|
Próximo Texto | Índice
IRAQUE OCUPADO
Republicano diz que imagens "vão além" do que já foi divulgado; Rumsfeld defende algumas técnicas usadas
Novas fotos de tortura chocam senadores
DA REDAÇÃO
Imagens inéditas de tortura e
humilhação sexual de iraquianos
por militares americanos mostradas ontem no Senado dos EUA
chocaram vários congressistas ao
exibir cenas que, segundo o líder
republicano (governista) na casa,
vão "muito além nas situações"
expostas em imagens divulgadas
nas últimas duas semanas pela
imprensa. As cenas, disseram senadores, reforçam a necessidade
de punir os responsáveis.
Pouco antes da sessão que gerou críticas contundentes e preocupação entre os legisladores, o
secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, defendeu parte das técnicas de coação empregadas na
prisão bagdali de Abu Ghraib, rechaçando afirmações de que elas
violassem as Convenções de Genebra, que garantem tratamento
humano a prisioneiros de guerra.
Rumsfeld não fez menção à tortura nem ao constrangimento sexual que chocaram os congressistas, abusos pelos quais ele já havia
assumido a responsabilidade, em
última instância, por ser o último
na cadeia de comando antes do
presidente George W. Bush. Mas
disse, a um comitê do Senado, que
técnicas como a supressão do sono, alterações alimentares e a manutenção de prisioneiros em posições de estresse foram aprovadas
por advogados do Pentágono e
condizem com as convenções.
Em resposta, o senador democrata Richard Durbin afirmou
que essas técnicas "vão muito
além" das Convenções de Genebra (1949). O artigo 26 da Terceira
Convenção, por exemplo, determina que "rações diárias de comida devem ser providenciadas em
quantidade, qualidade e variedade suficiente para manter os prisioneiros com boa saúde" e que
"medidas disciplinares coletivas
envolvendo alimentação são proibidas". Já o artigo 89 permite a supressão de privilégios garantidos
pelas convenções no caso de sanção disciplinar, mas enfatiza que
"em nenhum caso as punições devem ser desumanas, brutais ou
perigosas à saúde do prisioneiro".
"Descida ao inferno"
Numa sessão que durou cerca
de três horas -com 45 minutos
dedicados à exibição de slides-
deputados tiveram acesso a mais
de mil imagens de prisioneiros
iraquianos em Abu Ghraib. Segundo a TV CNN, cerca de 400 retratam abusos ou tortura.
Caberá ao governo decidir se as
imagens serão divulgadas.
"Eu diria que, pelo menos para
mim, o que vimos é aterrador. É
consistente com as fotos vistas na
imprensa até agora, mas vai além
em vários aspectos em termos das
atividades retratadas", disse o senador Bill Frist, líder republicano.
"Há cenas horríveis. Eu me senti
descendo ao inferno, e, infelizmente, isso é nossa criação", disse
Durbin. "Quando você começa a
pensar no sadismo, na violência,
na humilhação sexual, você desiste, não dá para agüentar."
Um exemplo é uma foto que, segundo fontes da CNN no Pentágono, mostra prisioneiros sodomizados com lâmpadas químicas
-tortura citada no relatório investigativo do general Antonio
Taguba. Na semana passada,
Rumsfeld, que já tivera acesso às
fotos tiradas pelos próprios encarregados da prisão, já dissera
que as novas imagens mostrariam
"coisa muito pior".
O Departamento da Defesa está
conduzindo uma extensa investigação sobre a tortura no Iraque,
enquanto o Congresso tem realizado sucessivas audiências sobre
o caso com membros do governo
e oficiais militares. Democratas
pedem a renúncia de Rumsfeld,
homem forte do governo Bush.
"Eles [os responsáveis] devem
ser indiciados criminalmente",
disse a senadora democrata Dianne Feinstein. Mais dois militares
foram indiciados. Os sargentos
Javal Davis, 26, e Ivan "Chip" Frederick 2º serão submetidos a corte
marcial, mas a data não foi marcada. Até agora, nove militares já
foram indiciados.
A general Janis Karpinski, comandante da brigada responsável
por Abu Ghraib quando os abusos ocorreram, afirmou que foi
contra ceder o controle da prisão
a oficiais de inteligência, mas foi
desautorizada.
Segundo o general Taguba, nenhum comandante deu ordem de
tortura, embora tenha havido "falhas de comando". Mas, segundo
o jornal "The Washington Post",
Karpinski coloca no centro das
decisões que deram margem aos
abusos o general Ricardo Sanchez, chefe das tropas no Iraque, e
o general Geoffrey Miller, o novo
responsável pelas prisões no Iraque e ex-responsável por Guantánamo -a prisão em Cuba onde
os EUA mantêm suspeitos de terrorismo e onde, segundo Rumsfeld, não são aplicadas as Convenções de Genebra.
Segundo a general, Miller lhe
disse, em um encontro antes de
assumir, que queria tornar Abu
Ghraib "igual a Guantánamo".
Taguba confirmou que Karpinski protestou, mas enfatizou
que ela manteve a autoridade sobre parte dos guardas, o que a torna imputável.
Também a recruta que se tornou o maior símbolo do escândalo ao ser fotografada maltratando
prisioneiros, Lynndie England,
afirmou ontem que agiu sob ordens e que as fotos em que aparece seriam usadas como instrumento de pressão psicológica. England, 21, será submetida à corte
marcial e poderá ser condenada a
15 anos de prisão.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Frases Índice
|