São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bolívia planeja tirar soldados do Haiti

Brasil tenta convencer Evo Morales a permanecer na missão da ONU; pressão para saída em junho vem do partido governista

Governo boliviano, que tem 218 militares em território haitiano, argumenta que os capacetes azuis estão a serviço de Washington

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo boliviano dá como certa a retirada de seu pequeno contingente militar integrante da missão de paz da ONU no Haiti, a Minustah. A saída deve ocorrer no início de junho, durante a renovação das tropas, e preocupa o Brasil, que lidera os capacetes azuis e vem tentando convencer o presidente Evo Morales a continuar no país caribenho.
O motivo da retirada é a discordância com o perfil da missão. Para La Paz, trata-se de uma "força de ocupação" a serviço dos EUA, responsabilizado pela queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004.
Aristide, atualmente exilado na África do Sul, saiu do país a bordo de uma aeronave militar americana em meio a uma violenta onda de protestos que reduziu seu governo praticamente à capital, Porto Príncipe. O ex-presidente disse várias vezes que foi obrigado pelos EUA a deixar o país, acusação que Washington nega.
A interpretação do governo Morales coincide com a do governo venezuelano. No mês passado, o presidente Hugo Chávez disse que o Haiti é um "país tutelado" e sob intervenção americana.
Representantes de La Paz e Caracas têm dito temer que os EUA provoquem um clima de instabilidade política e conflito social em seus países para derrubar os governos locais, que seriam substituídos por forças de paz da ONU manipuladas pelos interesses americanos.
A participação do Brasil no Haiti foi fruto de uma negociação direta entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega americano, George W. Bush, em 2004.

Avião
Na tentativa de demover Morales, o governo brasileiro emprestou um avião para que o ministro da Defesa boliviano, Walker San Miguel, viajasse ontem ao Haiti para ver o trabalho da Minustah.
Na semana que vem, Brasília enviará a La Paz o general José Elito Carvalho Siqueira, que comandou a Minustah durante cerca de um ano, com a tarefa de ressaltar a importância da participação boliviana.
Fontes do governo boliviano, no entanto, consideram que a decisão já está praticamente tomada por se tratar de uma posição interna do MAS (Movimento ao Socialismo), o partido de Morales.
A principal resistência em deixar a missão do Haiti vem do alto comando militar boliviano. Em declarações à agência oficial de notícias, o comandante-em-chefe das Forças Armadas do país, general Wilfredo Vargas, disse que "apelará à compreensão da área política" do governo Morales para continuar na missão no Caribe.
Ontem, o ministro San Miguel disse que a decisão oficial da Bolívia sobre a permanência no Haiti só será tomada depois da viagem ao país e do seminário sobre o tema na semana que vem em La Paz, do qual participará o general Elito.
A Bolívia integra a Minustah (Missão de Estabilização do Haiti) desde seu início, em junho de 2004, quando Carlos Mesa governava o país. Morales assumiu a Presidência em janeiro do ano passado.
Segundo a a ONU, a Bolívia mantém 218 militares no Haiti, o equivalente a 3,1% das tropas. O Brasil tem o maior contingente, com 1.212 homens. Ao todo, há 7.023 militares no país caribenho atuando sob a bandeira da ONU.


Texto Anterior: Horta exige nova apuração em Timor
Próximo Texto: Militar deve defender socialismo, diz Chávez
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.