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Blair compara mídia a feras que "despedaçam pessoas"
Premiê demissionário admite, porém, que ele e seu partido já assediaram imprensa
Cultura oficial de "dourar a pílula" foi responsável por deterioração, diz opositor; premiê sugere mudança na regulamentação do setor
DA REDAÇÃO
O premiê do Reino Unido,
Tony Blair, atacou ontem a mídia de seu país, em um discurso
que fez para jornalistas da
agência Reuters, em Londres.
Segundo Blair, que deixará seu
cargo em duas semanas, os
meios de comunicação britânicos comportam-se como "bestas selvagens", que "fazem pessoas e reputações em pedaços".
Mas Blair não culpou inteiramente os jornalistas por esse
comportamento; segundo o
premiê, ele é provocado pela
competição imposta pelos sites
e os canais de notícias 24 horas.
"O medo de perder algo significa que a mídia hoje, mais do que
nunca, caça em bando."
Para o primeiro-ministro, os
jornalistas são cada vez mais
"conduzidos pelo impacto". Isso, disse, está fazendo cair o padrão do noticiário e "prestando
um desserviço ao público". Em
conseqüência, prosseguiu, a
"autoconfiança do país" é prejudicada, o que "reduz nossa
capacidade de tomar decisões".
Relação complicada
Tony Blair sempre teve uma
relação complicada com a imprensa, e ela piorou depois que
o Reino Unido apoiou a invasão
do Iraque, em 2003. Em seus
dez anos no poder, completados em maio passado, o premiê
se aproximou do empresário
Rupert Murdoch, proprietário
da News Corporation, que tem
entre suas marcas o tablóide
britânico "Sun" e que costuma
impor um jornalismo partidarizado aos seus meios.
Blair também formou uma
equipe de assessores para a
prática do "spin" -a introdução no noticiário de versões favoráveis ao premiê. O mais famoso deles foi seu ex-diretor de
Comunicações Alastair Campbell, que renunciou em 2003
depois da controvérsia em que
o governo foi acusado de exagerar um dossiê sobre supostas
armas de destruição em massa
desenvolvidas pelo regime de
Saddam Hussein.
No discurso de ontem, Blair
não citou o Iraque, mas admitiu
ter contribuído para o fato de a
cobertura política da imprensa
britânica ter, segundo ele, "piorado a olhos vistos" nos últimos
dez anos: "Nós demos uma
atenção incomum (...) ao cortejo e ao assédio à mídia".
O premiê, no entanto, disse
que tal atitude deveu-se à "hostilidade" da imprensa ao seu
Partido Trabalhista quando este ainda estava na oposição, até
1997. O premiê criticou ainda o
que vê como uma tendência de
alguns veículos de não diferenciar notícias de opiniões. Ele
apontou o jornal "Independent" como exemplo.
No discurso, Blair sugeriu
que o sistema de regulação da
imprensa britânica seja alterado, uma vez que nem todos os
veículos de comunicação se enquadram mais nas categorias
de jornais ou emissoras de TV.
Atualmente, no Reino Unido, a
TV e o rádio têm seu órgão regulamentador, o Ofcom, e os
jornais são regulados pela Comissão de Reclamações da Imprensa. Ambos são independentes do governo.
Reação
Para a oposição, foi a conduta
do premiê que provocou a deterioração da relação entre os políticos e a imprensa no Reino
Unido. "Uma análise mais justa
indicaria a própria cultura de
"dourar a pílula" do premiê" como responsável por essa deterioração, disse o parlamentar
Don Foster, do Partido Liberal
Democrata.
Simon Kelner, editor-chefe
do "Independent", disse que o
ataque de Blair ao jornal foi um
atestado da posição antiguerra
que o veículo adotou desde a invasão do Iraque. "Ele estava errado, e nós certos", afirmou
Kelner, que considerou a crítica feita por Tony Blair um tipo
de "medalha de honra".
Em editorial intitulado "Sermão correto, pregador errado",
o jornal de esquerda "The
Guardian" disse que Blair estava certo ao apontar "algumas
das piores características do
jornalismo britânico hoje", mas
que ele se esqueceu de citar
pontos positivos como a BCC,
"a melhor organização jornalística do mundo". O jornal também rejeitou "qualquer tentativa de colocar a imprensa sob
um regulamento".
Com agências internacionais, o "New York Times" e o "Independent"
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