São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009

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Bush vê retórica como seu maior erro

Na última entrevista coletiva após 8 anos no cargo, presidente dos EUA defende suas ações, mas lamenta discurso

Republicano se arrepende da faixa "Missão Cumprida" no Iraque e diz que Abu Ghraib e inexistência de armas foram "decepções"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A retórica, mais do que a ação, é do que se arrepende o mais mal avaliado presidente da história recente dos Estados Unidos, que deixa o cargo em uma semana. Em sua última entrevista coletiva no posto, concedida na manhã de ontem, em Washington, o republicano George W. Bush, que deixa a Casa Branca na próxima terça, disse que se arrependia de parte do que falou em seus oito anos à frente do país.
"Obviamente, parte de minha retórica foi um erro", disse o ainda presidente, num encontro de pouco menos de uma hora com os setoristas da Casa Branca. "Claramente, colocar "Missão Cumprida" num porta-aviões foi um erro", afirmou, quando indagado sobre qual o maior erro que cometeu no cargo, referindo-se à faixa que enfeitava a embarcação em que declarou o fim dos combates principais no Iraque, em 2003 -a guerra dura até hoje.
Só depois juntaria aos erros que julga ter cometido sua reação tíbia ao furacão Katrina, em 2005, que matou pelo menos 1.800 pessoas no sul pobre do país, e sua decisão de forçar uma reforma do sistema de Previdência social logo após sua reeleição, em 2004. Quanto ao primeiro erro, tentou-se justificar parcialmente.
Disse que não mandou o avião presidencial pousar na área afetada para não atrapalhar o trabalho dos policiais no resgate. O furacão atingiu o continente no dia 23 de agosto de 2005. Bush sobrevoou a região oito dias depois -a foto do presidente observando a destruição da janela do Air Force One e a milhares de metros de altura virou um símbolo da desconexão de seu governo com a realidade da população.

Decepções
O escândalo dos abusos cometidos por soldados norte-americanos na prisão de Abu Ghraib, que manchou a imagem dos EUA no mundo? A ausência de armas de destruição em massa no Iraque, justificativa principal do governo para uma invasão que já custa a vida de 4.500 soldados norte-americanos e dezenas de milhares de civis iraquianos? "Grande decepção" e "decepção significativa", respectivamente.
No encontro, Bush disse ainda não concordar com a afirmação de que a imagem do país no mundo sai arranhada por sua passagem. "Pode estar danificada entre parte da elite", afirmou, "mas as pessoas ainda percebem que que os EUA significam liberdade, que esse é o país que dá esperança".
Descontraído, ele abriria sua fala propositalmente com um "bushismo", como ficaram conhecidas suas escorregadelas verbais. "Algumas vezes vocês me "misunderestimated'", brincou, juntando as palavras em inglês "misunderstood" (mal-entendido) e "underestimated" (subestimado).


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