São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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Estudo nega que terror seja maior ameaça

Cientistas de Oxford afirmam que catástrofe do aquecimento global pode gerar mais tensão e guerras

DA REDAÇÃO

No final de 2003, pesquisa concluída pelo Pentágono mencionou a possibilidade de uma "catástrofe global que custaria milhões de vidas em guerras e desastres". Referia-se aos efeitos do aquecimento do planeta, problema que o governo de George W. Bush diz ser "um mito".
O episódio, que reflete um prognóstico alarmante e a ausência de sensibilidade política para levá-lo a sério, é citado em relatório divulgado ontem, no Reino Unido, pelo independente Grupo de Pesquisa de Oxford, em documento intitulado "Respostas Globais para Ameaças Globais, Segurança Sustentável para o Século 21".
O argumento de seus três autores -Chris Abbott, Paul Rogers e John Sloboda- é de que a "guerra ao terrorismo" não é o melhor instrumento para garantir às próximas gerações um mundo mais seguro.
Muito pelo contrário, afirmam. Embora centenas de bilhões de dólares tenham sido gastos, foram recrutados terroristas em número maior que o neutralizado por atividades repressivas. Além do mais, a guerra ao terrorismo desviou a atenção de questões que, essas sim, podem gerar futuros conflitos de maior gravidade.
O aquecimento global é um deles, dizem os autores. Citam relatórios de especialistas para os quais dentro de 20 anos a atmosfera estará saturada de poluentes, o que gerará mudanças radicais no clima.
Isso provocaria o deslocamento maciço de populações de áreas litorâneas e de deltas dos grandes rios que o mar poderá inundar. Haveria queda na oferta de alimentos, imigração em patamares inéditos, tensões sociais e guerras.
O estudo cita ainda entre as causas de futuros conflitos a concorrência em torno do petróleo, com reservas concentradas no Oriente Médio.
Essa pressão não diminuirá com a construção maciça de reatores termonucleares. A energia nuclear, afirma, cria uma tecnologia conversível em arma de destruição em massa e é alvo potencial de radicais.
É necessário partir para fontes de energia renováveis, com políticas energéticas "sustentáveis" que economizem e deixem de depender de regiões cujas jazidas inevitavelmente gerariam novas guerras.

Guerras civis
Há ainda a "marginalização socioeconômica" de uma maioria crescente da população mundial, fonte de tensões e guerras civis e também fator que favorece o crime organizado e o terrorismo.
Existe, por fim, a militarização global. Superada a Guerra Fria -que elevou a US$ 1 trilhão, em valores atuais, os gastos do setor-, diversifica-se a tecnologia e a transportabilidade dos contingentes, para que a única superpotência possa intervir em pontos cada vez mais distantes do planeta.
E os arsenais nucleares do Ocidente se modernizam em lugar de serem desmantelados, conforme demonstrou, em 2005, o fracasso da conferência de Nova York da revisão do Tratado de Não-Proliferação.
Nesse ponto, afirmam os autores do estudo, há uma concentração de gastos governamentais que poderiam ser canalizados para a solução de outras questões -a pobreza mundial, as fontes alternativas de energia- que no futuro gerarão novas tensões e novas guerras.
O texto de 36 páginas, que levou um ano e meio para ser elaborado, propõe menos ênfase em tudo aquilo que seja "defesa" ou "controle" (militar, energia termonuclear, operações antiterrorismo), e ênfase maior naquilo que designa como parâmetros de segurança sustentável: redução do consumo de energia, com fontes renováveis, redução da pobreza, diálogo político, desarmamento e não-proliferação.
Clare Short, ex-secretária britânica de Desenvolvimento Internacional e hoje adversária de Tony Blair, disse aos autores do estudo que nele há propostas "sérias e alternativas" que poderiam tornar o mundo mais seguro. A seu ver, americanos e britânicos têm políticas de segurança "contraproducentes".


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