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Filho do xá pede pressão brasileira ao Irã
Ex-príncipe herdeiro do país persa diz à Folha que regime só ganha tempo com mediação do Brasil na questão nuclear
Reza Pahlavi 2º afirma ser problemático não estarem programados encontros entre Lula e integrantes
do bloco opositor iraniano
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Décadas após ver seu pai derrubado pela Revolução Iraniana (1979), o ex-príncipe herdeiro do Irã, Reza Pahlavi 2º, 49,
virou um dos mais bem conectados -e controversos- opositores do regime dos aiatolás.
De Washington, onde vive
sua família, ele enviou ontem
um recado ao Brasil: "Se querem mediar um acordo nuclear
com Teerã, tudo bem, mas não
pensem que isso é suficiente".
Pahlavi 2º se referia à viagem, neste final de semana, do
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã. Lula
pretende articular um acordo
de troca de material nuclear para evitar a imposição de novas
sanções do Conselho de Segurança da ONU ao Irã por seu
programa de enriquecimento
de urânio.
Os EUA e as potências ocidentais creem que o programa
iraniano visa a bomba -Teerã
diz buscar energia.
O ex-príncipe é cético quanto
à chance de a proposta de mediação do Brasil gerar solução.
Também afirma ser problemático não estarem programados encontros com membros
da oposição: "O único caminho
real é apoiar a sociedade civil".
Ele já dissera, em entrevista,
que uma das melhores alternativas ao regime atual seria uma
monarquia parlamentarista.
Mas, à Folha, defendeu só
um sistema democrático secular e disse que, enquanto está
pronto para servir a seu país,
não age por pretensões de poder futuro.
Atualmente, Pahlavi 2º divide seu tempo apoiando a dissidência entre os EUA e a Europa. Autor de três livros sobre o
Irã, ele diz ser financiado por
compatriotas opositores e por
sua mãe, Farah, viúva do xá Reza Pahlavi.
FOLHA - O que acha da tentativa de
mediação do Brasil com Teerã?
REZA PAHLAVI 2º - Não tenho razão para crer que isso possa trazer uma reviravolta. Acho que é
mais uma tática do regime de
deixar o tempo passar. Se o
Brasil falhar, amanhã o mediador será a Argentina, depois o
Peru... é enrolação.
Sou o primeiro a defender
que o Irã tem direito à tecnologia nuclear para energia.
Mas, se é esse o propósito,
por que falta transparência?
Estamos quase sob ameaça
de ataque militar por causa da
intransigência do regime.
FOLHA - O que acha que o Brasil deveria fazer?
PAHLAVI 2º - Meu conselho é:
não aposte todas fichas em uma
coisa só.
Se [o Brasil] quer dar ao processo de negociação mais uma
chance, tudo bem, mas ao mesmo tempo aumente a pressão.
De toda forma será necessário engajamento com a sociedade. O melhor investimento que
você pode fazer é na democratização, que é a maior garantia
contra [riscos da] proliferação
nuclear. O mundo vai acabar
percebendo que o problema está no regime em si.
FOLHA - Lula não planeja se encontrar com opositores...
PAHLAVI 2º - Por duas razões: a)
não vão deixar; e b) por agir no
mesmo padrão de falar com o
governo como se ele representasse todo o país.
Governos estrangeiros são limitados no que podem fazer
porque podem ser acusados de
interferência.
Mas há um limite para até
onde o mundo pode se esconder por trás da realpolitik ou
dos pretextos diplomáticos.
FOLHA - O Brasil crê que sanções só
serviriam para endurecer o regime.
O sr. concorda?
PAHLAVI 2º - Sanções não podem ser o objetivo. Podemos
discuti-las como meio para um
fim. Se você aumenta as sanções sem chegar a forçar a queda do regime, está só prejudicando a população. Não adianta
apertar mais um pouquinho.
Quanto mais empobrecida a
sociedade e a oposição, melhor
para o governo.
FOLHA - Como o sr. propõe o engajamento com a população?
PAHLAVI 2º - O "movimento verde" [do líder opositor reformista Mir Hossein Mousavi] precisa da chance de se reagrupar fora do Irã.
Estou fazendo tudo o que
posso para facilitar isso, porque
o movimento não sobreviverá
sem colegas ajudando do lado
de fora.
Até o ponto em que o regime
esteja cedendo à pressão interna -eventualmente com greves trabalhistas generalizadas,
particularmente no setor petrolífero- há muito o que fazer.
Parte disso depende da cooperação da comunidade internacional.
Não nos ajuda, por exemplo,
quando empresas vendem tecnologia que ajuda o governo a
monitorar comunicações, como a Siemens e a Nokia fazem.
Por outro lado, pode-se ajudar o povo a burlar o monitoramento dando acesso livre à informação. Isso está ao alcance
da comunidade internacional.
FOLHA - O sr. tem contato com
Mousavi?
PAHLAVI 2º - Bem, tenho tomado cuidado para não expor as
pessoas. Claro, meus laços são
bem disseminados, não apenas
com a oposição, mas também
dentro da estrutura do regime,
na Guarda Revolucionária.
É preciso dar aos elementos
do regime que estão desiludidos esperança de reintegração.
O princípio da anistia é um
fator chave. Não posso ver um
cenário de mudança não violenta sem a participação das
forças coercitivas.
Correspondente narra o
bastidor desta entrevista
www.folha.com.br/101324
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