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"Terror perdeu, e Iraque será reconstruído'
Em entrevista à Folha, ministro iraquiano admite que queda do preço do petróleo pode trazer instabilidade
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A reconstrução do Iraque só
está começando agora, seis
anos após a derrubada de Saddam Hussein pelos EUA e aliados. O diagnóstico é do homem
que mais conhece o assunto: o
ministro iraquiano do Planejamento, Ali Ghalib Baban.
Ele esteve no Brasil na semana passada em busca de parcerias econômicas para ajudar a
revitalizar seu país. Esteve em
Brasília, Rio e São Paulo, e concedeu entrevista à Folha momentos antes de embarcar de
volta a Bagdá, na quinta-feira.
FOLHA - A proposta que o sr. fez à
Petrobras para construir uma refinaria no Iraque está fora do processo
de licitações do governo iraquiano?
ALI GHALIB BABAN - Não. Convocamos várias petrolíferas a
atuarem no Iraque. Pensamos
especialmente na Petrobras
porque é a companhia que descobriu o campo de Majnun e
acreditamos que é eficiente.
O interesse nacional iraquiano é o nosso único norte. Analisaremos todas as ofertas sob
um ponto de vista estritamente
técnico e comercial e não aceitamos nenhuma interferência.
FOLHA - Lula vai ao Iraque?
BABAN - O assunto foi tratado
por nossas delegações na Cúpula América do Sul-Países
Árabes, no Qatar. Me parece
que meu primeiro-ministro virá primeiro ao Brasil. O presidente Lula retribuirá a visita
em seguida [até o fim deste ano,
segundo a Folha apurou].
FOLHA - Em que etapa da reconstrução o Iraque se encontra hoje?
BABAN - Acabamos de superar
a ameaça de conflito civil. Gastamos muito tempo enfrentando desafios ligados à estabilidade e unidade, só pensando em
manter o país vivo. Estamos
apenas começando a reconstruir. Levará tempo até a situação se normalizar, mas o importante é que deslanchamos.
FOLHA - Haverá privatizações?
BABAN - Privatizações são cruciais para a nossa revitalização.
Já começamos em alguns setores, como transporte e comércio. Também queremos privatizar a indústria petroleira. A
ideia sofre resistência de muitos políticos, mas resolveremos
isso pela via democrática.
FOLHA - Investidores temem que a
melhora da segurança seja frágil.
BABAN - O setor petroleiro em
particular hoje é 100% seguro.
No geral, há um claro declínio
dos atentados. Alguns grupos
terroristas estão agonizando e
vem tentando se mostrar ativos
fazendo alguns ataques. Mas o
terrorismo está derrotado.
FOLHA - O que acontecerá, após a
retirada americana, com as milícias
sunitas pagas pelos EUA para combater a Al Qaeda?
BABAN - O governo assumirá o
pagamento dos milicianos. Eles
prestam um grande serviço aos
iraquianos ao defender o país
contra a Al Qaeda. Alguns serão
absorvidos nas forças de segurança e outros, no setor civil.
FOLHA - Quanto custará a reconstrução do Iraque?
BABAN - É difícil dizer, mas
custará bilhões e bilhões de dólares. As guerras sucessivas e os
conflitos internos nos afligiram
muito. Mas o Iraque é um país
rico. Quando o setor petrolífero
começar a ser verdadeiramente
lucrativo, reativaremos outros
setores, como agricultura, indústria e turismo.
FOLHA - O sr. não teme a total dependência do petróleo?
BABAN - O petróleo é o nosso
pilar. O fato de tentarmos superar essa dependência não significa que a indústria petrolífera
será menos importante. Mas a
crise, de fato, está nos afetando
e nos preocupando muito.
FOLHA - A crise econômica pode
reavivar a violência sectária?
BABAN - Se o governo não souber lidar com as consequencias
da queda do preço do petróleo,
haverá instabilidade. Os ânimos andam acirrados, e a situação ainda é frágil.
FOLHA - Qual foi a maior conquista
do Iraque após a queda de Saddam?
BABAN - A democracia, a possibilidade de as pessoas escolherem seus líderes e terem uma
Constituição.
FOLHA - E qual o maior desafio?
BABAN - As divisões sectárias e
a ingerência de países vizinhos.
FOLHA - O sr. se refere ao Irã?
BABAN - Não, me refiro à... Argentina (risos).
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