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análise
Luta interna se confunde com oposição a Israel
DA REDAÇÃO
Como tudo o que acontece
nos territórios palestinos, a
sangrenta disputa entre Fatah e Hamas ocorre sob a influência de quatro décadas
de resistência à ocupação israelense. Os especialistas,
porém, se dividem quanto ao
peso de Israel na atual escalada de violência em Gaza.
Para Nadia Hijab, diretora
do Instituto de Estudos Palestinos, que tem sede em Jerusalém e escritórios em Beirute e Washington, a crise
atual é resultado direto da
ocupação israelense. "Há razões para a disputa, mas elas
não podem ser separadas da
ocupação", disse Hijab à Folha, por telefone. "É como
confinar um grupo de pessoas numa prisão e esperar
que a luta comece."
Para ela, o fato de não haver uma solução política com
Israel no horizonte é um
"grave obstáculo" para o sucesso do governo de união
palestino. "Essa é uma situação que já dura 40 anos e que
não tem perspectiva de ser
solucionada. Desesperadas,
as pessoas lutam", disse.
Consultada pela agência
Associated Press, Beverley
Milton-Edwards, estudiosa
do Hamas da Universidade
Queens, em Belfast, Irlanda
do Norte, disse que a disputa
entre as duas principais facções palestinas assumiu uma
dinâmica própria e está além
da luta contra a ocupação.
Para ela, a violência dos últimos dias mostrou que rivalidade entre Fatah e Hamas
em Gaza se encaminha para
um desfecho. "Isso se tornou
uma batalha existencial pela
alma do povo palestino", diz.
Mesmo quando essa batalha envolve somente palestinos, Israel continua presente, ao menos na retórica.
Pouco antes de tomarem ontem uma base do Fatah no
norte de Gaza, os milicianos
do Hamas fizeram ecoar um
aviso pelos alto-falantes de
uma mesquita: "Terminou o
prazo para rendição dos colaboradores sionistas".
Para Talal Okal, cientista
político de Gaza, o desdobramento da crise dependerá de
como as forças do Fatah reagirão ao avanço do Hamas
nos próximos dias. "Pode ser
que hoje [ontem] estejamos
vivendo o início de uma
guerra civil", disse Okal. "Se
Abbas decidir mover suas
forças de segurança para o
ataque, em vez de somente
defender-se, nós entraremos
em um ciclo [de violência]
ainda mais amplo."
Okal, professor da Universidade Azhar, tradicional reduto do Fatah em Gaza, disse
ser contra a possível saída do
partido do governo de união.
E demonstrou pouco otimismo em relação ao futuro.
"Estamos nos encaminhando rumo a um colapso", previu o professor. "Tanto do
sistema político quanto da
sociedade."
Com agências internacionais
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