São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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Ilegais não terão perdão, diz Bush

Guatemalteco pede por imigrantes, mas norte-americano diz que trabalho irregular será reprimido

Cerca de 10% da população da Guatemala vive nos EUA, a maioria ilegalmente; remessas de emigrantes superam exportações

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL À GUATEMALA

Os que violarem a lei serão presos, não importa se guatemaltecos ou não. Assim George W. Bush respondeu a Óscar Berger durante conversa em que a imigração foi tema dominante. Na quarta etapa da viagem do norte-americano à América Latina, o presidente guatemalteco havia aberto o seu discurso dizendo que demonstrou "inquietação" com a situação de seus cidadãos nos Estados Unidos.
"Ele me disse que não há uma instrução expressa de perseguir guatemaltecos", afirmou Berger. "Convenceu-nos de que a melhor proposta para a questão é a reforma da lei de imigração dos EUA." A reforma patina no Congresso há mais de um ano, e Bush defendeu que seja aprovada até agosto, a primeira vez que sugere um prazo.
Depois de dizer que legalizar todos os que já estão nos EUA seria "inaceitável", pois significaria uma anistia, o republicano afirmou que pode ser aprovado um programa de trabalhadores convidados, em que imigrantes vão aos EUA "fazer o trabalho que os americanos não querem fazer".
"Ele me perguntou sobre as prisões recentes em Massachusetts e eu disse que nós vamos cumprir a lei nos EUA, como vocês deveriam cumprir a lei aqui. E empregar imigrantes sem documentos é contra a lei", disse Bush.
Dez por cento da população da Guatemala vive nos EUA, estima-se que 60% ilegalmente. Só em 2006, 20 mil guatemaltecos foram deportados.
Na semana passada, uma operação da Imigração norte-americana prendeu 300 ilegais em Massachusetts, entre eles 200 guatemaltecos. Óscar Berger veio a público dizer que estava "muito preocupado" -em 2006, os imigrantes enviaram ao país US$ 3,6 bilhões, ou 50% a mais do que a Guatemala exporta para os EUA.
Bush citaria também a questão da violência e da corrupção. "Você [Berger] acha os problemas e lida com eles", elogiou. A violência corrói a popularidade de Berger, que vê candidatos martelarem o tema na campanha para as eleições presidenciais de setembro. Entre eles, a líder indígena e Nobel da Paz Rigoberta Menchú, vista como um potencial Evo Morales de saias pelos norte-americanos.

Protestos
Enquanto Bush e Berger almoçavam, manifestantes queimavam bandeiras dos EUA, quebravam bonecos do norte-americano e gritavam "Bush a la mierda!". Estavam a dois quarteirões do palácio, o mais perto que esse tipo de protesto chegou dos ouvidos norte-americanos até agora na viagem.
Vinham em passeata e eram "milhares", segundo a polícia, caminhando de forma pacífica e gritando slogans.
Quando encontraram a barreira militar, porém, houve agressão de ambas as partes, com os manifestantes jogando garrafas, madeiras e coquetéis molotov contra os soldados e em direção ao palácio, e a polícia tentando contê-los a golpes de cassetetes. Houve prisões.
No povoado de Tecpán, a oeste da capital, indígenas fizeram um ritual de 24 horas para "purificação" do país pela presença do líder dos Estados Unidos.
O norte-americano, que vem repetindo que se preocupa com a pobreza na América Latina, foi a uma escola na comunidade de Santa Cruz Balanyá, atendida por militares médicos dos EUA, e à comunidade de Chirijuyú, onde a Cooperativa de Lavradores Maias vende produtos para os supermercados Wal-Mart, dentro do acordo de livre comércio assinado pelos dois países em 2006. Bush ganhou de um agricultor uma roupa regional, que vestiu.
O caráter populista, na linha de seu desafeto Hugo Chávez, reapareceu na entrevista da tarde, em que Bush citaria o trabalho de seus militares em ação aqui: "Imagine não conseguir ver e chegar alguém de uniforme que lhe dá visão".


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