São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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MOBILIZAÇÃO

Rumsfeld assina ordens que ampliam presença militar no golfo Pérsico; efetivos devem passar de 150 mil

EUA enviam mais 62 mil para ação no Iraque

Juergen Schwarz/Reuters
Soldados norte-americanos se preparam para entrar em avião na base aérea de Spangdahlem (Alemanha) rumo ao golfo Pérsico


DA REDAÇÃO

Os efetivos militares que os Estados Unidos estão reunindo na região do golfo Pérsico estarão em condições de atacar o Iraque entre meados e o final de fevereiro. A força norte-americana deverá em breve exceder 150 mil homens, entre soldados, marinheiros e fuzileiros navais, informaram militares norte-americanos.
Menos da metade desse contingente se encontra atualmente no golfo. Mas o secretário da Defesa, Donald H. Rumsfeld, já assinou três ordens determinando o deslocamento de grandes efetivos. Entre sexta-feira à noite e sábado, assinou duas ordens que mandam 62 mil homens para a região. A outra ordem, enviando 25 mil militares, havia sido assinada no dia 24 de dezembro.
O mais recente deslocamento, ordenado no sábado, envolve 27 mil homens e inclui milhares de marines, uma brigada aerotransportada de infantaria do Exército, um esquadrão de caças furtivos ("invisíveis" a radares) F-117 Nighthawk da Força Aérea e dois esquadrões de caças anti-radares F-16CJ. Na sexta-feira à noite, uma outra ordem havia determinado o envio de 35 mil militares, a metade deles marines.
Até recentemente, a reunião de tropas visava principalmente a levar para a região equipamento, munição e suprimentos bem como especialistas em logística e comando. Na semana passada, o Comando Central dos EUA, com sede em Tampa (Flórida), enviou para o golfo uma vanguarda de mil homens para operar o que deverá ser o QG de guerra em Qatar.
Reunir forças em países como Kuait, Qatar, Omã, Arábia Saudita e talvez a Turquia levará ainda várias semanas. Nos próximos dias, navios vão começar a carregar tanques do Exército em Savannah (Geórgia) e mísseis antimísseis Patriot em Beaumont (Texas) para levá-los ao golfo.
"Entre meados e final de fevereiro, estaremos em nossas melhores condições de oferecer ao presidente opções de resposta imediatas e versáteis", disse um importante oficial ao jornal "The New York Times".
Apesar de aliados europeus dos EUA terem dado sinais de que farão tudo para retardar uma possível ofensiva contra o Iraque para dar mais tempo aos inspetores da ONU para completar seu trabalho, o general Tommy Franks, comandante das forças dos EUA no golfo, esteve com o presidente Bush na Casa Branca na quarta-feira e o informou da movimentação de tropas e de qual deve ser a estratégia militar de Bagdá.
Na condição de anonimato, oficiais dizem que uma ofensiva antes de meados de fevereiro apresentaria problemas. A maior parte da força principal de combate deve chegar à região no final de janeiro, mas os comandantes gostariam de dispor de algum tempo para preparar suas unidades no deserto antes de atacar.
Existem dificuldades diplomáticas, como convencer a Turquia a permitir que milhares de soldados dos EUA lancem uma ofensiva terrestre a partir de bases em seu território.

Peregrinos
Outro complicador para um ataque antes de meados de fevereiro é o "hajj", a peregrinação anual a Meca, na Arábia Saudita. Espera-se que 2 milhões de muçulmanos participem das cerimônias neste ano, que têm seu ápice justamente em meados de fevereiro. Apesar de Meca ficar afastada da zona de guerra, militares dos EUA temem um desastre de marketing se lançarem a ofensiva durante o "hajj".
Segundo os militares o período mais favorável à guerra é uma curta janela entre meados de fevereiro e o começo de abril. "Se você for depois de março, pode pegar um clima quente de verdade", diz o general da reserva Anthony Zinni, dos marines. "E quanto tempo você pode manter os homens lá, antes que o calor comece a afetar o treinamento e o moral? É muito custoso", completa.
Oficiais do Pentágono dizem que, se George W. Bush ordenar um ataque, seria necessária uma força de 250 mil homens, a metade do número que participou da Guerra do Golfo em 1991. Mas eles dizem que a ofensiva, em seus primeiros momentos, poderia ser travada com uma força menor, com o restante dos homens permanecendo em reserva.

Inspeções
No Iraque, inspetores visitaram ontem pelo menos oito diferentes locais em busca de armas proibidas. Bagdá voltou a acusar o pessoal da ONU de espionagem.
O general Amer al Saadi, conselheiro de Saddam Hussein, disse que o que os inspetores da ONU fazem no Iraque são "provocações", com perguntas próprias de serviços de inteligência.
"As provocações continuam todos os dias", declarou Saadi num encontro com uma delegação de franceses que se opõem à guerra. Segundo Saadi, os inspetores estão "recolhendo informação" nos lugares visitados que nada têm a ver com a fabricação ou com o armazenamento de armas de destruição em massa.
O Iraque já havia se queixado do trabalho dos inspetores no último dia 6, acusando-os de espionar para os EUA.
No próximo dia 27, os inspetores devem apresentar ao Conselho de Segurança da ONU um informe sobre os primeiros meses de inspeção. Na semana passada, o inspetor-chefe Hans Blix anunciou que seus homens não encontraram nenhuma violação flagrante, mas que a declaração de armas apresentada pelo Iraque apresenta sérias lacunas.


Com agências internacionais e "The New York Times"


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