São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Obama promete manter hegemonia militar dos EUA

Em discurso a cadetes, presidente se compromete a expandir tropas, mas diz que guerras e terrorismo não são único foco

Conservadores temem erosão de poderio, alvo de debate na mídia depois de democrata reduzir ritmo do aumento do gasto militar

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, Barack Obama, tentou ontem apaziguar dúvidas crescentes com um recado certeiro: seu governo tentará manter, apesar da crise econômica, a primazia militar. "Não tenham dúvidas, este país vai manter seu domínio militar", disse, em discurso na Universidade Nacional de Defesa, em Washington.
Ante a erosão da influência americana e apesar da constante defesa que faz do uso da diplomacia -repetida ontem-, esta foi pelo menos a terceira vez que Obama reiterou que os EUA seguirão na liderança mundial apesar dos desafios. Ele já abordara o tema em seu discurso de posse, em janeiro, e ao apresentar seu Orçamento ao Congresso, no mês passado.
O risco de corrosão do poderio americano tem sido alvo de debate na mídia e nos círculos políticos dos EUA, intensificado após a chegada do democrata ao poder e sob o impacto da crise econômica. Manter a hegemonia militar -logo, boa parte da influência do país- requer programas de armas de ponta, plataformas aéreas e marítimas e linhas de comunicação que custam bilhões.
Conservadores também ligaram o alerta vermelho diante do Orçamento proposto para o ano fiscal de 2010. Nele, pela primeira vez em sete anos, o presidente previu reduzir o ritmo do investimento em defesa.
O Pentágono foi a terceira pasta menos favorecida nos aumentos de gastos, com alta de 4% em relação a 2009 (totalizando US$ 533,7 bilhões, quase 20% de todo o investimento do governo). Já o gasto com o Departamento de Estado saltou 40,9%, para US$ 51,7 bilhões.
Ontem o democrata admitiu os efeitos da crise, mas se comprometeu a manter o investimento alto: "Vamos ter as Forças Armadas mais fortes da história. Faremos o que for preciso para manter a vantagem".
Ainda assim, tratou de marcar distância de posições de seu antecessor, George W. Bush. A principal foi relativizar a importância estratégica das guerras do Iraque e do Afeganistão, embora admitindo que os americanos "continuam em guerra contra terroristas" no Afeganistão e no Paquistão.
Outro paradigma derrocado é o de que essa guerra contra os terroristas -Obama evita o termo "guerra ao terror", cunhado por Bush- deva concentrar a atenção do governo. O presidente ressaltou que há outras preocupações que exigem foco do Pentágono, como a própria crise econômica e seu risco inerente de desestabilizar governos pelo mundo.
Ele também enfatizou a necessidade de combinar a força ao poder de influência, o que cria o chamado "smart power" (poder inteligente). Para isso, é preciso desenvolver "novas abordagens e capacidades", expandindo tropas terrestres ao mesmo tempo em que se investe no aprendizado de línguas e culturas pelos militares, se fortalece o papel da diplomacia e se busca o apoio de aliados.


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