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Governo Bush abre ofensiva contra Chávez
Diplomata diz que relação entre venezuelano e as Farc é "perturbadora" e defende nova definição de soberania nas Américas
Presidente dos EUA também ataca governo de Caracas e pede aprovação de acordo com Colômbia; secretária de Estado chega hoje ao Brasil
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Onze dias depois da morte de
Raúl Reyes, o número dois das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em um
ataque colombiano no Equador, os EUA aproveitam a visita
de sua diplomata mais graduada à América do Sul para vender sua visão de "guerra preventiva" no continente.
A secretária de Estado Condoleezza Rice chega hoje a Brasília, onde fala desse e de outros
assuntos com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim. Na sexta, depois de
passar por Salvador, visita a
chilena Michelle Bachelet em
Santiago.
Horas antes de Rice embarcar, Washington lançou ofensiva anti-Hugo Chávez e a favor
de um "novo entendimento" do
conceito de soberania territorial nas Américas. Em conversa
com parte da imprensa brasileira e chilena na manhã de ontem, Thomas Shannon, o número um da Secretaria de Estado para a América Latina, disse
que a OEA (Organização dos
Estados Americanos) "precisa
fazer mais em relação à ameaça
de atores transnacionais".
Foi em reunião extraordinária da organização, no início da
semana passada, que a incursão
militar colombiana no Equador
foi condenada, primeiro passo
para a solução da crise diplomática regional.
"Novo entendimento"
Para Shannon, o incidente
que gerou a crise abre uma
questão maior, que é "um equilíbrio entre esse novo entendimento de segurança e a velha
estrutura da OEA, que dizia
respeito só a integridade territorial e soberania e a gerenciar
conflitos entre Estados".
Ele pode também dar margem a caracterizar o regime de
Caracas como apoiador de grupos terroristas, o que acarretaria uma série de sanções por
parte de Washington.
Sobre isso, Shannon disse
que ainda estão sendo analisados os dados encontrados nos
computadores que supostamente pertenciam a Raúl Reyes e que foram encontrados no
acampamento das Farc.
"A informação que apareceu
até agora é preocupante, eu
chamaria mesmo de perturbadora", afirmou o diplomata.
"Porque parece indicar um
grau de diálogo e discussão entre membros do governo da Venezuela e as Farc que tem de
ser explicado."
Sobre a violação de fronteiras, Shannon disse que essa não
é a questão principal, e sim "como você nega o uso dos territórios de fronteira por grupos como as Farc". "Apesar da irritação que algumas pessoas possam ter em relação ao que a Colômbia fez, há um reconhecimento de que o ônus de não
deixar que isso ocorra de novo
está nas mãos dos vizinhos da
Colômbia tanto quanto nas da
própria Colômbia."
No mesmo momento, o presidente George W. Bush dizia a
uma platéia de hispânicos, a
poucos quarteirões dali, que altos funcionários de Hugo Chávez haviam se encontrado com
líderes das Farc na Venezuela.
"O presidente da Venezuela
chamou o líder terrorista de
"bom revolucionário" e mandou
suas tropas para a fronteira colombiana", discursou, referindo-se à reação do venezuelano
à operação colombiana.
"Esse é o passo mais recente
de um padrão perturbador do
comportamento provocativo
do regime de Caracas", continuou. "Enquanto tenta expandir sua influência na América
Latina, o regime diz que promove a justiça social." Para ele,
Chávez "desperdiçou sua riqueza vinda do petróleo para
promover sua visão hostil e antiamericana".
Bush voltou a pedir que o
Congresso, de maioria democrata, aprove o TLC (Tratado
de Livre Comércio) com a Colômbia, assinado em 2006 e
nunca ratificado, como forma
de mostrar apoio ao aliado.
"Desespero"
O chanceler da Venezuela,
Nicolás Maduro, respondeu às
declarações de Bush afirmando
que elas denotam "desespero,
impotência" e "muita amargura" com a resolução da crise na
cúpula do Grupo do Rio, na República Dominicana, na última
sexta. Os EUA não fazem parte
do grupo, um mecanismo de
consultas diplomáticas da
América Latina e do Caribe.
Segundo Maduro, a reação de
Bush se deve ao fato de ele não
ter podido "reverter as correntes de mudança" na região.
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