São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

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MEIO AMBIENTE

ONGs temem que eventual vazamento de petróleo polua o maior reservatório de água doce do planeta

Projeto de oleoduto da Rússia ameaça lago Baikal

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O futuro do lago Baikal, o maior reservatório de água doce do planeta, deverá ser decidido nas próximas semanas nos bastidores do Kremlin, em Moscou, visto que o governo russo estuda duas possíveis rotas para a passagem do futuro oleoduto do Extremo Oriente, que, quando concluído, ligará a Sibéria oriental ao oceano Pacífico e facilitará a exportação de petróleo sobretudo para os EUA.
Dois projetos estão sendo analisados pelas autoridades russas, ambos propostos pela gigante do petróleo Transneft -estatal que monopoliza a construção e a gestão de oleodutos na Rússia-, mas em momentos distintos.
O primeiro, que, até novembro, parecia ter atraído a preferência das autoridades, agrada aos ambientalistas, pois passa a mais de 100 km de distância do lago, não representando, segundo ONGs, risco iminente.
O segundo, cujas chances de ser escolhido ganharam força no mês passado, quando o Ministério dos Recursos Naturais russo admitiu examiná-lo "mais profundamente", passa a apenas 800 m do lago Baikal, gerando grave perigo.
O problema, de acordo com o Fundo Mundial para a Vida Selvagem, com o Greenpeace e com o Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais, é que, em caso de acidente ou de atentado contra o oleoduto na região da bacia do Baikal, até 4.000 toneladas de petróleo poderiam atingir o lago em cerca de 20 minutos, provocando uma "catástrofe natural sem precedentes na região".
"Os riscos para o lago Baikal, que faz parte do patrimônio da humanidade, segundo a Unesco, são inestimáveis. Ele é o maior reservatório de água doce do mundo, e até um pequeno vazamento, que atingiria suas águas rapidamente, poderia ser catastrófico", explicou à Folha Tatiana Serykh, responsável por políticas ambientais do escritório russo do Fundo Mundial para a Vida Selvagem.
De fato, ao mudar neste ano a proposta original feita ao governo, a Transneft prometeu fazer uso de tecnologia de ponta para assegurar a proteção do ecossistema regional, o que, para Michael Bradshaw, professor de geografia humana da Universidade de Leicester (Reino Unido), agradou às autoridades federais russas.
"Dois fatores pesam na análise oficial: o ambiente e o preço do projeto, que custará entre US$ 11 bilhões e US$ 17 bilhões. Se conseguir assegurar altos níveis de proteção ambiental, a Transneft terá grandes chances de ver aprovada sua mudança de traçado. Afinal, o novo desenho torna o projeto mais barato", avaliou Bradshaw.
Para Serykh, o preço do projeto constitui o fator determinante, razão pela qual o novo traçado da Transneft tem "fortes possibilidades de ser privilegiado" por Moscou. "O projeto mais seguro é mais caro porque atravessa uma região montanhosa. Porém a diferença de preço não é tão elevada."
"Deve-se ressaltar que um gasto um pouco mais alto no estágio da construção evitará enormes perdas financeiras e de reputação na fase da exploração. Afinal, um grande vazamento de petróleo e o pagamento de reparação às suas vítimas têm custos vultosos e imprevisíveis", acrescentou Serykh.
Segundo diplomatas russos ouvidos pela Folha, os ministérios e especialistas envolvidos no projeto deverão terminar suas avaliações até o final deste ano. Em seguida, uma decisão será tomada.


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