|
Próximo Texto | Índice
Ilegais não terão perdão, diz Bush
Guatemalteco pede por imigrantes, mas norte-americano diz que trabalho irregular será reprimido
Cerca de 10% da população da Guatemala vive nos EUA, a maioria ilegalmente; remessas de emigrantes superam exportações
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL À GUATEMALA
Os que violarem a lei serão
presos, não importa se guatemaltecos ou não. Assim George
W. Bush respondeu a Óscar
Berger durante conversa em
que a imigração foi tema dominante. Na quarta etapa da viagem do norte-americano à
América Latina, o presidente
guatemalteco havia aberto o
seu discurso dizendo que demonstrou "inquietação" com a
situação de seus cidadãos nos
Estados Unidos.
"Ele me disse que não há uma
instrução expressa de perseguir guatemaltecos", afirmou
Berger. "Convenceu-nos de
que a melhor proposta para a
questão é a reforma da lei de
imigração dos EUA." A reforma
patina no Congresso há mais de
um ano, e Bush defendeu que
seja aprovada até agosto, a primeira vez que sugere um prazo.
Depois de dizer que legalizar
todos os que já estão nos EUA
seria "inaceitável", pois significaria uma anistia, o republicano afirmou que pode ser aprovado um programa de trabalhadores convidados, em que imigrantes vão aos EUA "fazer o
trabalho que os americanos
não querem fazer".
"Ele me perguntou sobre as
prisões recentes em Massachusetts e eu disse que nós vamos
cumprir a lei nos EUA, como
vocês deveriam cumprir a lei
aqui. E empregar imigrantes
sem documentos é contra a lei",
disse Bush.
Dez por cento da população
da Guatemala vive nos EUA, estima-se que 60% ilegalmente.
Só em 2006, 20 mil guatemaltecos foram deportados.
Na semana passada, uma
operação da Imigração norte-americana prendeu 300 ilegais
em Massachusetts, entre eles
200 guatemaltecos. Óscar Berger veio a público dizer que estava "muito preocupado" -em
2006, os imigrantes enviaram
ao país US$ 3,6 bilhões, ou 50%
a mais do que a Guatemala exporta para os EUA.
Bush citaria também a questão da violência e da corrupção.
"Você [Berger] acha os problemas e lida com eles", elogiou. A
violência corrói a popularidade
de Berger, que vê candidatos
martelarem o tema na campanha para as eleições presidenciais de setembro. Entre eles, a
líder indígena e Nobel da Paz
Rigoberta Menchú, vista como
um potencial Evo Morales de
saias pelos norte-americanos.
Protestos
Enquanto Bush e Berger almoçavam, manifestantes queimavam bandeiras dos EUA,
quebravam bonecos do norte-americano e gritavam "Bush a
la mierda!". Estavam a dois
quarteirões do palácio, o mais
perto que esse tipo de protesto
chegou dos ouvidos norte-americanos até agora na viagem.
Vinham em passeata e eram
"milhares", segundo a polícia,
caminhando de forma pacífica
e gritando slogans.
Quando encontraram a barreira militar, porém, houve
agressão de ambas as partes,
com os manifestantes jogando
garrafas, madeiras e coquetéis
molotov contra os soldados e
em direção ao palácio, e a polícia tentando contê-los a golpes
de cassetetes. Houve prisões.
No povoado de Tecpán, a oeste da capital, indígenas fizeram
um ritual de 24 horas para "purificação" do país pela presença
do líder dos Estados Unidos.
O norte-americano, que vem
repetindo que se preocupa com
a pobreza na América Latina,
foi a uma escola na comunidade de Santa Cruz Balanyá, atendida por militares médicos dos
EUA, e à comunidade de Chirijuyú, onde a Cooperativa de Lavradores Maias vende produtos
para os supermercados Wal-Mart, dentro do acordo de livre
comércio assinado pelos dois
países em 2006. Bush ganhou
de um agricultor uma roupa regional, que vestiu.
O caráter populista, na linha
de seu desafeto Hugo Chávez,
reapareceu na entrevista da
tarde, em que Bush citaria o
trabalho de seus militares em
ação aqui: "Imagine não conseguir ver e chegar alguém de
uniforme que lhe dá visão".
Próximo Texto: Chávez e União Européia obrigam Bush a se mover, diz analista guatemalteco Índice
|