São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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Hamas propõe negociar cessar-fogo com Israel

Acordo incluiria reabertura de fronteiras e fim dos ataques e do cerco a Gaza

Oficialmente, Israel rejeita plano; analistas divergem sobre motivações do grupo palestino e as chances reais de se chegar a uma trégua

SAMY ADGHIRNI
DA REDAÇÃO

Uma ofensiva israelense na Cisjordânia deixou ontem pelo menos cinco mortos, horas depois de o grupo radical Hamas apresentar uma proposta de cessar-fogo que condicionava a trégua ao fim dos ataques de Israel contra alvos nos territórios palestinos.
Quatro das vítimas do ataque israelense, atingidas na cidade de Belín, eram integrantes do Jihad Islâmico, um grupo extremista que também está envolvido nas discussões sobre uma trégua com Israel, formalmente oferecida pelo líder do Hamas na faixa de Gaza, Ismail Haniyeh.
No início do dia, Haniyeh apresentou a proposta na qual oferecia a Israel o fim do lançamento dos mísseis Qassam e de todos os demais tipos de ataque em troca de três condições principais: levante do bloqueio a Gaza, reabertura dos postos de fronteira e fim das incursões militares.
O acordo de cessar-fogo, segundo Haniyeh, seria "recíproco, amplo e simultâneo" e deveria vigorar tanto na faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde junho, quanto na Cisjordânia, onde impera o governo da Autoridade Nacional Palestina (ANP), do presidente Mahmoud Abbas.
De acordo com o líder do Hamas, o acordo estaria sendo mediado pelo Egito, como forma de pôr fim a uma escalada da violência que deixou mais de 120 palestinos e cinco israelenses mortos nas últimas semanas. As hostilidades vêm dificultando os esforços dos EUA para impulsionar a retomada das conversas de paz.
Autoridades egípcias confirmaram que estão negociando um acordo entre as partes, que incluiria também a participação da ANP no controle das fronteiras da faixa de Gaza.
Jornais israelenses informaram nos últimos dias que uma trégua até já teria sido assinada e citam como indício a relativa tranqüilidade que reina desde a última sexta-feira no sul de Israel e na faixa de Gaza, que só foi interrompida ontem pelo lançamento de quatro mísseis Qassam contra Israel, em resposta ao ataque na Cisjordânia.
No entanto, pelo menos oficialmente, o governo israelense descartou a possibilidade de cessar-fogo com o Hamas, um grupo que não reconhece a existência do Estado judaico.
Renomados analistas da região consultados pela Folha divergem tanto sobre as motivações que levam o Hamas a oferecer uma trégua como sobre a possibilidade real de se chegar a um acordo.
O editorialista israelense Amir Oren é categórico. "As chances de uma trégua são mínimas. Os elementos pragmáticos do Hamas não têm poder sobre a base militante. E, mesmo que tivessem, Israel não aceitaria um acordo."
O libanês Paul Salem, diretor do instituto Carnegie Endowment, é mais otimista. "Uma trégua é plausível sim. Na prática, é essa situação que vigora entre o Hizbollah e Israel. Há tempos que não há hostilidades. Isso pode valer para o Hamas também."
Salem afirma que o governo israelense poderia aceitar a trégua por não ter conseguido pôr fim ao lançamento de mísseis Qassam e lembra que a maioria da população israelense é favorável a um diálogo com o Hamas. Pesquisa divulgada ontem mostra que 73% dos palestinos também são favoráveis a um cessar-fogo entre o Hamas e o governo de Israel.
Para o analista Shmuel Rosner, do jornal israelense "Haaretz", apesar de algumas vitórias recentes, como a derrubada do muro de fronteira com o Egito, que aliviou durante alguns dias o embargo imposto aos moradores de Gaza por Israel, o Hamas está militarmente fragilizado. "O Hamas não tem condições de enfrentar Israel dentro de Gaza e a trégua seria uma maneira de evitar um conflito generalizado no território."


Com agências internacionais


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