São Paulo, domingo, 13 de março de 2011

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TRAGÉDIA NO JAPÃO

Dekasseguis criam lista para achar brasileiros

Dez pessoas que moram nas áreas mais afetadas não fizeram contato

Ao menos 60 pessoas procuraram Itamaraty em busca de parentes com quem perderam contato após terremoto

LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

Comunidades de brasileiros que moram no Japão estão se organizando para localizar amigos desaparecidos que vivem nas regiões afetadas pelo terremoto de 8,9 graus que atingiu o país de anteontem.
Uma lista com nomes de dez brasileiros de seis famílias imigrantes está circulando por e-mail e em páginas de internet criadas pelos dekasseguis.
Eles moram nas cidades de Sendai e Fukushima e na região de Miyagi - as que sofreram maiores danos com o terremoto e o tsunami - e ainda não fizeram contato com a família.
Ao contrário de telefones e celulares, a internet não parou de funcionar no Japão por causa do terremoto.
Uma das páginas mais acessadas dos dekasseguis é o blog "Lost in Japan" (Perdido no Japão), do brasileiro Alexandre Imamura Gonzales, 39, que mora há nove anos no país.
"Até o momento recebi quase 350 e-mails pedindo informações [sobre pessoas desaparecidas]", disse.
Organizados, os dekasseguis descobriram por meio de telefonemas e internet onde estavam a maioria dos desaparecidos, em diversas regiões do Japão, exceto as 10 pessoas da região norte.
Uma página no Facebook com título "11 de março de 2011 - Japão. Você está salvo?" também foi criada para que brasileiros deixem recados para dizer onde estão.
O Itamaraty afirmou que já recebeu ao menos 60 telefonemas de brasileiros que não conseguem achar seus parentes no Japão, mas ainda não divulga um número oficial de "desaparecidos".
Isso porque muitas pessoas que acham seus parentes não voltam a ligar para informar os diplomatas.
"Conheço muito bem a região de Sendai e recebi a lista de brasileiros de lá que ainda não fizeram contato, mas ainda não consegui notícias de ninguém", disse Sérgio Hirakava, 34, que mora há quatro anos em Shizuoka.
Ele e um grupo de amigos estão se organizando para enviar doações de comida para a região afetada.

ABASTECIMENTO
Segundo Hirakava, apesar da maior parte da comunidade brasileira estar na região central do país e não ter sido afetada diretamente pela tragédia, muitos estão com medo novos terremotos.
Esse temor é baseado na ocorrência de ao menos 125 sismos ontem no Japão -possíveis réplicas do terremoto de anteontem.
Eles provocaram uma corrida da população aos supermercados em busca de água e comida para estocar.
"Hoje de manhã [ontem] fui ao supermercado para tentar comprar leite e comida e as prateleiras já estavam vazias", disse Hirakava.
Os terremotos de ontem tiveram intensidades entre 4,6 e 6,8 graus, segundo o Serviço Geológico dos EUA. Um dos mais fortes foi em Nagano (noroeste de Tóquio).
"Estou a 300 km de Nagano e o tremor foi forte aqui, balançou a casa", disse o brasileiro Koji Nikki, 62.
Segundo ele, seguindo recomendação das autoridades, todos os brasileiros montaram "kits terremoto", com lanterna, água, alimentos não perecíveis.
Os tremores também reavivam o velho temor japonês do terremoto Tokai, que historicamente devasta o centro do país a cada 150 anos.


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