São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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HOLOCAUSTO
Quantia corresponde a 4% da indenização que bancos suíços irão pagar às vítimas do nazismo
Sobreviventes no Brasil terão US$ 50 mi


OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local

Cerca de 1.300 judeus que sobreviveram aos campos de concentração nazistas e moram no Brasil deverão dividir indenização de US$ 50 milhões, parte de uma compensação a ser paga por bancos suíços às vítimas do Holocausto.
Em 13 de agosto, a União dos Bancos Suíços e grupos de sobreviventes do regime nazista chegaram a um acordo no qual as instituições se comprometeram a pagar uma indenização de US$ 1,25 bilhão aos judeus que foram detidos em campos de concentração.
Os bancos suíços reconheceram ter comprado do regime nazista alemão, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ouro pilhado de pessoas detidas em campos de concentração. Admitiram também ter se apropriado de recursos depositados por judeus em contas bancárias antes da guerra.
A reparação deverá ser dividida entre os sobreviventes do Holocausto espalhados pelo mundo. À comunidade brasileira, segundo pré-acordo firmado pelo Congresso Mundial Judaico, caberia 4% da reparação.
De acordo com Henry I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, as vítimas que moram em Israel receberiam 33% da verba, as norte-americanas teriam 25% e as argentinas, 7%, entre outras. A divisão não foi ainda oficializada.
"O Holocausto não foi somente o maior genocídio já praticado desde os princípios da civilização. Foi também o maior roubo da história da humanidade", disse o rabino Sobel à Folha.
Na próxima quarta-feira, 18 de novembro, o subsecretário de Estado para Assuntos Econômicos dos Estados Unidos, Stuart Eizenstat, um dos protagonistas no processo de reparação às vítimas dos nazistas, visitará o Brasil.
Eizenstat foi designado pelo presidente norte-americano, Bill Clinton, para fazer um relatório sobre as ligações entre os bancos suíços e o regime nazista.
Ele também impulsionou a assinatura do acordo com os bancos suíços, firmado em Nova York.
Mas Eizenstat não virá ao país para providenciar o pagamento da parcela destinada aos sobreviventes brasileiros.
Segundo Sobel, ele vai se reunir em São Paulo com membros da comissão criada pelo governo brasileiro em 97 para investigar se o Brasil também foi destinatário de recursos expropriados de judeus.
A comissão, subordinada ao Ministério da Justiça, tem até abril de 99 para concluir suas investigações e, caso comprove a existência dos recursos, propor uma solução.
"Existem indícios de que nazistas que se refugiaram no Brasil trouxeram bens roubados de judeus durante a Segunda Guerra", disse Sobel, que integra a comissão.
Para o rabino, Eizenstat pode contribuir com sua experiência à frente das investigações realizadas pelo governo norte-americano.
"Ele está prestando assessoria para diversas comissões semelhantes à brasileira", diz.
O destino final da indenização da União dos Bancos Suíços depende ainda de uma decisão a ser tomada pelo Congresso Mundial Judaico, associações de sobreviventes do Holocausto e outras entidades.
Segundo Ben Abraham, vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do Holocausto, que mora no Brasil, há três propostas em análise.
A primeira prevê a distribuição dos recursos entre todos os sobreviventes. Outros sugerem que a verba seja destinada às vítimas que se encontram em dificuldade financeira. E há ainda uma terceira vertente favorável a que os recursos sejam administrados por instituições filantrópicas.
"Não há, por enquanto, qualquer decisão tomada", afirmou Ben Abraham, 73, à Folha.
O rabino Sobel, que é membro da direção do Congresso Mundial Judaico, é favorável à distribuição dos recursos diretamente para as vítimas ou, no caso de não estarem mais vivas, a seus familiares mais próximos.
"É a melhor forma de garantir que as pessoas físicas serão beneficiadas pela indenização", afirmou.
Segundo ele, os judeus que puderem comprovar que possuíam dinheiro em bancos suíços na época da guerra deverão ser recompensados "em primeira mão".
"Mas sou a favor de que todos os sobreviventes dos campos de concentração recebam a sua parte", disse. Ele não soube dizer quando os recursos chegarão: "Demorará um pouco, mas o processo já está em andamento".



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