São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PAGANDO PROMESSA

Obama pressiona Bush sobre montadoras

Republicano teria pedido em troca aprovação de acordo de livre comércio com a Colômbia; Casa Branca nega combinação

Eleito quer liberação de empréstimo para o setor automotivo; vazamento do teor da conversa dos dois cria saia-justa entre equipes

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na reunião de pouco mais de uma hora que tiveram anteontem, Barack Obama pressionou George W. Bush pela aprovação da ajuda às montadoras americanas em dificuldade. Em troca, o atual presidente teria pedido que o Congresso de maioria democrata aprovasse o tratado de livre comércio com a Colômbia, parado desde 2006.
Tanto a Casa Branca quanto o comando do presidente eleito negam que tenha havido o que chamaram de "toma-lá-dá-cá".
Em crise, GM, Chrysler e Ford negociam a liberação mais rápida pelo governo de um empréstimo já aprovado pelo Congresso de US$ 25 bilhões. Os democratas pedem ainda que mais US$ 25 bilhões sejam liberados do pacote de US$ 700 bilhões de ajuda ao mercado financeiro aprovados em setembro. Bush se recusa a incluir as montadoras entre os beneficiários do pacote.
Na avaliação do republicano, isso criaria um precedente para que outros setores em dificuldade pedissem dinheiro ao governo, o que desvirtuaria o espírito original da iniciativa. Já Obama acha que um auxílio às montadoras agora é crucial, pois 1 em cada 10 empregos do país é relacionado de alguma forma ao setor automobilístico.
O democrata tem ainda dívida eleitoral com Michigan, Estado em que estão as sedes dessas empresas e onde ele venceu com quase 800 mil votos a mais que o republicano John McCain ao fazer campanha prometendo empregos e ajuda às montadoras.
Por outro lado, o acordo comercial com a Colômbia, principal aliado americano na América do Sul, é a menina-dos-olhos de Bush. O tratado parou no Congresso, onde os democratas têm maioria desde as eleições legislativas de 2006. O partido de oposição argumenta que aquele país deve mostrar que conteve a violência contra sindicalistas antes de receber as benesses (leia abaixo).

Negativa
O toma-lá-dá-cá foi noticiado ontem pelos jornais "New York Times" e "Washington Post", citando fontes anônimas. Dana Perino, porta-voz da Casa Branca, disse depois que a informação era incorreta.
À tarde, na primeira coletiva da equipe de transição em Washington, o coordenador John Podesta confirmou que tanto o auxílio às montadoras quanto o tratado colombiano realmente fizeram parte da conversa entre os dois líderes, mas que "não houve toma-lá-dá-cá".
O vazamento do teor da conversa da qual participaram só os dois presidentes causou constrangimento entre as duas equipes, com a Casa Branca apontando o dedo para o pessoal da transição. "O senador Obama pode não estar familiarizado com a tradição antiga de os presidentes manterem privadas suas conversas", teria dito um assessor de Bush ao site conservador "Drudge Report".
Seja como for, a ameaça real de Bush dificultar a liberação dos US$ 25 bilhões já aprovados às montadoras e de restringir o uso dos US$ 700 bilhões ao mercado financeiro causou grita entre os democratas.
"O Congresso e o governo Bush têm de tomar ação imediata", disse a presidente do Congresso, Nancy Pelosi. "Quanto eles estão dando à [seguradora] AIG? US$ 150 bilhões? E nós estamos falando de US$ 25 bilhões que vão ajudar a principal indústria deste país", disse o deputado federal Sander Levin, de Michigan.
Pelosi sinalizou que a aprovação de mais ajuda às montadoras deve ser votada em sessão legislativa extraordinária na próxima semana e que "espera" que Bush apóie a medida.


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