bilhões já aprovados às montadoras e de restringir o uso dos US$ 700 bilhões
ao mercado financeiro causou
grita entre os democratas.
"O Congresso e o governo
Bush têm de tomar ação imediata", disse a presidente do
Congresso, Nancy Pelosi.
"Quanto eles estão dando à [seguradora] AIG? US$ 150 bilhões? E nós estamos falando
de US$ 25 bilhões que vão ajudar a principal indústria deste
país", disse o deputado federal
Sander Levin, de Michigan.
Pelosi sinalizou que a aprovação de mais ajuda às montadoras deve ser votada em sessão legislativa extraordinária
na próxima semana e que "espera" que Bush apóie a medida.
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