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Celso Amorim esnoba enviado de Obama
Reunião com chefe da diplomacia dos EUA para América Latina fica a cargo de Marco Aurélio Garcia, não do chanceler brasileiro
Entendimento do Itamaraty é o de que hierarquicamente Amorim deveria receber apenas a chefe de Arturo Valenzuela, Hillary Clinton
Mark Wilson/Getty Images/France Presse
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A secretária de Estado Hillary Clinton participa de evento sobre a diplomacia dos EUA para a América Latina, em Washington
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em mais um capítulo do embate entre Brasil e EUA, o responsável por América Latina
de Washington não será recebido na segunda-feira pelo chanceler Celso Amorim. Falará
com o assessor internacional
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, Marco Aurélio Garcia,
e com o sub de Amorim, Antônio Patriota.
Segundo a Folha apurou, isso foi visto como um recado pelos americanos. Em um momento em que o contencioso
entre Brasil e EUA chega a
graus elevados, com divergências que vão do apoio ao governo pós-golpe de Honduras à recepção calorosa de Lula ao presidente do Irã, o secretário-assistente de Estado para hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, esperava mais.
Nas últimas semanas, o Brasil e os EUA bateram de frente.
Congressistas reclamaram da
recepção ao presidente iraniano, e o próprio Barack Obama
enviou uma carta a Lula no fim
de novembro elencando os temas de divergência entre os
países. Ninguém menos que
Marco Aurélio Garcia disse que
o tom do texto causou "decepção". O próprio Amorim havia
cobrado "maior franqueza" dos
EUA com a região.
Garcia é a ponta de lança da
diplomacia de Lula para a
América Latina fora do escopo
do Itamaraty, o que geralmente
gera desconforto pela retórica
ideológica do assessor. Ele se
alinha ao antiamericanismo
presente em setores da gestão
Amorim, mas, por não ser diplomata, escapa dos ritos de
contato entre países. A conversa deverá ser franca.
A versão do Itamaraty é a de
que hierarquicamente Amorim
só deveria receber a chefe de
Valenzuela, Hillary Clinton.
No órgão, o americano irá encontrar-se com o sub do chanceler, Antônio Patriota.
Ainda assim, americanos
creem que a conversa pode servir para amainar as tensões. A
agenda com Garcia, contudo, é
a mesma enumerada na carta
de Obama: Irã, Honduras e mudanças climáticas.
No primeiro quesito, a polêmica visita do presidente Mahmoud Ahmadinejad ainda não
foi digerida pelos americanos.
Oficialmente, todos dizem que
os EUA pediram ao Brasil para
agir como mediador neutro na
disputa sobre o programa nuclear de Teerã. Para os EUA e
para a ONU, ele esconde más
intenções -ou seja, a bomba.
O Brasil isentou-se da votação condenando o Irã no tema.
Lula recebeu Ahmadinejad e
defendeu seu programa nuclear. Os EUA querem saber de
que lado Brasília está.
Sobre Honduras, país cuja
solução eleitoral para o golpe
foi considerada satisfatória para os EUA, a questão vai ser
tentar mudar a posição brasileira -que não reconhece o governo eleito sucessor do deposto Manuel Zelaya.
Sobre clima, a discussão será
mais formalista, já que os negociadores estão em Copenhague. Um último tema da visita
de Valenzuela será discutido
não com Garcia, mas com o ministro Nelson Jobim (Defesa).
Ele irá reforçar o lobby pela
Boeing na licitação brasileira
para a compra de 36 caças.
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