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Bomba mata ao menos 55 no Iraque
Terrorista explodiu caminhão em restaurante lotado em Kirkuk, pólo petroleiro disputado por curdos, xiitas e sunitas
Maioria das vítimas é civil; atentado ilustra a recente piora da segurança no país, e polícia vê tentativa de minar conciliação nacional
DA REDAÇÃO
Um atentado suicida deixou
ontem pelo menos 55 mortos e
140 feridos em um restaurante
lotado nos arredores de Kirkuk,
cidade petrolífera no norte do
Iraque disputada pelos três
principais grupos étnico-religiosos do país -curdos, árabes
xiitas e árabes sunitas.
O ataque, o pior no país desde
junho, quando 63 pessoas morreram na explosão de um caminhão-bomba em Bagdá, ilustra
o aumento da violência no Iraapós uma queda significativa
nos últimos meses.
Segundo sobreviventes, um
homem estacionou uma van na
entrada do local e entrou sem
ser revistado pelos seguranças,
acionando em seguida os explosivos que levava no corpo.
A polícia afirma que os alvos
eram líderes políticos e tribais
que estavam reunidos no restaurante para discutir formas
de amenizar as tensões em torno de Kirkuk, cidade com quase
1 milhão de habitantes e importante pólo petroleiro.
Os iraquianos de etnia curda
querem anexar a cidade à vizinha região semi-autônoma do
Curdistão, mas os árabes sunitas e xiitas -minoritários no
norte do Iraque- temem perder acesso a parte da receita do
petróleo e preferem preservar a
autoridade do governo central
de Bagdá sobre o local.
Os líderes que estavam no
restaurante, entre os quais havia assessores do presidente
iraquiano, o curdo Jalal Talabani, escaparam com ferimentos
leves. Há relatos de que a reunião era a prévia de um encontro com Talabani marcado para
pouco depois.
A maioria das vítimas do
atentado era de civis reunidos
em família para celebrar o último dia do feriado religioso do
Eid al Adha -o local faz parte
de uma conhecida rede de restaurantes que já foi alvo de ação
semelhante em 2007.
Até o fechamento desta edição, nenhum grupo havia assumido a autoria do massacre.
Para a polícia, o atentado foi
uma tentativa de minar a reconciliação iraquiana. A próspera Kirkuk é tida como um
microcosmo das divisões no
país, acirradas depois da queda
do regime de Saddam Hussein,
quando a maioria xiita (que
perfaz 60% dos iraquianos) e os
curdos (15%) ganharam voz
após anos de repressão sob o ditador sunita (1979-2003).
O ataque também levanta
questionamentos sobre a sustentabilidade da melhora observada no Iraque depois que o
reforço de contingente americano, aliado à cooptação de ex-guerrilheiros sunitas, levou a
uma queda da violência no país
desde o ano passado.
Em dezembro de 2006, foram registrados 69 atentados
com morte. Em outubro de
2008 o número tinha caído para 14. Mas, no mês passado,
houve novo aumento, para 21.
A tendência se nota ainda no
número de mortes em atentados: 708 em fevereiro de 2007;
102 em outubro deste ano e alta
em novembro último -136.
O aumento da violência acirra o debate sobre o recém-acordado pacto entre Bagdá e a Casa
Branca, que prevê a retirada
dos 140 mil militares americanos em três anos. Analistas temem que a saída dos EUA abra
espaço para uma guerra civil
aberta entre facções locais.
Com agências internacionais
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