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Bolívia planeja tirar soldados do Haiti
Brasil tenta convencer Evo Morales a permanecer na missão da ONU; pressão para saída em junho vem do partido governista
Governo boliviano, que tem 218 militares em território haitiano, argumenta que os capacetes azuis estão a serviço de Washington
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O governo boliviano dá como
certa a retirada de seu pequeno
contingente militar integrante
da missão de paz da ONU no
Haiti, a Minustah. A saída deve
ocorrer no início de junho, durante a renovação das tropas, e
preocupa o Brasil, que lidera os
capacetes azuis e vem tentando
convencer o presidente Evo
Morales a continuar no país caribenho.
O motivo da retirada é a discordância com o perfil da missão. Para La Paz, trata-se de
uma "força de ocupação" a serviço dos EUA, responsabilizado
pela queda do ex-presidente
Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004.
Aristide, atualmente exilado
na África do Sul, saiu do país a
bordo de uma aeronave militar
americana em meio a uma violenta onda de protestos que reduziu seu governo praticamente à capital, Porto Príncipe. O
ex-presidente disse várias vezes que foi obrigado pelos EUA
a deixar o país, acusação que
Washington nega.
A interpretação do governo
Morales coincide com a do governo venezuelano. No mês
passado, o presidente Hugo
Chávez disse que o Haiti é um
"país tutelado" e sob intervenção americana.
Representantes de La Paz e
Caracas têm dito temer que os
EUA provoquem um clima de
instabilidade política e conflito
social em seus países para derrubar os governos locais, que
seriam substituídos por forças
de paz da ONU manipuladas
pelos interesses americanos.
A participação do Brasil no
Haiti foi fruto de uma negociação direta entre o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e seu
colega americano, George W.
Bush, em 2004.
Avião
Na tentativa de demover Morales, o governo brasileiro emprestou um avião para que o
ministro da Defesa boliviano,
Walker San Miguel, viajasse
ontem ao Haiti para ver o trabalho da Minustah.
Na semana que vem, Brasília
enviará a La Paz o general José
Elito Carvalho Siqueira, que
comandou a Minustah durante
cerca de um ano, com a tarefa
de ressaltar a importância da
participação boliviana.
Fontes do governo boliviano,
no entanto, consideram que a
decisão já está praticamente
tomada por se tratar de uma
posição interna do MAS (Movimento ao Socialismo), o partido de Morales.
A principal resistência em
deixar a missão do Haiti vem do
alto comando militar boliviano.
Em declarações à agência oficial de notícias, o comandante-em-chefe das Forças Armadas
do país, general Wilfredo Vargas, disse que "apelará à compreensão da área política" do
governo Morales para continuar na missão no Caribe.
Ontem, o ministro San Miguel disse que a decisão oficial
da Bolívia sobre a permanência
no Haiti só será tomada depois
da viagem ao país e do seminário sobre o tema na semana que
vem em La Paz, do qual participará o general Elito.
A Bolívia integra a Minustah
(Missão de Estabilização do
Haiti) desde seu início, em junho de 2004, quando Carlos
Mesa governava o país. Morales assumiu a Presidência em
janeiro do ano passado.
Segundo a a ONU, a Bolívia
mantém 218 militares no Haiti,
o equivalente a 3,1% das tropas.
O Brasil tem o maior contingente, com 1.212 homens. Ao
todo, há 7.023 militares no país
caribenho atuando sob a bandeira da ONU.
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