São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

Próximo Texto | Índice

AMEAÇA NUCLEAR

Paris, Londres e Berlim dizem que, se Teerã retomar programa de enriquecimento de urânio, vão acionar ONU

Europeus ameaçam apoiar sanções ao Irã

DA REUTERS

A França, o Reino Unido e a Alemanha disseram ao Irã que porão fim às negociações sobre o programa nuclear iraniano e se juntarão aos EUA em seu esforço para que o Conselho de Segurança da ONU tome medidas contra o país se Teerã realmente retomar suas atividades nucleares, segundo informaram ontem autoridades da União Européia.
Após a ameaça, o chefe da agência atômica iraniana, Gholamreza Aghazadeh, disse em um programa de entrevistas da TV estatal do país que não há data certa para a retomada das atividades, e que ela pode ser adiada "por alguns dias".
Os ministros das Relações Exteriores das três principais potências da UE enviaram uma dura carta a Hassan Rohani, o principal negociador iraniano no que tange ao programa nuclear do país, avisando que a retomada de atividades nucleares que, potencialmente, poderiam ter fins bélicos "levaria o processo de negociação ao fim", disse um diplomata da UE, citando a carta. "As conseqüências só poderiam ser negativas para o Irã", afirmou.
O premiê britânico, Tony Blair, explicou as potenciais conseqüências ao falar com jornalistas: "Certamente, vamos apoiar uma medida para levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU se o Irã não cumprir suas obrigações e seus deveres", afirmou o premiê.
Os EUA acreditam que o programa nuclear iraniano, que, segundo Teerã, só visa a produção de energia, seja uma fachada para a produção de bombas atômicas e têm pressionado Teerã, ameaçando levar o caso à apreciação do Conselho de Segurança. Este poderá aplicar sanções econômicas ao Irã se chegar à conclusão de que seu governo busca obter armas de destruição em massa.
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que o governo de George W. Bush espera que, apesar das ameaças de Teerã, o Irã não vá abandonar as negociações.
"O Conselho de Segurança sempre será uma alternativa se os iranianos não respeitarem suas obrigações. Mas ainda esperamos que eles reconheçam a posição em que estão", disse a secretária a deputados americanos.
A União Européia compartilha as preocupações americanas, mas tem oferecido incentivos para que Teerã aceite abandonar seu programa nuclear. Desde o final de 2003, a União Européia tem sido a principal interlocutora de Teerã, e a carta enviada a Rohani marca uma mudança de posição do bloco, que vinha buscando uma solução sem confronto com as autoridades iranianas.

Teerã
O governo iraniano se recusa a abrir mão de seu programa nuclear, que, segundo ele, é um direito soberano do país. Cansado da demora das negociações, o governo iraniano disse que o tempo para um acordo está acabando e avisou que pretende retomar partes de seu programa de enriquecimento de urânio.
Talvez a carta da UE já tenha surtido efeito positivo. Segundo autoridades que trabalham com o tema em Bruxelas, o governo iraniano está disposto a dar mais uma chance às negociações com a UE antes de retomar suas atividades nucleares.
Horas antes, um diplomata que trabalha na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena (Áustria), disse à agência de notícias Reuters que o órgão poderia receber "em breve" uma carta da administração iraniana, notificando a retomada de suas atividades nucleares.
Sirus Naseri, principal autoridade iraniana na AIEA, chegou a Viena com uma carta para o chefe da agência da ONU, Mohamed El Baradei. Mas, segundo diplomatas, ela poderá não ser entregue a El Baradei.
Um funcionário do órgão afirmou que, nos últimos dias, europeus e iranianos tiveram encontros informais, o que gerou a esperança de que as negociações, que tinham recomeçado em novembro -depois que Teerã aceitou suspender todas as atividades ligadas ao enriquecimento de urânio-, possam ser retomadas.
De acordo com outro diplomata que trabalha na AIEA, não se espera que o Irã retome suas atividades nucleares antes da eleição presidencial no país, marcada para 17 de junho. Não é por acaso que o impasse atual ocorre pouco antes da eleição, segundo diplomatas europeus.


Próximo Texto: País leva a sério projeto nuclear, afirma analista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.