São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Bomba mata ao menos 55 no Iraque

Terrorista explodiu caminhão em restaurante lotado em Kirkuk, pólo petroleiro disputado por curdos, xiitas e sunitas

Maioria das vítimas é civil; atentado ilustra a recente piora da segurança no país, e polícia vê tentativa de minar conciliação nacional

DA REDAÇÃO

Um atentado suicida deixou ontem pelo menos 55 mortos e 140 feridos em um restaurante lotado nos arredores de Kirkuk, cidade petrolífera no norte do Iraque disputada pelos três principais grupos étnico-religiosos do país -curdos, árabes xiitas e árabes sunitas.
O ataque, o pior no país desde junho, quando 63 pessoas morreram na explosão de um caminhão-bomba em Bagdá, ilustra o aumento da violência no Iraapós uma queda significativa nos últimos meses.
Segundo sobreviventes, um homem estacionou uma van na entrada do local e entrou sem ser revistado pelos seguranças, acionando em seguida os explosivos que levava no corpo.
A polícia afirma que os alvos eram líderes políticos e tribais que estavam reunidos no restaurante para discutir formas de amenizar as tensões em torno de Kirkuk, cidade com quase 1 milhão de habitantes e importante pólo petroleiro.
Os iraquianos de etnia curda querem anexar a cidade à vizinha região semi-autônoma do Curdistão, mas os árabes sunitas e xiitas -minoritários no norte do Iraque- temem perder acesso a parte da receita do petróleo e preferem preservar a autoridade do governo central de Bagdá sobre o local.
Os líderes que estavam no restaurante, entre os quais havia assessores do presidente iraquiano, o curdo Jalal Talabani, escaparam com ferimentos leves. Há relatos de que a reunião era a prévia de um encontro com Talabani marcado para pouco depois.
A maioria das vítimas do atentado era de civis reunidos em família para celebrar o último dia do feriado religioso do Eid al Adha -o local faz parte de uma conhecida rede de restaurantes que já foi alvo de ação semelhante em 2007.
Até o fechamento desta edição, nenhum grupo havia assumido a autoria do massacre.
Para a polícia, o atentado foi uma tentativa de minar a reconciliação iraquiana. A próspera Kirkuk é tida como um microcosmo das divisões no país, acirradas depois da queda do regime de Saddam Hussein, quando a maioria xiita (que perfaz 60% dos iraquianos) e os curdos (15%) ganharam voz após anos de repressão sob o ditador sunita (1979-2003).
O ataque também levanta questionamentos sobre a sustentabilidade da melhora observada no Iraque depois que o reforço de contingente americano, aliado à cooptação de ex-guerrilheiros sunitas, levou a uma queda da violência no país desde o ano passado.
Em dezembro de 2006, foram registrados 69 atentados com morte. Em outubro de 2008 o número tinha caído para 14. Mas, no mês passado, houve novo aumento, para 21.
A tendência se nota ainda no número de mortes em atentados: 708 em fevereiro de 2007; 102 em outubro deste ano e alta em novembro último -136.
O aumento da violência acirra o debate sobre o recém-acordado pacto entre Bagdá e a Casa Branca, que prevê a retirada dos 140 mil militares americanos em três anos. Analistas temem que a saída dos EUA abra espaço para uma guerra civil aberta entre facções locais.

Com agências internacionais



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