São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

artigo

Diplomacia fica entre o novo e o velho

ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"

Apesar de todas as dúvidas iniciais, o presidente Obama entrou em ação prontamente nos assuntos internacionais. Ele logo anunciou o fechamento de Guantánamo e uma nova abertura diante dos antigos inimigos dos EUA. Despachou enviados para a Síria e sugeriu disposição para dialogar com o Taleban e para um "recomeço" com a Rússia.
Este é um presidente muito mais ouvinte em assuntos mundiais do que qualquer de seus predecessores. No entanto, o desejo de recomeçar não é o mesmo que promover mudança completa. No grupo de assessores de Obama, percebe-se a tentação de imaginar que a simples visão de um rosto novo provocaria uma recepção diferente, mais aberta.
Isso pode ser fato entre alguns aliados. Mas não é nos países mais refratários aos Estados Unidos.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, vai para a Ásia - e dá de cara com uma Coreia do Norte planejando novos disparos de foguetes. Ela visita o Oriente Médio -e encontra um potencial novo premiê israelense que não esconde seu desinteresse em um Estado palestino.
Obama pode continuar aberto ao mundo, mas as políticas reais mapeadas por seu establishment de política externa ainda seguem o modelo Clinton-Bush de implementar à força as soluções propostas pelos EUA.
Leia as declarações de Richard Holbrooke, enviado ao Afeganistão e Paquistão, e você ouvirá um antigo funcionário do governo Clinton ainda determinado a pressionar o Paquistão a adotar uma posição de confronto com suas forças internas tribais e do Taleban, o que Islamabad não está em condições de implementar.
Ouvindo os discursos de Hillary sobre o Oriente Médio, nos sentimos de volta à política de Bush de reforçar o Fatah e excluir o Hamas, até quando se trata de distribuir assistência humanitária em Gaza. O objetivo é pressionar o Hamas para que coopere, e não destruí-lo. Mas isso não se encaixa com a realidade no terreno.
Quando o assunto é o Irã, as dúvidas são maiores. A carta secreta de Obama ao colega russo, Dmitri Medvedev, oferecendo desistir dos planos de um sistema antimísseis na Europa em troca da cooperação da Rússia para forçar o Irã a abrir mão de seus planos nucleares, tem uma lógica evidente. Se o um escudo antimísseis se deve à ameaça de o Irã desenvolver armas atômicas, ela deixa de existir se os planos forem suspensos.
Entretanto, junte-se a essa carta as declarações de Hillary Clinton no Oriente Médio, mais a nomeação de figura controvertida do governo Clinton, Dennis Ross, como "assessor especial" sobre o Irã, e temos um resquício da política anterior de tentar isolar Teerã para que se submeta. É a maneira errada de tratar o Irã, que quer ver reconhecidos seus direitos como potência regional. Qualquer tentativa de isolá-lo induz reação oposta.
Acho que Obama reconhece isso. Apesar da promessa de travar guerra decisiva no Afeganistão, a impressão é que ele vai rever suas opções -e precisa fazer o mesmo com o Irã e a Palestina.


Texto Anterior: Desistência de indicado para Inteligência causa polêmica sobre influência de Israel
Próximo Texto: Foco: Por "sapatada" em Bush, jornalista é condenado a 3 anos de cadeia no Iraque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.