IAN FISHER
DO "NEW YORK TIMES", EM ROMA

A ciência não consegue explicar plenamente o mistério da criação, afirmou o papa Bento 16 em comentários sobre a evolução publicados num livro na quarta-feira. Mas o papa não rejeitou a teoria da evolução nem tampouco endossou qualquer hipótese alternativa quanto às origens da vida. "Eu não dependeria exclusivamente da fé para explicar o quadro inteiro", disse Bento 16, ex-professor de teologia, a seus antigos alunos num seminário realizado perto de Roma, de acordo com um relato do livro "Criação e Evolução" feito pela agência Reuters.
Embora tenha sido divulgado pouco do conteúdo do seminário, realizado em setembro, o evento foi alvo de muito interesse devido às pistas dadas sobre as opiniões do papa em relação à evolução. Como papa, Bento 16 ainda não definiu sua posição publicamente, em meio aos debates irados sobre design inteligente realizados nos EUA e às questões quanto se a evolução é compatível com o catolicismo. Mas as observações do papa no seminário pareceram em grande medida evitar essa discussão. Em lugar disso, foram coerentes com sua visão em relação a outros temas: de que a ciência e a razão não devem excluir Deus.
A discussão sobre a evolução, disse Bento 16, diz respeito "às grandes perguntas fundamentais da filosofia: de onde vêm e para onde vão o homem e o mundo ". Quando cardeal, Ratzinger já expressara a preocupação de que a ciência estaria extrapolando sua competência em várias frentes, incluindo a evolução, negando a existência de Deus. Embora não rejeitasse a teoria da evolução, o papa destacou, nas observações no livro, que a ciência não pode provar a evolução por completo por não poder ser reproduzida em laboratório. Mas Bento 16 também defendeu a idéia de que Deus pode ter empregado processos evolutivos para criar a vida.