São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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1 ano depois, Haiti faz censo de mortos

Cerimônias cristãs e de vodu prestam homenagem a vítimas de tremor, que completou ontem o 1º aniversário

Presidente René Préval decide não participar de missa pública; soldados brasileiros também são homenageados

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE


Às 16h53, 10 mil haitianos, que lotavam o estádio Sylvio Cantor de Porto Príncipe, gritaram, braços ao alto: "Obrigada, senhor!" E depois: "Se estamos vivos, é por causa do senhor."
O pastor pediu que gritassem por mais alguns segundos, sem dizer palavra. "Ano passado a terra tremeu. Neste ano não vai tremer. Graças a Deus".
A cerimônia evangélica marcou a hora exata do primeiro aniversário do terremoto de 7 pontos na escala Richter que matou mais de 250 mil haitianos.
Jeff Jean Charles, 24, rezou de olhos fechados. Contou, depois, que pensava na namorada, Jeniflori, que aos 17 anos morreu soterrada ao lado de três irmãs.
"Se nós haitianos nos uníssemos, olhássemos na mesma direção, poderíamos reconstruir o país", disse.
A tragédia foi lembrada em cerimônias ao longo do dia por todo o país.
O vodu, religião forte na nação caribenha, fez sua cerimônia principal das 8h às 14h, no Burô Haitiano de Etnologia . "Lembramos nossos ancestrais e as vítimas. Foi bonito", disse o sacerdote de vodu Alix Compas.
Já o governo utilizou o aniversário para abrir formalmente um registro para listar os estimados 250 mil mortos do tremor -passo considerado essencial para definir problemas de titularidade na reconstrução, por exemplo, mas de difícil execução.
É que as famílias devem ir à autoridade local declarar seus mortos e desaparecidos. Antes mesmo do tremor, o Haiti já exibia alto índice subnotificação.
"Isso vai ajudar a resolver os problemas dos atestados de óbito", disse Wilfrid Bertrand, diretor do Arquivo Nacional, na última sexta-feira.

CRISE POLÍTICA
No mundo político, a tônica mesclava mea-culpa pela lentidão dos trabalhos de reconstrução -dirigida tanto ao governo local como aos doadores estrangeiros-, um debate sobre o papel dos haitianos na tarefa e a incerteza na corrida presidencial, sem data para o segundo turno.
Segundo a Associated Press, a OEA (Organização dos Estados Americanos), que investigou os resultados do primeiro turno, recomendou que o candidato oficialista Jude Célestin seja substituído na disputa do segundo turno pelo músico Michel Martelly.
Préval havia pedido anteontem respeito pelos mortos e que o tema das eleições fosse deixado para depois.
Diante da também destruída Catedral Nacional, a Igreja Católica celebrou missa às 8h à qual compareceram integrantes do corpo diplomático, entre eles o embaixador do Brasil, Igor Kipman.
De branco, a cor do luto no país, Anie Petithomme, 61, buscava um espaço para pôr seu banquinho. Ela perdeu o filho na tragédia e mora agora numa tenda num acampamento. "Piorou depois do terremoto. Mas é a vida."
Padres e bispos do Haiti, dos EUA e da França se revezaram. Os religiosos haitianos insistiram que a reconstrução deveria ser decidida com base nos critérios haitianos, e não estrangeiros.
Na primeira fila, estavam o premiê do país, Jean Alex Bellerive, e a primeira-dama, Elizabeth Préval. O presidente René Préval não compareceu -decidiu participar da cerimônia pelos funcionários públicos mortos na tragédia.
Um manifestante, ao final da cerimônia, causou constrangimento ao pedir a saída de Préval.

BASE BRASILEIRA
Ontem, a Minustah, a missão de paz da ONU no Haiti, fez uma homenagem aos 25 soldados e policiais que morreram na tragédia -18 deles brasileiros.
A cerimônia ocorreu no Campo Charlie, na sede de um dos dois batalhões do Brasil -que comanda militarmente a missão.


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