São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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Área pobre de Teerã é reduto do vencedor

Imagem de "homem do povo" de Ahmadinejad atrai eleitores da zona sul da capital, onde presidente viveu até assumir cargo

População local exibe simplicidade e religiosidade em filas de votação; política de "defender Irã no mundo" é exaltada por partidários

DO ENVIADO A TEERÃ

A zona sul de Teerã, a mais pobre da capital iraniana, é o reduto na cidade em que o presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, mais contava com respaldo popular.
Em seu principal bairro, Nazi Abad, os shoppings não chegaram, e o grande bazar e as quitandas de frutas secas dominam a paisagem, junto com os minaretes das mesquitas.
Cartazes com a foto do presidente são maioria nas janelas de conjuntos habitacionais e casas mais simples. Mas, surpreendentemente, fotos do opositor derrotado Mir Hossein Mousavi também estão por todo lado.
"Votei em Ahmadinejad porque ele é um homem do povo, que fala como povo e defende o Irã no mundo", diz o aposentado Meisam, 67, que afirma que o valor de sua aposentadoria aumentou duas vezes no último ano por conta das políticas sociais do presidente. "Mas muita gente daqui vai votar no Mousavi por causa da inflação e do desemprego, tem gente que só vota com o bolso."
A fisionomia humana na zona sul também muda. Os religiosos parecem maioria nos locais de votação. Saem as garotas de jeans da zona norte, com maquiagem forte e lenços coloridos na cabeça, mostrando boa parte do cabelo com clareamento, e, em seu lugar, as mulheres estão cobertas com o chador preto, dos pés à cabeça.
O visual masculino também é diferente. A maioria dos homens opta por deixar a barba e prefere calças de tergal ou linho no lugar do jeans.
Apesar dos 32C, a maioria usa camisa de manga comprida e abotoada até o pescoço.
Ali perto, no bairro de Narmak, de classe média baixa operária, vivia Ahmadinejad até se tornar presidente. Vizinhos contam que o vencedor da eleição de ontem insistiu em continuar morando ali, no meio do povo, mas que, por razões de segurança, teve que sair.

"Muçulmanos o amam"
Outra área onde Ahmadinejad não parecia ontem ter sido afetado pelo crescimento da campanha de Mousavi em Teerã era o complexo residencial Seyyed-o-Shohada. Ele foi construído para abrigar familiares de mártires da Revolução -e as fotos de Ahmadinejad dominam as janelas.
Militares e religiosos são os dois segmentos mais afins ao conservador.
Como o clérigo Ali Reza Panahian, 45, um dos mais conhecidos do país, que vive em Qom, a cidade sagrada do Irã, apelidada de "Vaticano dos xiitas".
Panahian votou em uma universidade de Teerã e falou com a Folha na fila, onde fez questão de esperar por uma hora, "como qualquer cidadão".
"Acho que Ahmadinejad conseguiu derrotar as conspirações americanas contra o Irã e revelou a hipocrisia da Europa", afirma o clérigo. "Ao contrário do que dizem, gosto de sua política externa, é o que mais me agrada dele, além de nos defender contra o liberalismo ocidental."
Ele discorda do discurso da oposição, que acusa Ahmadinejad de "isolar o país".
"Estive em Meca [cidade sagrada do islã, na Arábia Saudita] neste ano e vi que muçulmanos de tudo quanto é país o amam, têm cem vezes mais admiração por ele que pelos nossos anteriores presidentes."
O clérigo acha que é cedo para se falar de diálogo com Barack Obama, como propõe o presidente americano.
"Os Estados Unidos precisam mudar muito para que concordemos com o diálogo", diz. "Ahmadinejad é a melhor opção para enfrentá-los." (RJL)


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