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Presos pelos quais Brasil intercedeu são julgados
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Sete líderes da fé Bahá'i foram levados ontem a uma corte
de Teerã para o início de um
julgamento que tem sido criticado por EUA e UE e que grupos de direitos humanos consideram uma demonstração da
perseguição sofrida pela minoria religiosa no Irã.
Embora o governo brasileiro
não tenha se pronunciado publicamente, o Itamaraty confirmou à Folha que manteve contato com o governo iraniano
em prol dos líderes.
Em sua recente passagem
pelo Cairo, o chanceler Celso
Amorim revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
abordou o tema dos Bahá'i no
encontro que teve em Brasília
com o colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Apesar dos apelos, o Irã decidiu levar adiante o julgamento,
que não tem data para terminar e ocorre num momento de
grave tensão entre governo e
oposição, na esteira dos protestos após a reeleição do presidente, em junho último.
O julgamento dos líderes Bahá'i, presos em março e maio
de 2008, tem sido afetado diretamente pelas turbulências
atuais. Temendo retaliações, a
Nobel da Paz Shirin Ebadi, que
era a advogada de defesa, não
volta ao Irã desde a eleição.
O Irã acusa os líderes Bahá'i
de conspiração contra o Estado, espionagem para Israel,
blasfêmia contra o islã e "corrupção na terra", este último
punível com a pena capital.
Há duas semanas, mais 13
bahá'is foram detidos durante
as manifestações contra o regime ocorridas na Ashura, data
sagrada para os xiitas.
O procurador-geral do Irã,
Abbas Ja'afari Dowlatabadi, rejeitou as alegações de perseguição religiosa e disse que a prisão foi por crimes contra a segurança, entre eles insuflar os
protestos e acumular armas.
O secretário-geral da Comunidade Bahá'i Internacional,
Albert Lincoln, garante que as
acusações são fabricadas. Da
cidade israelense de Haifa, onde fica o Centro Mundial Bahá'i, disse que não faz sentido
usar a localização para justificar a acusação de espionagem.
"Nossa única ligação com Israel é o centro estar aqui", disse
Lincoln. "E isso é resultado da
expulsão do fundador da fé Bahá'i da Pérsia [atual Irã], no século 19". Fundada pelo persa
Bahá'u'lláh em 1863, a fé Bahá'i
é uma religião monoteísta com
escrituras próprias e 6 milhões
de seguidores em 178 países.
Iradj Roberto Eghrari, um
dos líderes da comunidade Bahá'i no Brasil, elogiou a intercessão do governo, mas disse
que é preciso mais.
"Não somos contra a aproximação [Brasil-Irã], mas não
pode ser a qualquer custo", disse Eghrari, que está visitando
Israel. "O presidente Lula sabe
o que é ser preso sem acusação.
O Brasil tem força para exigir
do Irã um Estado de Direito."
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