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Ahmadinejad é reeleito presidente do Irã
Conservador tinha 65% dos votos com 80% das urnas apuradas; antes dos resultados, oposição cantou vitória e alertou contra "fraude"
Comparecimento maciço adiou fechamento das urnas em quatro horas; Ocidente queria vitória do moderado Mousavi para maior diálogo
Kamran Jebreili/Associated Press
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Iranianas fazem fila para votar para eleger o novo presidente do país em uma mesquita em Qom, a cerca de 120 km de Teerã
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
O presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, foi reeleito ontem no
primeiro turno para mais quatro anos no cargo, segundo cifras oficiais de apuração.
Com quase 80% das urnas
apuradas na madrugada de hoje, Ahmadinejad tinha cerca de
65% dos votos e não poderia
mais ser alcançado pela soma
dos votos dos rivais, o que levaria a um segundo turno. Seu
perseguidor mais próximo, o
reformista Mir Hossein Mousavi, tinha aproximadamente
32% dos votos.
A apuração deveria terminar
no início da manhã de hoje em
Teerã.
Os dois candidatos declararam vitória ontem à noite, após
a campanha mais acirrada na
história do país. Na madrugada,
assessores de Mousavi já afirmavam que o resultado era
uma "fraude".
Horas antes do fechamento
das urnas, Mousavi afirmou:
"Baseado em contas preliminares, sou o vencedor". Seus assessores diziam que ele obtivera 65% dos votos. Mousavi ainda não havia se pronunciado
após a confirmação da vitória
de Ahmadinejad.
Tão logo a eleição acabou, a
agência oficial de notícias iraniana, Irna, também declarou
uma "ampla vitória" do atual
presidente. O responsável pela
campanha eleitoral de Ahmadinejad, Mojtaba Samareh Hashemi disse que "a diferença entre o número de votos obtidos
por Ahmadinejad e os conseguidos por seus rivais é tamanha que qualquer dúvida sobre
a sua vitória será interpretada
como uma piada".
Com quatro candidatos na
disputa, a corrida ficou polarizada entre Ahmadinejad e
Mousavi, que entre 1980 e 1988
foi primeiro-ministro do país,
cargo que não existe mais, e
desde então estava afastado da
política. Os dois outros postulantes obtinham, somados, menos de 3% dos votos, até o fechamento desta edição.
Ahmadinejad é mais popular
entre camponeses, aposentados, funcionários públicos e
militares, depois de manter
programas assistenciais no interior, aumentar salários do
funcionalismo e provocar os
EUA e Israel com um controverso programa nuclear.
Mousavi era o preferido de
mulheres, universitários, jovens urbanos, minorias étnicas
e na classe média, prometendo
menos restrições na vida cotidiana e melhores relações com
o Ocidente.
Desde a criação da República
Islâmica do Irã, em 1979, todos
os presidentes conseguiram se
reeleger para um segundo
mandato. A reeleição de Ahmadinejad, no entanto, era incerta
dados os efeitos devastadores
da crise econômica sobre o
país, com alta da inflação e do
desemprego e queda no preço
do petróleo, que move a economia iraniana.
Vários governos ocidentais,
inclusive os EUA, torciam por
uma vitória de Mousavi, que
tem uma retórica mais conciliatória, embora a política externa do Irã e o futuro de seu
programa nuclear sejam realmente decididos pelo aiatolá
Ali Khamenei, líder supremo.
Campanha inédita
Embora o voto no Irã seja facultativo, a afluência de eleitores foi tão grande que o fechamento das urnas foi adiado em
quatro horas -passou das 18h
para as 22h locais. Não foi divulgado o índice oficial de comparecimento, mas autoridades
disseram que ele estaria na casa
dos 80%, o que configuraria um
recorde.
Em 2005, depois de oito anos
do reformista Mohammad
Khatami no poder e frustração
pela lentidão nas mudanças,
muitos reformistas boicotaram
a eleição, o que facilitou a vitória de Ahmadinejad, então azarão na disputa contra o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997).
Desta vez, a campanha teve
comícios gigantes, debates pela
TV, dança na rua, carreatas e
festa, algo inédito no país.
Mousavi votou ontem de
mãos dadas com a mulher, no
que virou a assinatura de sua
campanha - o casal unido, onde sua mulher, Zahra Rahnavard, participou ativamente da
campanha, até em discursos.
Ahmadinejad votou a poucos
quilômetros de distância do
principal rival, fazendo o tradicional gesto de humildade persa, com os dedos fechados batendo na testa e abaixando levemente a cabeça, o que significa "sou seu servidor".
Longas filas
A campanha festiva que dominou Teerã nas últimas semanas desapareceu no dia da eleição, quando qualquer tipo de
propaganda é proibido.
Não existem zonas eleitorais,
então o eleitor decide em que
lugar de sua cidade vota, seja
numa escola, mesquita ou prédio público.
As filas para votar na imponente mesquita de Ershad superavam dois quarteirões.
Como nos principais locais
de votação, lá havia filas separadas para homens e mulheres.
Os eleitores preenchem as células de votação em várias cabines vizinhas, onde a privacidade é nula. Analfabetos levam
parentes às cabines para que
preencham para eles a cédula.
Em uma pequena cédula, o
eleitor escreve o nome e o código do seu candidato - não há
fotos ou o nome impressos. Ao
terminar, ele se dirige à mesa
de votação, onde apresenta a
cédula de identidade e tem o
dedo pintado para marcar sua
impressão digital, de maneira
que um mesmo eleitor não possa votar duas vezes.
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