São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Celso Amorim esnoba enviado de Obama

Reunião com chefe da diplomacia dos EUA para América Latina fica a cargo de Marco Aurélio Garcia, não do chanceler brasileiro

Entendimento do Itamaraty é o de que hierarquicamente Amorim deveria receber apenas a chefe de Arturo Valenzuela, Hillary Clinton


Mark Wilson/Getty Images/France Presse
A secretária de Estado Hillary Clinton participa de evento sobre a diplomacia dos EUA para a América Latina, em Washington

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Em mais um capítulo do embate entre Brasil e EUA, o responsável por América Latina de Washington não será recebido na segunda-feira pelo chanceler Celso Amorim. Falará com o assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, e com o sub de Amorim, Antônio Patriota.
Segundo a Folha apurou, isso foi visto como um recado pelos americanos. Em um momento em que o contencioso entre Brasil e EUA chega a graus elevados, com divergências que vão do apoio ao governo pós-golpe de Honduras à recepção calorosa de Lula ao presidente do Irã, o secretário-assistente de Estado para hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, esperava mais.
Nas últimas semanas, o Brasil e os EUA bateram de frente. Congressistas reclamaram da recepção ao presidente iraniano, e o próprio Barack Obama enviou uma carta a Lula no fim de novembro elencando os temas de divergência entre os países. Ninguém menos que Marco Aurélio Garcia disse que o tom do texto causou "decepção". O próprio Amorim havia cobrado "maior franqueza" dos EUA com a região.
Garcia é a ponta de lança da diplomacia de Lula para a América Latina fora do escopo do Itamaraty, o que geralmente gera desconforto pela retórica ideológica do assessor. Ele se alinha ao antiamericanismo presente em setores da gestão Amorim, mas, por não ser diplomata, escapa dos ritos de contato entre países. A conversa deverá ser franca.
A versão do Itamaraty é a de que hierarquicamente Amorim só deveria receber a chefe de Valenzuela, Hillary Clinton. No órgão, o americano irá encontrar-se com o sub do chanceler, Antônio Patriota.
Ainda assim, americanos creem que a conversa pode servir para amainar as tensões. A agenda com Garcia, contudo, é a mesma enumerada na carta de Obama: Irã, Honduras e mudanças climáticas.
No primeiro quesito, a polêmica visita do presidente Mahmoud Ahmadinejad ainda não foi digerida pelos americanos. Oficialmente, todos dizem que os EUA pediram ao Brasil para agir como mediador neutro na disputa sobre o programa nuclear de Teerã. Para os EUA e para a ONU, ele esconde más intenções -ou seja, a bomba.
O Brasil isentou-se da votação condenando o Irã no tema. Lula recebeu Ahmadinejad e defendeu seu programa nuclear. Os EUA querem saber de que lado Brasília está.
Sobre Honduras, país cuja solução eleitoral para o golpe foi considerada satisfatória para os EUA, a questão vai ser tentar mudar a posição brasileira -que não reconhece o governo eleito sucessor do deposto Manuel Zelaya.
Sobre clima, a discussão será mais formalista, já que os negociadores estão em Copenhague. Um último tema da visita de Valenzuela será discutido não com Garcia, mas com o ministro Nelson Jobim (Defesa). Ele irá reforçar o lobby pela Boeing na licitação brasileira para a compra de 36 caças.


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