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Lula tem de se encontrar com dissidentes em Teerã, diz Nobel
DE GENEBRA
A visita do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao Irã, em
maio, só será válida se ele se
reunir também com dissidentes, e o diálogo que Brasília defende com Teerã precisa incluir
questões de direitos humanos e
não só temas econômicos e políticos, defende a advogada, ativista e Nobel da Paz iraniana
Shirin Ebadi.
"É claro que precisamos de
mais diálogo, mas o diálogo
também tem de ser sobre democracia e direitos humanos",
disse Ebadi a jornalistas brasileiros em Genebra ao ser indagada sobre a posição do Itamaraty de que pressão e punição
isolariam o Irã, e ainda há tempo para conversar com o país
sobre seu programa nuclear.
"Até agora, o diálogo entre
Brasil e Irã foi só sobre questões econômicas", respondeu,
após evento em que listou violações do governo Ahmadinejad, como julgamentos sumários, prisões de jornalistas, tortura e perseguição de ativistas.
Ebadi defendeu que o governo brasileiro use sua proximidade com o Irã para influenciá-lo sobre o tema. O país será submetido nesta segunda à revisão
periódica pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, em
Genebra, e o Brasil vai se pronunciar a respeito. "É muito
importante que o povo brasileiro saiba o que o governo iraniano tem feito com seu povo."
A ativista, que perdeu o direito de advogar no Irã por expressar-se contra o governo, afirmou que é "boa" a visita do presidente Lula, mas pregou que
não se restrinja a atos oficiais.
"Não há nada de errado com
a visita. Contanto que ele não
fale só com o governo iraniano,
que fale com ativistas de direitos humanos, jornalistas, familiares de vítimas", afirmou, dizendo que essa seria a forma
mais adequada de "mostrar
respeito ao povo".
"Os governos vão e vêm, as
nações ficam."
Ebadi, laureada em 2003,
também criticou a ideia defendida pelos EUA e outros países
de aplicar novas sanções contra
o Irã no âmbito do Conselho de
Segurança da ONU para demover o país de seu programa nuclear, o qual Teerã diz ser, por
ora, pacífico -embora Mahmoud Ahmadinejad tenha dito,
nesta semana, ter capacidade
para produzir uma bomba.
"Sanções só vão piorar a situação para o povo. Graças ao
apoio da Rússia e da China, o
governo do Irã consegue contornar as sanções. Mais sanções só vão punir o povo."
Segundo Ebadi, o que os governos ocidentais deveriam fazer é pressionar suas empresas
que negociam com o governo
Ahmadinejad. "A Siemens e a
Nokia fornecem ao governo
iraniano a tecnologia para monitorar e-mails e mensagens
por celular, e é por causa desse
monitoramento que muita
gente está na prisão."
(LC)
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