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Presos de Guantánamo terão proteção legal
Em decisão histórica por 5 votos a 4, Suprema Corte determina que suspeitos de terrorismo podem recorrer à Justiça civil americana
Bush diz que respeita, mas
não concorda com parecer;
grupos de direitos humanos
e ONU apóiam a disposição
da mais alta Corte dos EUA
DA REDAÇÃO
A política antiterrorismo de
George W. Bush sofreu ontem
severo golpe com a decisão da
Suprema Corte de permitir que
prisioneiros de Guantánamo
recorram aos tribunais civis
dos EUA para fazer valer direitos que lhes foram negados.
Em apertada votação de 5 a 4,
prevaleceu a posição do relator,
Anthony Kennedy, de que "as
leis e a Constituição devem
prevalecer em períodos extraordinários". A seu ver, as
normas militares em vigor são
"inadequadas", ao qualificarem
os supostos terroristas de
"combatentes inimigos ilegais", sem que possam recorrer
ao habeas corpus ou a procedimentos de defesa que beneficiam réus de tribunais civis.
O presidente Bush, que estava em Roma, disse que obedeceria à decisão -"o que não significa que tenha que concordar
com ela"- e declarou ter afinidades com os juízes que votaram contra o relator. "Estudaremos o caso para saber se há
necessidade de novas leis para
proteger o povo americano."
A Suprema Corte por duas
vezes contestara o limbo jurídico em que os detentos estavam
submersos em Guantánamo
-para o Pentágono, nessa base
militar dos EUA em Cuba eles
não estavam sob jurisdição das
leis americanas, e o status especial lhes tira do escopo da legislação internacional, como as
convenções de Genebra sobre
os direitos dos prisioneiros de
guerra. Mas Bush, então com
maioria no Congresso, criou
em 2006 legislação para contornar as limitações criadas.
Embora a decisão de ontem
esteja ainda sujeita a ambigüidades que os juízes federais deverão esclarecer -eles se reunirão para analisar as 90 páginas do voto de Anthony Kennedy- a votação de ontem na
Suprema Corte foi mais longe
ao negar a Guantánamo, com
quase 300 prisioneiros, o princípio da extraterritorialidade.
Parte dos prisioneiros, capturada no Afeganistão em 2001,
não tem culpa ou acusação formalizada. O Pentágono diz ter
informações para a abertura de
processos contra 80 deles. Algumas das confissões foram
obtidas por meio de técnicas
coercitivas como a simulação
de afogamento -que o Pentágono não considera tortura,
mas muitos americanos sim.
"EUA mais vulneráveis"
O voto mais eloqüente contra
o relator partiu ontem do conservador Antonin Scalia. Disse
que seu país, em guerra contra
o radicalismo islâmico, ficará
mais vulnerável, o que "quase
certamente provocará a morte
de mais americanos".
Teve apoio de três juízes conservadores. Com o relator, conservador moderado que acabou
por reverter a maioria, votaram
os quatro juízes liberais.
O virtual candidato republicano à Casa Branca, John
McCain, disse que é preciso
respeitar a decisão dos juízes e
lembrou que defende o fechamento da prisão.
Seu virtual adversário democrata, Barack Obama, afirmou
que a Suprema Corte rejeitou a
tentativa de Bush de criar "um
buraco negro em Guantánamo". Disse que a decisão volta a
dar credibilidade jurídica aos
EUA e supera a falsa oposição
entre combater o terrorismo e
respeitar o habeas corpus.
Brian Mizer, advogado de Salim Ahmed Hamdan, ex-motorista de Osama bin Laden, disse
que se baseará na decisão da
Suprema Corte para anular o
indiciamento de seu cliente.
Para a Anistia Internacional,
a decisão põe fim "ao hábito do
governo Bush de atirar alguém
na prisão e jogar fora a chave".
A União Americana pelas Liberdades Civis disse que a Suprema Corte iniciou o desmantelamento dos processos militares, baseados na coação física.
A comissária da ONU para direitos humanos, Louise Arbour, disse que os prisioneiros
de Guantánamo, "depois de
mais de seis anos", têm o direito a um processo civil.
Com agências internacionais
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