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Por capital político, Obama se ampara em Abraham Lincoln
Presidente pede união no dia em que republicano desiste de posto no gabinete
Senador Judd Gregg, que ocuparia pasta do Comércio, foi pressionado por seu partido a deixar governo e alega discordar de pacote
Jason Reed/Reuters
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Obama saúda ator que representou Lincoln durante celebração do bicentenário em Washington
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Desgastado pela recepção
morna a seus dois planos -o
econômico e o específico para
os bancos-, Barack Obama,
três semanas de Casa Branca,
recorreu a Abraham Lincoln,
200 anos de nascimento, para
pedir união e se recapitalizar
politicamente.
O democrata passou as últimas horas em eventos dedicados ao bicentenário do 16º presidente, comemorado ontem,
nos quais procurou traçar paralelos entre as épocas dos dois líderes e seus desafios.
Na noite de anteontem, na
reinauguração do Teatro Ford,
em Washington, onde Lincoln
(1809-1865) foi atingido pelo tiro que o levaria à morte, Obama
fez uma comparação velada entre as críticas recebidas por ele
ao seu plano econômico e por
seu antecessor nos anos da
construção do Capitólio, a sede
do Legislativo dos EUA.
"O povo americano precisava
ser lembrado, acreditava Lincoln então, que, mesmo em
tempos de guerra, o trabalho tinha de seguir", disse Obama.
"Que, mesmo quando a nação
estava em dúvida, o futuro estava sendo assegurado."
Horas depois do evento em
Washington, aquele que seria o
terceiro republicano do ministério obamista desistiu da indicação. Na tarde de ontem, Judd
Gregg citou "conflitos isolúveis", como sua visão negativa
do pacote, ao dizer que recusava o convite ao cargo de secretário do Comércio. Em resposta, a Casa Branca divulgou um
comunicado inusualmente áspero, no qual explicita que foi
Gregg quem procurou Obama
para se oferecer para o cargo.
"Ficou bastante claro durante o processo de entrevistas
que, apesar de desacordos passados, o senador apoiaria a
agenda do presidente", diz texto assinado pelo porta-voz Robert Gibbs. O senador foi pressionado pelo Partido Republicano, que vem fazendo oposição feroz às medidas econômicas de Obama e, depois da derrota histórica nas eleições de
2008, se reenergiza na oposição ao novo governo.
Substituto
Greeg já era o substituto de
um outro indicado, que desistiu
por acusação de corrupção, o
democrata Bill Richardson, e
sua saída marca a mais recente
dor de cabeça da Casa Branca.
Analistas avaliam a passagem
do plano de estímulo de Obama
no Congresso como vitória com
sabor de derrota.
Para consegui-la, o democrata teve de abrir mão de diversas
promessas de campanha, como
a luta por um espírito bipartidário da lei, e, ainda assim, acabou saindo com um pacote que
pode ficar devendo em foco e
eficácia a antecedentes como o
"New Deal", de Franklin Delano Roosevelt (1882-1945).
Sua outra ação para debelar a
crise, o pacote de auxílio ao
mercado financeiro revelado
anteontem pelo secretário do
Tesouro, Timothy Geithner, foi
mal recebida, levando as Bolsas
a caírem quase 5% depois de
seu anúncio. O desempenho
público de Geithner foi considerado medíocre, ganhando
críticas indiretas até mesmo de
David Axelrod, assessor sênior
do presidente.
Enquanto isso, Obama dava
prosseguimento às comemorações do bicentenário de Lincoln. Na hora do almoço, no
mesmo Capitólio em que horas
antes seu pacote passara com
apenas três votos republicanos
no Senado e nenhum na Câmara, o presidente democrata falava de união.
"Nós nos encontrarmos aqui
num momento em que estamos
bem menos divididos do que na
época de Lincoln, mas estamos
de novo debatendo as questões
críticas de nosso tempo, e fazendo isso às vezes de maneira
acalorada", disse Obama.
"Vamos nos lembrar que nós
estamos fazendo isso como servos de uma mesma bandeira,
representantes de um mesmo
povo, acionistas de um futuro
em comum."
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