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ONU quer pôr fim a uso de drogas
até 2019
Aprovado ontem, documento de diretrizes da política antidrogas internacional mantém enfoque repressivo do problema
União Europeia tentou aprovar ênfase na "redução de danos"; EUA temiam que inclusão pudesse abrir o caminho para a legalização
Mario Armas/Reuters
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Policiais mexicanos vigiam rua na cidade de Guanajuato, onde quatro integrantes de gangues de narcotráfico foram mortos ontem
DA REDAÇÃO
Os países integrantes da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, reunidos em Viena, aprovaram ontem um documento com diretrizes para a
política internacional antidrogas que mantém o atual enfoque repressivo à produção, ao
tráfico e ao consumo de narcóticos no mundo.
Houve pequenas concessões,
no entanto, a perspectivas divergentes, que enfatizam o caráter social e de saúde pública
do problema.
Durante os dois dias de votação do texto final -revisão da
declaração da Sessão Especial
da Assembleia Geral da ONU
sobre Drogas, de 1998-, os países da União Europeia, num
movimento apoiado por ONGs
e especialistas, tentaram fazer
da "redução de danos" o principal pilar de uma nova abordagem em relação ao problema.
Todas as propostas de inclusão do termo no documento foram ao fim derrotadas. O atual
enfoque, baseado no uso de
aparato policial e militar para
coibir a produção e o consumo
de substâncias ilícitas, é bancado sobretudo pelos EUA.
O argumento europeu é o de
que a ambição de eliminar o
consumo de drogas é pouco
realista, marginaliza os usuários e dificulta ações sociais e
de saúde pública.
A declaração de 1998 previa
"a eliminação ou uma redução
significativa do cultivo de coca,
maconha e ópio até 2008". A
própria ONU reconhece o fracasso de tal pretensão. Apesar
disso, o texto votado ontem
traz nova meta ambiciosa -ou
irrealista, para os críticos-, a
de "minimizar ou eliminar a
disponibilidade e o uso de drogas" até 2019.
Coordenadora do IDPC (sigla em inglês que designa um
consórcio de ONGs ligadas à
política sobre drogas), a inglesa
Ann Fordham disse à Folha
que o documento aprovado é
"decepcionante", embora traga
algumas pequenas concessões
a políticas alternativas.
Ali a ONU reconhece que o
tratamento da questão precisa
ter uma abordagem "abrangente", que inclua perspectivas de
saúde pública e contexto social.
Além disso, há menções à necessidade de respeito aos direitos humanos no combate ao
narcotráfico e à atenção que
deve ser dada a "programas de
prevenção" contra a Aids -o
que abarcaria a proposta europeia de apoio a políticas de distribuição de seringas para viciados em drogas injetáveis.
A presença da expressão "redução de danos" no texto, segundo Fordham, era importante para que a declaração pudesse ser usada como embasamento em disputas políticas
para a criação e aplicação de
medidas específicas relacionadas ao consumo de drogas. Ela
afirma que os EUA, por sua vez,
temem que a frase possa servir
de "cavalo de Troia" para tentativas futuras de legalização
de substâncias hoje proibidas.
Questionada sobre o futuro
desse debate, Fordham diz que
"há algum otimismo hoje com
os Estados Unidos", referindo-se à nomeação de um novo
"czar antidrogas", Gil Kerlikowske, próximo ao enfoque
da "redução de danos". "Há esperança para o futuro e creio
que o espaço para o diálogo esteja aumentando."
Com agências internacionais
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