|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grupo desenvolveu técnica de homens-bombas
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA REDAÇÃO
Em tempos de Al Qaeda e
Hamas, islamismo virou sinônimo de terrorismo. É até defensável a tese de que certos aspectos da escatologia muçulmana favorecem ideologias extremistas, que veem o assassinato de civis como missão divina. Mas basta examinar a guerra civil no Sri Lanka para perceber que o problema é mais geral. Se há um culpado pela
violência interétnica, o melhor
candidato ainda é a natureza
humana.
De fato, a moderna "tecnologia" dos ataques suicidas -incluindo o cinto de explosivos e
as temíveis mulheres-bombas- surgiu neste conflito que
opõe um grupo de hinduístas
seculares, os Tigres de Libertação do Tâmil Eelam (TLTE), a
budistas, religião que, sabe-se
lá por quê, consta do ideário
ocidental como pacifista. Entre
80 e 100 mil já morreram desde
o início da guerra, em 1983.
A disputa tem origens na administração colonial. Seguindo
a máxima do "Divide et impera", os britânicos recrutavam a
elite do funcionalismo no Sri
Lanka -antigo Ceilão e ainda
mais antiga Taprobana, para
quem ainda lembra dos versos
de Camões- entre a minoria
tâmil (hoje 18% da população).
Ensinavam-lhes inglês e davam-lhes os melhores empregos disponíveis.
Não foi portanto uma surpresa que, após a independência,
em 1948, os budistas cingaleses
(74%) buscassem compensações. Em 1956, o Parlamento
tornou o cingalês a única língua
oficial do país, afastando os tâmeis de cargos oficiais e universidades. A medida, embora revertida alguns anos depois, resultou em mudanças profundas
na repartição do poder. Até
1955, os tâmeis constituíam a
totalidade da administração.
Na década de 70, o balanço estava completamente invertido.
O descontentamento tâmil
materializou-se no surgimento
de mais de 30 grupos de oposição, que iam desde bandos de
jovens a exercer a chamada resistência pacífica até milícias
armadas com graus variáveis de
ferocidade. Os cingaleses, é claro, reagiram, promovendo
massacres e toda sorte de violações a direitos humanos.
Em 1976, Velupillai Prabhakaran, um jovem "tigre" tâmil
com leves tendências socialistas, fundou o TLTE, que ganhava proeminência à medida que
se radicalizava. Financiado pela diáspora tâmil no Ocidente e
pelos tâmeis da Índia, o grupo
chegou a contar com uma "Marinha" e uma "Força Aérea".
Após o 11 de Setembro e uma
série de fracassos nas negociações de paz, o dinheiro dos Tigres começou a minguar. O governo cingalês viu aí uma boa
oportunidade de lançar o que
imagina ser a ofensiva final.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Israelenses criticam "frieza" de Bento 16 Índice
|