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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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Em discurso, Bush ignora saques

Especialistas criticam plano militar para o pós-guerra e prevêem atraso na ajuda humanitária

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, ignorou ontem, em seu discurso semanal no rádio, a onda de saques e o desgoverno no Iraque ocupado pelas tropas norte-americanas e britânicas.
Ao contrário, exaltou o trabalho e a ""ação humanitária" dos soldados. ""O povo do Iraque está vendo a compaixão de nossos militares, que estão oferecendo água, comida e medicamentos aos que precisam", disse Bush.
O pronunciamento, que vai ao ar todo sábado ao meio-dia, foi recheado de passagens sublinhando ""o valor" dos militares e a ""liberdade"" no Iraque.
Dentro dos EUA, especialistas e agências relacionadas à estabilização de países no pós-guerra aumentaram o tom das críticas contra o plano militar americano.
""A ausência de lei e ordem no Iraque vai atrasar todo o processo de ajuda humanitária", diz o porta-voz do escritório de Coordenação Humanitária das Nações Unidas, David Wimhurst. ""Não é difícil imaginar que após a queda de um regime há reações extremas nas ruas. Parece que realmente não houve planejamento para conter esse tipo de coisa."
""Estava claro que a fase EUA versus Iraque seria seguida da fase Iraque versus Iraque. Há anos os EUA intervêm em países e os militares ainda não aprenderam a lição", diz James Dobbins, ex-funcionário graduado do Departamento de Estado que participou da reconstrução do Haiti, Somália, Bósnia e Afeganistão, onde os EUA intervieram.
Em entrevista à Folha, Dobbins disse que ""rapidamente" os EUA vão ""entender a necessidade de chamar mais países e organismos" para controlar a situação no Iraque. ""É uma tarefa muito pesada", afirma.

Custo>
Enquanto os EUA ainda avaliam qual papel vão oferecer à ONU no Iraque pós-guerra, outros funcionários do governo já correm atrás de dinheiro.
Ontem, o secretário do Tesouro norte-americano, John Snow, defendeu que o Banco Mundial não precisa de uma aprovação formal de sua diretoria para iniciar ""imediatamente" um pacote de ajuda financeira ao Iraque.
""O secretário acredita simplesmente que o banco precisa se engajar no processo o mais rápido possível", disse o porta-voz de Snow, Tony Fratto, durante a reunião de primavera em Washington do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial. Os EUA são o maior sócio das duas instituições.
Snow também reuniu-se com o ministro das Finanças da França, Francis Mer, em busca de apoio financeiro e persegue um consenso entre os países credores do Iraque para que perdoem boa parte das dívidas estimadas em US$ 100 bilhões que Saddam Hussein contraiu com o mundo.
Estimativas conservadoras colocam na casa dos US$ 25 bilhões ao ano os gastos necessários para devolver o Iraque à normalidade. Dobbins estima que serão necessários pelo menos cinco anos para que isso aconteça.
No final da noite de sexta-feira, o Congresso norte-americano aprovou um pacote de US$ 79 bilhões para pagar a guerra e parte da reconstrução do Iraque.
Na votação, Bush foi derrotado em sua intenção de ter todo o dinheiro livre e direcionado para o Pentágono. Os parlamentares, ao contrário, pediram dotações específicas para todos os valores, especialmente para cerca de US$ 2,5 bilhões designados exclusivamente para a reconstrução.
Mas a maior derrota de Bush no Congresso na sexta deu-se quando o Senado partiu ao meio o valor que o presidente pretendia fixar para o corte de impostos nos EUA para os próximos dez anos.
Visto como a única e polêmica alternativa de Bush para reativar a economia antes das eleições de 2004, o corte de impostos foi limitado a US$ 350 bilhões, contra os US$ 726 bilhões propostos inicialmente pelo presidente.


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