São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

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Espanha detém Isabelita Perón a pedido de argentino

Ex-presidente foi solta 2 horas após se apresentar a juiz, mas pode ser extraditada

Acusada de envolvimento em desaparecimento de jovem durante seu governo, viúva e sucessora de Perón vive na Espanha desde 1981

Reuters
Isabelita Perón acena durante visita a Buenos Aires, em 1989


BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

A ex-presidente da Argentina e viúva do general Juan Domingo Perón, María Estela Martínez de Perón, 75, a Isabelita, foi presa na noite de ontem em Madri, onde vive desde 1981, por ordem de captura internacional emitida pela Justiça argentina. Duas horas depois, porém, foi posta em liberdade pela Justiça espanhola, que, por entender que não há risco de fuga, estipulou que ela continue em casa e se apresente a cada 15 dias a um juiz enquanto correr o processo que decidirá sobre sua eventual extradição para a Argentina.
A ordem de captura, transmitida à Interpol, foi dada por um juiz federal da Província argentina de Mendoza em processo que julga o desaparecimento de um jovem de 26 anos e o seqüestro de outro de 17 anos, ocorridos 14 dias antes do golpe militar que depôs Isabelita e deu início à última ditadura (1976-1983).
A ex-presidente é acusada de repressão ilegal e cumplicidade com o terrorismo de Estado. Em seu governo (1974-1976), foram editados três decretos para reprimir a subversão, que, para a Justiça, poderiam ser a causa de abusos praticados ainda no período democrático. Dois ex-ministros e um ex-presidente do Senado que assinaram os decretos em 1975 também estão sendo processados na Argentina.
Os textos autorizaram as Forças Armadas a "executar as operações militares e de segurança" que fossem "necessárias para aniquilar a ação dos subversivos". Atílio Neira, advogado de Isabelita, argumenta que os decretos não falam de "aniquilar ações subversivas" e não "subversivos", e diz que a ex-presidente é também "vítima".
Ontem, Isabelita foi conduzida à presença de um juiz espanhol, que lhe informou os motivos de sua prisão. Para libertá-la, o juiz considerou ainda sua idade e seu estado de saúde.
Na Argentina, a Justiça temia que ela, apesar de ser facilmente encontrada em sua casa em Madri, fugisse. Mas a extradição, segundo especialistas, pode levar tempo ou até deixar de acontecer, se confirmado que ela tem cidadania espanhola.
Isabelita já tinha estado detida em prisão domiciliar na Argentina, logo após o golpe, por cerca de cinco anos. Foi solta em 1981, quando se exilou na Espanha.

Kirchner detido
Segundo o jornal "Clarín", o presidente Néstor Kirchner, que pertence ao Partido Justicialista (ou peronista), mencionou anteontem que foi detido duas vezes durante o governo de Isabelita (em outubro de 1974 e em janeiro de 1976). O presidente disse que prender Isabelita era uma decisão da Justiça e que "não pode haver impunidade para ninguém". "Se os juízes entendem que houve terrorismo de Estado antes do golpe militar de 1976, seus responsáveis também deverão ser julgados."
A ação da Justiça contra a ex-presidente só ocorre, na opinião de analistas, porque os juízes sabem que ela agrada ao governo.
No fim de dezembro, a Justiça argentina decidiu que os crimes cometidos pela organização terrorista de ultradireita Triple A (Aliança Anticomunista Argentina) sob o governo de Isabelita são atos de terrorismo de Estado e delitos contra a humanidade. Embora não seja ré nesse processo, a ex-presidente deve ser intimada a depor. O chefe do grupo era seu ministro mais poderoso, José López Rega (Bem-Estar Social), morto em 1989.
Ex-bailarina, vice-presidente de Perón, Isabelita se tornou a primeira mulher a presidir um país latino-americano com a morte do marido, em 1974. Despreparada, abriu espaço para o avanço dos militares.


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