São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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Lula tem de se encontrar com dissidentes em Teerã, diz Nobel

DE GENEBRA

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã, em maio, só será válida se ele se reunir também com dissidentes, e o diálogo que Brasília defende com Teerã precisa incluir questões de direitos humanos e não só temas econômicos e políticos, defende a advogada, ativista e Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi.
"É claro que precisamos de mais diálogo, mas o diálogo também tem de ser sobre democracia e direitos humanos", disse Ebadi a jornalistas brasileiros em Genebra ao ser indagada sobre a posição do Itamaraty de que pressão e punição isolariam o Irã, e ainda há tempo para conversar com o país sobre seu programa nuclear.
"Até agora, o diálogo entre Brasil e Irã foi só sobre questões econômicas", respondeu, após evento em que listou violações do governo Ahmadinejad, como julgamentos sumários, prisões de jornalistas, tortura e perseguição de ativistas.
Ebadi defendeu que o governo brasileiro use sua proximidade com o Irã para influenciá-lo sobre o tema. O país será submetido nesta segunda à revisão periódica pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, e o Brasil vai se pronunciar a respeito. "É muito importante que o povo brasileiro saiba o que o governo iraniano tem feito com seu povo."
A ativista, que perdeu o direito de advogar no Irã por expressar-se contra o governo, afirmou que é "boa" a visita do presidente Lula, mas pregou que não se restrinja a atos oficiais.
"Não há nada de errado com a visita. Contanto que ele não fale só com o governo iraniano, que fale com ativistas de direitos humanos, jornalistas, familiares de vítimas", afirmou, dizendo que essa seria a forma mais adequada de "mostrar respeito ao povo".
"Os governos vão e vêm, as nações ficam."
Ebadi, laureada em 2003, também criticou a ideia defendida pelos EUA e outros países de aplicar novas sanções contra o Irã no âmbito do Conselho de Segurança da ONU para demover o país de seu programa nuclear, o qual Teerã diz ser, por ora, pacífico -embora Mahmoud Ahmadinejad tenha dito, nesta semana, ter capacidade para produzir uma bomba.
"Sanções só vão piorar a situação para o povo. Graças ao apoio da Rússia e da China, o governo do Irã consegue contornar as sanções. Mais sanções só vão punir o povo."
Segundo Ebadi, o que os governos ocidentais deveriam fazer é pressionar suas empresas que negociam com o governo Ahmadinejad. "A Siemens e a Nokia fornecem ao governo iraniano a tecnologia para monitorar e-mails e mensagens por celular, e é por causa desse monitoramento que muita gente está na prisão." (LC)


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