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Democracia perde espaço no mundo
Relatório 2010 da americana Freedom House aponta declínio de liberdades pelo quarto ano seguido
É o maior período de queda em quase 4 décadas; região mais repressora é o Oriente Médio, maior perda ocorreu na África, e Brasil é país livre
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Uma erosão global das liberdades individuais: é o que
aponta o relatório 2010 da organização Freedom House sobre a situação da democracia
mundial, divulgado ontem. Segundo o estudo, o último ano
foi o quarto consecutivo em
que as perdas de direitos civis e
políticos no mundo foi mais
forte do que os ganhos -é o período mais longo de declínio
democrático na história do estudo anual, feito desde 1972.
Ao longo de 2009, nada menos que 40 países na África, na
América Latina, no Oriente
Médio e da antiga União Soviética apresentaram perdas segundo os critérios de liberdades da organização.
Irã, Rússia, China e Venezuela são vistos como países influentes que aumentaram o autoritarismo. A África subsaariana é a região que sofreu mais
perdas -15 países registraram
piora, com quatro golpes de Estado. Mas a deterioração mais
profunda ocorreu em países da
antiga União Soviética.
Jake Dizard, um dos editores
da Freedom House, afirmou à
Folha que "não há uma razão
única para a atual recessão democrática, mas é possível notar
que a circunscrição de espaços
democráticos e endurecimento
de atitudes em Estados-chave
causaram efeito dominó em
Estados secundários". "Isso
ocorreu com vários países da
antiga União Soviética, cuja
tendência dos últimos anos ao
autoritarismo se deve ao menos em parte ao cerco à pluralidade política e ao espaço democrático na Rússia."
A Freedom House classifica
194 países e 14 territórios como
"livres", "parcialmente livres"
ou "não livres". Vários países
criticam suas conclusões, como
Cuba, o único "não livre" nas
Américas. A organização recebe doações de vários governos,
inclusive dos EUA.
América Latina
Nas Américas, a Freedom
House observou "retrocessos
significativos" no último ano,
especialmente na América
Central. Se o Brasil manteve
sua condição de país livre, Honduras (onde um golpe depôs o
presidente Manuel Zelaya,
abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde setembro), Venezuela, Guatemala e Nicarágua tiveram queda.
Dizard diz que o golpe hondurenho "foi uma surpresa, o
que é bom sinal, mas também
foi uma constatação de complacência -pensávamos que a democracia latino-americana estava mais consolidada do que
está". Mas, segundo ele, "Honduras é um país com fragilidades específicas, no qual a política ainda é um jogo das elites".
A deposição de Zelaya fez
ainda com que o país perdesse o
status de "democracia eleitoral" (que obedece a critérios de
multipartidarismo, sufrágio
universal, liberdade de imprensa e segurança de voto). O número de países que detêm esse
status caiu de 119 para 116, o
menor desde 1995, com as perdas também de Níger, Moçambique e Madagascar. As Maldivas foram admitidas na lista.
Ainda na América Latina, Dizard destaca a questão da Venezuela. "Não queremos exagerar
a influência venezuelana, mas
há líderes na região -Daniel
Ortega, na Nicarágua, é um
bom exemplo- que já têm inclinação à centralização e que
se sentem encorajados pela habilidade de Hugo Chávez em
manter seu projeto de poder."
Para a Freedom House, os
"piores dentre os piores" são
Coreia do Norte, Mianmar, Somália, Sudão, Guiné Equatorial, Eritreia, Líbia, (o território
do) Tibete, Turcomenistão e
Uzbequistão. China e Cuba estão logo a seguir na escala de repressão da organização.
Já no Oriente Médio, tido como a região mais repressora do
mundo, três países -Iêmen,
Jordânia e Bahrein- que haviam evoluído no índice voltaram a cair de "parcialmente livres" para "não livres". No Iraque e no Líbano, a situação melhorou.
Foi destacada também a situação no Irã, onde protestos
contra a reeleição de Mahmoud
Ahmadinejad foram violentamente reprimidos.
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