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Área pobre de Teerã é reduto do vencedor
Imagem de "homem do povo" de Ahmadinejad atrai eleitores da zona sul da capital, onde presidente viveu até assumir cargo
População local exibe simplicidade e religiosidade em filas de votação; política de "defender Irã no mundo" é exaltada por partidários
DO ENVIADO A TEERÃ
A zona sul de Teerã, a mais
pobre da capital iraniana, é o
reduto na cidade em que o presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, mais contava com
respaldo popular.
Em seu principal bairro, Nazi
Abad, os shoppings não chegaram, e o grande bazar e as quitandas de frutas secas dominam a paisagem, junto com os
minaretes das mesquitas.
Cartazes com a foto do presidente são maioria nas janelas
de conjuntos habitacionais e
casas mais simples. Mas, surpreendentemente, fotos do
opositor derrotado Mir Hossein Mousavi também estão
por todo lado.
"Votei em Ahmadinejad porque ele é um homem do povo,
que fala como povo e defende o
Irã no mundo", diz o aposentado Meisam, 67, que afirma que
o valor de sua aposentadoria
aumentou duas vezes no último ano por conta das políticas
sociais do presidente. "Mas
muita gente daqui vai votar no
Mousavi por causa da inflação e
do desemprego, tem gente que
só vota com o bolso."
A fisionomia humana na zona sul também muda. Os religiosos parecem maioria nos locais de votação. Saem as garotas de jeans da zona norte, com
maquiagem forte e lenços coloridos na cabeça, mostrando boa
parte do cabelo com clareamento, e, em seu lugar, as mulheres estão cobertas com o
chador preto, dos pés à cabeça.
O visual masculino também é
diferente. A maioria dos homens opta por deixar a barba e
prefere calças de tergal ou linho
no lugar do jeans.
Apesar dos 32C, a maioria
usa camisa de manga comprida
e abotoada até o pescoço.
Ali perto, no bairro de Narmak, de classe média baixa operária, vivia Ahmadinejad até se
tornar presidente. Vizinhos
contam que o vencedor da eleição de ontem insistiu em continuar morando ali, no meio do
povo, mas que, por razões de
segurança, teve que sair.
"Muçulmanos o amam"
Outra área onde Ahmadinejad não parecia ontem ter sido
afetado pelo crescimento da
campanha de Mousavi em Teerã era o complexo residencial
Seyyed-o-Shohada. Ele foi
construído para abrigar familiares de mártires da Revolução
-e as fotos de Ahmadinejad
dominam as janelas.
Militares e religiosos são os
dois segmentos mais afins ao
conservador.
Como o clérigo Ali Reza Panahian, 45, um dos mais conhecidos do país, que vive em Qom,
a cidade sagrada do Irã, apelidada de "Vaticano dos xiitas".
Panahian votou em uma universidade de Teerã e falou com
a Folha na fila, onde fez questão de esperar por uma hora,
"como qualquer cidadão".
"Acho que Ahmadinejad
conseguiu derrotar as conspirações americanas contra o Irã
e revelou a hipocrisia da Europa", afirma o clérigo. "Ao contrário do que dizem, gosto de
sua política externa, é o que
mais me agrada dele, além de
nos defender contra o liberalismo ocidental."
Ele discorda do discurso da
oposição, que acusa Ahmadinejad de "isolar o país".
"Estive em Meca [cidade sagrada do islã, na Arábia Saudita] neste ano e vi que muçulmanos de tudo quanto é país o
amam, têm cem vezes mais admiração por ele que pelos nossos anteriores presidentes."
O clérigo acha que é cedo para se falar de diálogo com Barack Obama, como propõe o
presidente americano.
"Os Estados Unidos precisam mudar muito para que
concordemos com o diálogo",
diz. "Ahmadinejad é a melhor
opção para enfrentá-los."
(RJL)
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