|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estudo nega que terror seja maior ameaça
Cientistas de Oxford afirmam que catástrofe do aquecimento global pode gerar mais tensão e guerras
DA REDAÇÃO
No final de 2003, pesquisa
concluída pelo Pentágono
mencionou a possibilidade de
uma "catástrofe global que custaria milhões de vidas em guerras e desastres". Referia-se aos
efeitos do aquecimento do planeta, problema que o governo
de George W. Bush diz ser "um
mito".
O episódio, que reflete um
prognóstico alarmante e a ausência de sensibilidade política
para levá-lo a sério, é citado em
relatório divulgado ontem, no
Reino Unido, pelo independente Grupo de Pesquisa de Oxford, em documento intitulado
"Respostas Globais para Ameaças Globais, Segurança Sustentável para o Século 21".
O argumento de seus três autores -Chris Abbott, Paul Rogers e John Sloboda- é de que
a "guerra ao terrorismo" não é
o melhor instrumento para garantir às próximas gerações um
mundo mais seguro.
Muito pelo contrário, afirmam. Embora centenas de bilhões de dólares tenham sido
gastos, foram recrutados terroristas em número maior que o
neutralizado por atividades repressivas. Além do mais, a guerra ao terrorismo desviou a
atenção de questões que, essas
sim, podem gerar futuros conflitos de maior gravidade.
O aquecimento global é um
deles, dizem os autores. Citam
relatórios de especialistas para
os quais dentro de 20 anos a atmosfera estará saturada de poluentes, o que gerará mudanças
radicais no clima.
Isso provocaria o deslocamento maciço de populações
de áreas litorâneas e de deltas
dos grandes rios que o mar poderá inundar. Haveria queda na
oferta de alimentos, imigração
em patamares inéditos, tensões
sociais e guerras.
O estudo cita ainda entre as
causas de futuros conflitos a
concorrência em torno do petróleo, com reservas concentradas no Oriente Médio.
Essa pressão não diminuirá
com a construção maciça de
reatores termonucleares. A
energia nuclear, afirma, cria
uma tecnologia conversível em
arma de destruição em massa e
é alvo potencial de radicais.
É necessário partir para fontes de energia renováveis, com
políticas energéticas "sustentáveis" que economizem e deixem de depender de regiões cujas jazidas inevitavelmente gerariam novas guerras.
Guerras civis
Há ainda a "marginalização
socioeconômica" de uma maioria crescente da população
mundial, fonte de tensões e
guerras civis e também fator
que favorece o crime organizado e o terrorismo.
Existe, por fim, a militarização global. Superada a Guerra
Fria -que elevou a US$ 1 trilhão, em valores atuais, os gastos do setor-, diversifica-se a
tecnologia e a transportabilidade dos contingentes, para que a
única superpotência possa intervir em pontos cada vez mais
distantes do planeta.
E os arsenais nucleares do
Ocidente se modernizam em
lugar de serem desmantelados,
conforme demonstrou, em
2005, o fracasso da conferência
de Nova York da revisão do
Tratado de Não-Proliferação.
Nesse ponto, afirmam os autores do estudo, há uma concentração de gastos governamentais que poderiam ser canalizados para a solução de outras questões -a pobreza mundial, as fontes alternativas de
energia- que no futuro gerarão
novas tensões e novas guerras.
O texto de 36 páginas, que levou um ano e meio para ser elaborado, propõe menos ênfase
em tudo aquilo que seja "defesa" ou "controle" (militar,
energia termonuclear, operações antiterrorismo), e ênfase
maior naquilo que designa como parâmetros de segurança
sustentável: redução do consumo de energia, com fontes renováveis, redução da pobreza,
diálogo político, desarmamento e não-proliferação.
Clare Short, ex-secretária
britânica de Desenvolvimento
Internacional e hoje adversária
de Tony Blair, disse aos autores
do estudo que nele há propostas "sérias e alternativas" que
poderiam tornar o mundo mais
seguro. A seu ver, americanos e
britânicos têm políticas de segurança "contraproducentes".
Texto Anterior: Novos ataques matam pelo menos 24 no país Próximo Texto: Destaques do relatório Índice
|