São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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análise

Luta interna se confunde com oposição a Israel

DA REDAÇÃO

Como tudo o que acontece nos territórios palestinos, a sangrenta disputa entre Fatah e Hamas ocorre sob a influência de quatro décadas de resistência à ocupação israelense. Os especialistas, porém, se dividem quanto ao peso de Israel na atual escalada de violência em Gaza.
Para Nadia Hijab, diretora do Instituto de Estudos Palestinos, que tem sede em Jerusalém e escritórios em Beirute e Washington, a crise atual é resultado direto da ocupação israelense. "Há razões para a disputa, mas elas não podem ser separadas da ocupação", disse Hijab à Folha, por telefone. "É como confinar um grupo de pessoas numa prisão e esperar que a luta comece."
Para ela, o fato de não haver uma solução política com Israel no horizonte é um "grave obstáculo" para o sucesso do governo de união palestino. "Essa é uma situação que já dura 40 anos e que não tem perspectiva de ser solucionada. Desesperadas, as pessoas lutam", disse.
Consultada pela agência Associated Press, Beverley Milton-Edwards, estudiosa do Hamas da Universidade Queens, em Belfast, Irlanda do Norte, disse que a disputa entre as duas principais facções palestinas assumiu uma dinâmica própria e está além da luta contra a ocupação.
Para ela, a violência dos últimos dias mostrou que rivalidade entre Fatah e Hamas em Gaza se encaminha para um desfecho. "Isso se tornou uma batalha existencial pela alma do povo palestino", diz.
Mesmo quando essa batalha envolve somente palestinos, Israel continua presente, ao menos na retórica. Pouco antes de tomarem ontem uma base do Fatah no norte de Gaza, os milicianos do Hamas fizeram ecoar um aviso pelos alto-falantes de uma mesquita: "Terminou o prazo para rendição dos colaboradores sionistas".
Para Talal Okal, cientista político de Gaza, o desdobramento da crise dependerá de como as forças do Fatah reagirão ao avanço do Hamas nos próximos dias. "Pode ser que hoje [ontem] estejamos vivendo o início de uma guerra civil", disse Okal. "Se Abbas decidir mover suas forças de segurança para o ataque, em vez de somente defender-se, nós entraremos em um ciclo [de violência] ainda mais amplo."
Okal, professor da Universidade Azhar, tradicional reduto do Fatah em Gaza, disse ser contra a possível saída do partido do governo de união. E demonstrou pouco otimismo em relação ao futuro. "Estamos nos encaminhando rumo a um colapso", previu o professor. "Tanto do sistema político quanto da sociedade."


Com agências internacionais


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