São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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LUTA PELO PODER

Líder supremo diz que só agirá se não houver acordo

Linha dura ameaça o futuro do Irã, dizem reformistas

DA REDAÇÃO

Políticos reformistas iranianos acusaram ontem seus adversários conservadores de ameaçar o futuro do país, enquanto mais deputados aderiram ao protesto dos reformistas contra a decisão do Conselho de Guardiães de impedir que mais de 3.000 candidatos reformistas concorram a postos no Parlamento na eleição que ocorrerá no próximo mês.
Mas autoridades disseram que uma solução consensual poderá ser encontrada. O presidente do Irã, o reformista Mohammad Khatami, disse que a decisão do Conselho de Guardiães, órgão que zela pelo respeito da Constituição no Irã, deixa o país aberto a críticas internacionais.
O aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã (a quem caberá a decisão final se nenhum acordo for feito), afirmou que só cuidará do assunto se os conservadores e os reformistas não conseguirem chegar a uma solução consensual.
"Se a questão não for resolvida na Justiça e vier a se tornar tão sensível que uma decisão do líder se torne necessária, agiremos com base em nossas responsabilidades", afirmou Khamenei, segundo a rádio estatal.
Em visita ao Irã, Javier Solana, que comanda a política externa da União Européia, criticou a decisão do Conselho de Guardiães e disse que seria difícil explicá-la a líderes políticos europeus.
Os reformistas lutam por sua sobrevivência política e fazem um protesto no Parlamento. Crê-se que cem deputados participem do ato. Eles passaram a noite numa das salas do Majlis (Parlamento). Há ainda outros protestos.
"Os conservadores estão abrindo caminho para os inimigos que querem mostrar que o Estado islâmico é despótico. Aqueles que dizem que defendem o sistema islâmico, mas ignoram o papel vital do povo, estão ameaçando a República Islâmica do Irã", afirmou, em declaração escrita, a Liga dos Clérigos Combatentes, ligada a Khatami, de acordo com a agência de notícias Irna.
Khatami e o presidente do Parlamento, Mehdi Karroubi, vão discutir o caso com os 12 membros do Conselho de Guardiães (todos apontados por Khamenei). Karroubi disse crer na possibilidade de que um acordo seja feito e pediu calma aos deputados que participam do protesto. Ao menos 80 deputados reformistas tiveram sua candidatura banida pelo Conselho de Guardiães.

Apelação
Os reformistas também podem entrar com recurso no próprio Conselho de Guardiães ou buscar o adiamento da eleição, marcada para 20 de fevereiro.
Porém, de acordo com especialistas, há poucas chances de o Conselho de Guardiães mudar de idéia ao analisar um eventual recurso dos reformistas. Para os analistas, se a decisão for alterada, isso ocorrerá por conta das negociações entre Khatami e os 12 membros do órgão.
Segundo a Irna, o Conselho de Guardiães analisou 8.200 pedidos de candidatura. Mais de 3.000 foram invalidadas pelo órgão, o que deu início aos protestos dos reformistas. Estes dominam o Parlamento atualmente.
O aiatolá Hossein Ali Montazeri, o mais importante clérigo dissidente iraniano, condenou a decisão do Conselho de Guardiães. "Fico muito triste quando vejo que o Conselho de Guardiães se tornou um órgão que viola os direitos da nação ao banir a candidatura dessas pessoas [os reformistas]", afirmou Montazeri, em carta enviada a um partido reformista.


Com agências internacionais


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