São Paulo, quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

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ONU é alvo de ataque terrorista em Argel

Grupo Al Qaeda no Magreb reivindica atentados diante de prédios das Nações Unidas e do governo; mortos são dezenas

Militância terrorista no país, que qualificou as Nações Unidas de "QG dos infiéis", não tem a mesma origem dos homens de Bin Laden

DA REDAÇÃO

Duas explosões na capital argelina, Argel, deixaram ontem ao menos 60 mortos, segundo apuração das agências de notícias -número que transformaria os atentados nos mais sangrentos do país na última década. O Ministério do Interior da Argélia contou 26 mortos e ao menos 177 feridos, mas os trabalhos de resgate ainda não haviam se encerrado.
Os alvos dos ataques, reivindicados pela Al Qaeda no Magreb Islâmico, foram escritórios da ONU e do governo argelino. Apesar do nome, a origem da militância do grupo terrorista na Argélia não é a mesma dos responsáveis pelo 11 de Setembro (leia texto nesta página).
Em comunicado na internet, o grupo afirma que o ataque "recorda aos cruzados que ocupam nossa casa e usurpam nossas riquezas de que devem ouvir bem as exigências (...) do nosso emir, Osama bin Laden, senão as espadas dos mujahidin do Magreb Islâmico cairão sobre suas cabeças".
O texto, cuja autenticidade ainda não havia sido comprovada por fonte independente, revela os nomes dos suicidas que conduziram os dois carros-bomba: Abdul Rahman al Aasmi e Ami Ibrahim Abou Othman, os quais "golpearam os cruzados e seus agentes escravos dos EUA e filhos da França". O mesmo comunicado referia-se à ONU como "QG dos infiéis internacionais".
O ministro do Interior da Argélia, Noureddine Yazid Zerhouni, disse que os extremistas já tinham a ONU em mira.
A primeira explosão, ocorrida às 9h30 locais (6h30 no horário de Brasília) e separada da segunda por cerca de dez minutos, ocorreu no bairro de Hydra, que abriga embaixadas e residências de diplomatas e é permanentemente vigiado pela polícia. O ataque atingiu escritórios do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e do Acnur (agência da ONU para refugiados).
A porta-voz da ONU Marie Okabe informou em Nova York que ao menos 11 membros de sua equipe morreram e que ainda há vários desaparecidos.
O secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, condenou os atentados, qualificando-os de "inaceitáveis" e "injustificáveis". O ataque trouxe à memória o atentado de 2003 às instalações da instituição em Bagdá, quando foram mortas 22 pessoas, entre elas o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
A segunda explosão foi diante do Conselho Constitucional da Argélia, no bairro de Ben Aknoun. O conselho julga a constitucionalidade das leis argelinas e supervisiona as eleições no país. O impacto atingiu, entre veículos e pessoas nas redondezas, um ônibus escolar. Segundo o "New York Times", o veículo levava alunos da Universidade Ben Aknoun.
"Nós condenamos veementemente os ataques terroristas aos escritórios das Nações Unidas por esses inimigos da humanidade", declarou o presidente dos EUA, George W. Bush, que anunciou neste ano a abertura de um comando militar regional específico para a África, com o objetivo expresso de combater o terrorismo.
Nicolas Sarkozy, presidente da França, antiga metrópole da Argélia, também se manifestou, chamando os atentados de "odiosos e covardes".
Condenações e condolências partiram ainda da União Européia, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e do governo da Espanha. Desde 1992, quando o governo do país e o Exército uniram-se para invalidar uma eleição que seria vencida por radicais islâmicos, a Argélia foi palco de atentados freqüentes. Houve uma redução relativa dos ataques entre 1999 e o ano passado, mas este ano marcou o ressurgimento do terrorismo com força: atentados mataram mais de cem pessoas.


Com agências internacionais e o "New York Times"


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