São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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Presos pelos quais Brasil intercedeu são julgados

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Sete líderes da fé Bahá'i foram levados ontem a uma corte de Teerã para o início de um julgamento que tem sido criticado por EUA e UE e que grupos de direitos humanos consideram uma demonstração da perseguição sofrida pela minoria religiosa no Irã.
Embora o governo brasileiro não tenha se pronunciado publicamente, o Itamaraty confirmou à Folha que manteve contato com o governo iraniano em prol dos líderes.
Em sua recente passagem pelo Cairo, o chanceler Celso Amorim revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abordou o tema dos Bahá'i no encontro que teve em Brasília com o colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Apesar dos apelos, o Irã decidiu levar adiante o julgamento, que não tem data para terminar e ocorre num momento de grave tensão entre governo e oposição, na esteira dos protestos após a reeleição do presidente, em junho último.
O julgamento dos líderes Bahá'i, presos em março e maio de 2008, tem sido afetado diretamente pelas turbulências atuais. Temendo retaliações, a Nobel da Paz Shirin Ebadi, que era a advogada de defesa, não volta ao Irã desde a eleição.
O Irã acusa os líderes Bahá'i de conspiração contra o Estado, espionagem para Israel, blasfêmia contra o islã e "corrupção na terra", este último punível com a pena capital.
Há duas semanas, mais 13 bahá'is foram detidos durante as manifestações contra o regime ocorridas na Ashura, data sagrada para os xiitas.
O procurador-geral do Irã, Abbas Ja'afari Dowlatabadi, rejeitou as alegações de perseguição religiosa e disse que a prisão foi por crimes contra a segurança, entre eles insuflar os protestos e acumular armas.
O secretário-geral da Comunidade Bahá'i Internacional, Albert Lincoln, garante que as acusações são fabricadas. Da cidade israelense de Haifa, onde fica o Centro Mundial Bahá'i, disse que não faz sentido usar a localização para justificar a acusação de espionagem.
"Nossa única ligação com Israel é o centro estar aqui", disse Lincoln. "E isso é resultado da expulsão do fundador da fé Bahá'i da Pérsia [atual Irã], no século 19". Fundada pelo persa Bahá'u'lláh em 1863, a fé Bahá'i é uma religião monoteísta com escrituras próprias e 6 milhões de seguidores em 178 países.
Iradj Roberto Eghrari, um dos líderes da comunidade Bahá'i no Brasil, elogiou a intercessão do governo, mas disse que é preciso mais.
"Não somos contra a aproximação [Brasil-Irã], mas não pode ser a qualquer custo", disse Eghrari, que está visitando Israel. "O presidente Lula sabe o que é ser preso sem acusação. O Brasil tem força para exigir do Irã um Estado de Direito."


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