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ANÁLISE
Mediação do vizinho Irã gerou reviravolta em favor de Maliki
SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO
De derrotado a campeão.
Em oito meses de negociação nos bastidores, Nuri al
Maliki reverteu a desvantagem imposta pelas urnas na
eleição e conseguiu se manter como premiê -algo improvável até meses atrás.
Em vez de confirmar o favoritismo de Maliki, que tinha em mãos a máquina estatal e bons resultados na luta contra a violência, o pleito
legislativo de março selou a
ressurreição dos seus maiores adversários: os sunitas.
As urnas deixaram claro
que a minoria sunita, mais
organizada e coesa, estava
insatisfeita com o governo,
dominado por xiitas.
Iyad Allawi, um milionário
xiita que chegou a integrar o
partido Baath, do sunita Saddam Hussein, fez campanha
acusando Maliki e aliados de
governar para os xiitas.
Segundo Allawi, o aparato
de segurança estava sendo
usado como instrumento de
vingança contra os sunitas,
privilegiados sob Saddam.
O descontentamento dos
sunitas, que votaram em peso, assegurou a vitória de
Allawi contra Maliki, embora
sem margem suficiente para
compor um governo.
Maliki passou meses cortejando partidos curdos e rivais
xiitas com o intuito de construir uma maioria.
Enquanto isso, Allawi manobrava para consolidar sua
vantagem, com apoio implícito dos EUA e das monarquias do golfo.
Mas foram as amizades externas de Maliki que prevaleceram. O todo poderoso Irã,
onde ele passou parte do exílio na era Saddam, convenceu o influente clérigo xiita
rebelde Moqtada al Sadr a se
reaproximar do premiê.
Ambos estavam rompidos
desde que as forças do governo esmagaram um levante de
milícias comandadas pelo
clérigo em 2008.
Graças à mediação iraniana, Sadr e sua coalizão Aliança Nacional Iraquiana forneceram a Maliki as cadeiras
que praticamente selaram a
formação de governo.
Maliki devolveu a gentileza libertando combatentes
pró-Sadr. Os curdos ajudaram a selar o jogo.
Allawi ficou encurralado,
e os EUA tiveram de engolir a
vitória xiita. O Irã se deleita.
Para amenizar o sentimento de injustiça vivido pelos
sunitas, o governo terá um
órgão de segurança nacional
liderado por aliados de Allawi, que também chefiarão o
fragmentado Parlamento.
O acerto na arena política
tem desdobramentos incertos na batalha entre facções
sectárias. Allawi não controla os rebeldes sunitas.
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