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MEIO AMBIENTE
ONGs temem que eventual vazamento de petróleo polua o maior reservatório de água doce do planeta
Projeto de oleoduto da Rússia ameaça lago Baikal
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O futuro do lago Baikal, o maior
reservatório de água doce do planeta, deverá ser decidido nas próximas semanas nos bastidores do
Kremlin, em Moscou, visto que o
governo russo estuda duas possíveis rotas para a passagem do futuro oleoduto do Extremo Oriente, que, quando concluído, ligará
a Sibéria oriental ao oceano Pacífico e facilitará a exportação de
petróleo sobretudo para os EUA.
Dois projetos estão sendo analisados pelas autoridades russas,
ambos propostos pela gigante do
petróleo Transneft -estatal que
monopoliza a construção e a gestão de oleodutos na Rússia-,
mas em momentos distintos.
O primeiro, que, até novembro,
parecia ter atraído a preferência
das autoridades, agrada aos ambientalistas, pois passa a mais de
100 km de distância do lago, não
representando, segundo ONGs,
risco iminente.
O segundo, cujas chances de ser
escolhido ganharam força no mês
passado, quando o Ministério dos
Recursos Naturais russo admitiu
examiná-lo "mais profundamente", passa a apenas 800 m do lago
Baikal, gerando grave perigo.
O problema, de acordo com o
Fundo Mundial para a Vida Selvagem, com o Greenpeace e com
o Fundo Internacional para o
Bem-Estar dos Animais, é que,
em caso de acidente ou de atentado contra o oleoduto na região da
bacia do Baikal, até 4.000 toneladas de petróleo poderiam atingir
o lago em cerca de 20 minutos,
provocando uma "catástrofe natural sem precedentes na região".
"Os riscos para o lago Baikal,
que faz parte do patrimônio da
humanidade, segundo a Unesco,
são inestimáveis. Ele é o maior reservatório de água doce do mundo, e até um pequeno vazamento,
que atingiria suas águas rapidamente, poderia ser catastrófico",
explicou à Folha Tatiana Serykh,
responsável por políticas ambientais do escritório russo do Fundo
Mundial para a Vida Selvagem.
De fato, ao mudar neste ano a
proposta original feita ao governo, a Transneft prometeu fazer
uso de tecnologia de ponta para
assegurar a proteção do ecossistema regional, o que, para Michael
Bradshaw, professor de geografia
humana da Universidade de Leicester (Reino Unido), agradou às
autoridades federais russas.
"Dois fatores pesam na análise
oficial: o ambiente e o preço do
projeto, que custará entre US$ 11
bilhões e US$ 17 bilhões. Se conseguir assegurar altos níveis de proteção ambiental, a Transneft terá
grandes chances de ver aprovada
sua mudança de traçado. Afinal, o
novo desenho torna o projeto
mais barato", avaliou Bradshaw.
Para Serykh, o preço do projeto
constitui o fator determinante, razão pela qual o novo traçado da
Transneft tem "fortes possibilidades de ser privilegiado" por Moscou. "O projeto mais seguro é
mais caro porque atravessa uma
região montanhosa. Porém a diferença de preço não é tão elevada."
"Deve-se ressaltar que um gasto
um pouco mais alto no estágio da
construção evitará enormes perdas financeiras e de reputação na
fase da exploração. Afinal, um
grande vazamento de petróleo e o
pagamento de reparação às suas
vítimas têm custos vultosos e imprevisíveis", acrescentou Serykh.
Segundo diplomatas russos ouvidos pela Folha, os ministérios e
especialistas envolvidos no projeto deverão terminar suas avaliações até o final deste ano. Em seguida, uma decisão será tomada.
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