São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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"Terror perdeu, e Iraque será reconstruído'

Em entrevista à Folha, ministro iraquiano admite que queda do preço do petróleo pode trazer instabilidade

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A reconstrução do Iraque só está começando agora, seis anos após a derrubada de Saddam Hussein pelos EUA e aliados. O diagnóstico é do homem que mais conhece o assunto: o ministro iraquiano do Planejamento, Ali Ghalib Baban. Ele esteve no Brasil na semana passada em busca de parcerias econômicas para ajudar a revitalizar seu país. Esteve em Brasília, Rio e São Paulo, e concedeu entrevista à Folha momentos antes de embarcar de volta a Bagdá, na quinta-feira.

FOLHA - A proposta que o sr. fez à Petrobras para construir uma refinaria no Iraque está fora do processo de licitações do governo iraquiano?
ALI GHALIB BABAN
- Não. Convocamos várias petrolíferas a atuarem no Iraque. Pensamos especialmente na Petrobras porque é a companhia que descobriu o campo de Majnun e acreditamos que é eficiente. O interesse nacional iraquiano é o nosso único norte. Analisaremos todas as ofertas sob um ponto de vista estritamente técnico e comercial e não aceitamos nenhuma interferência.

FOLHA - Lula vai ao Iraque?
BABAN
- O assunto foi tratado por nossas delegações na Cúpula América do Sul-Países Árabes, no Qatar. Me parece que meu primeiro-ministro virá primeiro ao Brasil. O presidente Lula retribuirá a visita em seguida [até o fim deste ano, segundo a Folha apurou].

FOLHA - Em que etapa da reconstrução o Iraque se encontra hoje?
BABAN
- Acabamos de superar a ameaça de conflito civil. Gastamos muito tempo enfrentando desafios ligados à estabilidade e unidade, só pensando em manter o país vivo. Estamos apenas começando a reconstruir. Levará tempo até a situação se normalizar, mas o importante é que deslanchamos.

FOLHA - Haverá privatizações?
BABAN
- Privatizações são cruciais para a nossa revitalização. Já começamos em alguns setores, como transporte e comércio. Também queremos privatizar a indústria petroleira. A ideia sofre resistência de muitos políticos, mas resolveremos isso pela via democrática.

FOLHA - Investidores temem que a melhora da segurança seja frágil.
BABAN
- O setor petroleiro em particular hoje é 100% seguro. No geral, há um claro declínio dos atentados. Alguns grupos terroristas estão agonizando e vem tentando se mostrar ativos fazendo alguns ataques. Mas o terrorismo está derrotado.

FOLHA - O que acontecerá, após a retirada americana, com as milícias sunitas pagas pelos EUA para combater a Al Qaeda?
BABAN
- O governo assumirá o pagamento dos milicianos. Eles prestam um grande serviço aos iraquianos ao defender o país contra a Al Qaeda. Alguns serão absorvidos nas forças de segurança e outros, no setor civil.

FOLHA - Quanto custará a reconstrução do Iraque?
BABAN
- É difícil dizer, mas custará bilhões e bilhões de dólares. As guerras sucessivas e os conflitos internos nos afligiram muito. Mas o Iraque é um país rico. Quando o setor petrolífero começar a ser verdadeiramente lucrativo, reativaremos outros setores, como agricultura, indústria e turismo.

FOLHA - O sr. não teme a total dependência do petróleo?
BABAN
- O petróleo é o nosso pilar. O fato de tentarmos superar essa dependência não significa que a indústria petrolífera será menos importante. Mas a crise, de fato, está nos afetando e nos preocupando muito.

FOLHA - A crise econômica pode reavivar a violência sectária?
BABAN
- Se o governo não souber lidar com as consequencias da queda do preço do petróleo, haverá instabilidade. Os ânimos andam acirrados, e a situação ainda é frágil.

FOLHA - Qual foi a maior conquista do Iraque após a queda de Saddam?
BABAN
- A democracia, a possibilidade de as pessoas escolherem seus líderes e terem uma Constituição.

FOLHA - E qual o maior desafio?
BABAN - As divisões sectárias e a ingerência de países vizinhos.

FOLHA - O sr. se refere ao Irã? BABAN - Não, me refiro à... Argentina (risos).


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