São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Por capital político, Obama se ampara em Abraham Lincoln

Presidente pede união no dia em que republicano desiste de posto no gabinete

Senador Judd Gregg, que ocuparia pasta do Comércio, foi pressionado por seu partido a deixar governo e alega discordar de pacote

Jason Reed/Reuters
Obama saúda ator que representou Lincoln durante celebração do bicentenário em Washington

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Desgastado pela recepção morna a seus dois planos -o econômico e o específico para os bancos-, Barack Obama, três semanas de Casa Branca, recorreu a Abraham Lincoln, 200 anos de nascimento, para pedir união e se recapitalizar politicamente.
O democrata passou as últimas horas em eventos dedicados ao bicentenário do 16º presidente, comemorado ontem, nos quais procurou traçar paralelos entre as épocas dos dois líderes e seus desafios.
Na noite de anteontem, na reinauguração do Teatro Ford, em Washington, onde Lincoln (1809-1865) foi atingido pelo tiro que o levaria à morte, Obama fez uma comparação velada entre as críticas recebidas por ele ao seu plano econômico e por seu antecessor nos anos da construção do Capitólio, a sede do Legislativo dos EUA.
"O povo americano precisava ser lembrado, acreditava Lincoln então, que, mesmo em tempos de guerra, o trabalho tinha de seguir", disse Obama. "Que, mesmo quando a nação estava em dúvida, o futuro estava sendo assegurado."
Horas depois do evento em Washington, aquele que seria o terceiro republicano do ministério obamista desistiu da indicação. Na tarde de ontem, Judd Gregg citou "conflitos isolúveis", como sua visão negativa do pacote, ao dizer que recusava o convite ao cargo de secretário do Comércio. Em resposta, a Casa Branca divulgou um comunicado inusualmente áspero, no qual explicita que foi Gregg quem procurou Obama para se oferecer para o cargo.
"Ficou bastante claro durante o processo de entrevistas que, apesar de desacordos passados, o senador apoiaria a agenda do presidente", diz texto assinado pelo porta-voz Robert Gibbs. O senador foi pressionado pelo Partido Republicano, que vem fazendo oposição feroz às medidas econômicas de Obama e, depois da derrota histórica nas eleições de 2008, se reenergiza na oposição ao novo governo.

Substituto
Greeg já era o substituto de um outro indicado, que desistiu por acusação de corrupção, o democrata Bill Richardson, e sua saída marca a mais recente dor de cabeça da Casa Branca. Analistas avaliam a passagem do plano de estímulo de Obama no Congresso como vitória com sabor de derrota.
Para consegui-la, o democrata teve de abrir mão de diversas promessas de campanha, como a luta por um espírito bipartidário da lei, e, ainda assim, acabou saindo com um pacote que pode ficar devendo em foco e eficácia a antecedentes como o "New Deal", de Franklin Delano Roosevelt (1882-1945).
Sua outra ação para debelar a crise, o pacote de auxílio ao mercado financeiro revelado anteontem pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, foi mal recebida, levando as Bolsas a caírem quase 5% depois de seu anúncio. O desempenho público de Geithner foi considerado medíocre, ganhando críticas indiretas até mesmo de David Axelrod, assessor sênior do presidente.
Enquanto isso, Obama dava prosseguimento às comemorações do bicentenário de Lincoln. Na hora do almoço, no mesmo Capitólio em que horas antes seu pacote passara com apenas três votos republicanos no Senado e nenhum na Câmara, o presidente democrata falava de união.
"Nós nos encontrarmos aqui num momento em que estamos bem menos divididos do que na época de Lincoln, mas estamos de novo debatendo as questões críticas de nosso tempo, e fazendo isso às vezes de maneira acalorada", disse Obama.
"Vamos nos lembrar que nós estamos fazendo isso como servos de uma mesma bandeira, representantes de um mesmo povo, acionistas de um futuro em comum."


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