São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Não há nome de consenso, diz opositor

Mahmoud Abaza, líder de um dos principais partidos do Egito, afirma que prioridade agora é nova Constituição

Político egípcio acredita que cenário para as eleições presidenciais de setembro ficará mais claro dentro de 2 meses

Dylan Martinez/Reuters
Homem varre a praça Tahrir, principal palco das manifestações anti- Mubarak, ontem, um dia após a queda do ditador

DO ENVIADO AO CAIRO

A força dos protestos e a rapidez com que derrubaram Hosni Mubarak surpreenderam a oposição egípcia. Em entrevista à Folha, Mahmoud Abaza, dirigente do partido de oposição Wafd, admitiu que não tinha ideia da capacidade de mobilização da geração atual. (MARCELO NINIO)

 


Folha - Por que os protestos populares triunfaram?
Mahmoud Abaza
- Não fazíamos ideia de que havia aqui uma geração de jovens bem informados e determinados a fazer a mudança. Levou quase 50 anos [desde a queda da monarquia, em 1952], mas esse regime ditatorial foi derrubado por uma revolução espontânea.
O desafio é construir um sistema democrático, modernizar o país e encorajar a nova geração a assumir as responsabilidades por isso.

Omar Suleiman, vice de Mubarak, havia dito que o Egito não estava pronto para a democracia. Há risco de um retrocesso autoritário?
Suleiman está errado. O Egito teve um Parlamento pela primeira vez em 1864, manteve uma Constituição democrática de 1923 até 1952, com partidos legítimos. Claro que o país está preparado para a democracia, os protestos demonstraram isso. O problema é que vivíamos em um sistema baseado na polícia, que controlou a vida pública.

O que a oposição fará?
O primeiro passo é criar um amplo consenso nacional sobre a nova Constituição. Hoje não há um nome de consenso que possa unir os egípcios, mas acredito que nos próximos dois meses aparecerão três ou quatro em condições de ser candidatos sérios nas eleições.

Os nomes que se destacaram até agora no cenário, Amr Moussa (secretário-geral da Liga Árabe) e Mohamed ElBaradei (ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica) são viáveis?
Em princípio sim, vai depender de seus programas. Mas antes precisamos discutir a Constituição. Não queremos outro presidente que fique por 30 anos, com todo o poder concentrado nele.

A possibilidade de que a Irmandade Muçulmana seja o poder dominante é real?
É um risco. Mas não existe um consenso. Primeiro, porque há uma ampla camada da sociedade egípcia que acredita em secularismo. E, segundo, porque não há só muçulmanos no país.

O sr. confia nas Forças Armadas durante essa transição?
O perigo de que os militares queiram ficar no poder existe, mas os tempos são outros. Estamos construindo um novo regime no século 21, as circunstâncias são bem diferentes das de 1952, quando um golpe militar derrubou o rei Farouk. O regime militar de Mubarak era baseado num contrato social que durou 58 anos e agora expirou.

Por que o sr. acha que Mubarak voltou atrás do anúncio de quinta e renunciou?
Pelas informações que obtive, Mubarak se preparou para renunciar, mas por algum motivo adiou para o dia seguinte. Acho que houve uma divisão no Exército. Os militares não queriam mandá-lo embora, já que Mubarak é um deles. Mas a situação ficou insustentável.


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