São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Mediação do vizinho Irã gerou reviravolta em favor de Maliki

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

De derrotado a campeão.
Em oito meses de negociação nos bastidores, Nuri al Maliki reverteu a desvantagem imposta pelas urnas na eleição e conseguiu se manter como premiê -algo improvável até meses atrás.
Em vez de confirmar o favoritismo de Maliki, que tinha em mãos a máquina estatal e bons resultados na luta contra a violência, o pleito legislativo de março selou a ressurreição dos seus maiores adversários: os sunitas.
As urnas deixaram claro que a minoria sunita, mais organizada e coesa, estava insatisfeita com o governo, dominado por xiitas.
Iyad Allawi, um milionário xiita que chegou a integrar o partido Baath, do sunita Saddam Hussein, fez campanha acusando Maliki e aliados de governar para os xiitas.
Segundo Allawi, o aparato de segurança estava sendo usado como instrumento de vingança contra os sunitas, privilegiados sob Saddam.
O descontentamento dos sunitas, que votaram em peso, assegurou a vitória de Allawi contra Maliki, embora sem margem suficiente para compor um governo.
Maliki passou meses cortejando partidos curdos e rivais xiitas com o intuito de construir uma maioria.
Enquanto isso, Allawi manobrava para consolidar sua vantagem, com apoio implícito dos EUA e das monarquias do golfo.
Mas foram as amizades externas de Maliki que prevaleceram. O todo poderoso Irã, onde ele passou parte do exílio na era Saddam, convenceu o influente clérigo xiita rebelde Moqtada al Sadr a se reaproximar do premiê.
Ambos estavam rompidos desde que as forças do governo esmagaram um levante de milícias comandadas pelo clérigo em 2008.
Graças à mediação iraniana, Sadr e sua coalizão Aliança Nacional Iraquiana forneceram a Maliki as cadeiras que praticamente selaram a formação de governo.
Maliki devolveu a gentileza libertando combatentes pró-Sadr. Os curdos ajudaram a selar o jogo.
Allawi ficou encurralado, e os EUA tiveram de engolir a vitória xiita. O Irã se deleita.
Para amenizar o sentimento de injustiça vivido pelos sunitas, o governo terá um órgão de segurança nacional liderado por aliados de Allawi, que também chefiarão o fragmentado Parlamento.
O acerto na arena política tem desdobramentos incertos na batalha entre facções sectárias. Allawi não controla os rebeldes sunitas.


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