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Questão nuclear ofusca repressão no Irã
Um ano após protestos contra eleição, oposição se sente amordaçada pelo regime e abandonada pelo mundo
Relatório da Human
Rights Watch diz que
Teerã "metodicamente
esmagou todas as
formas de dissenso"
Fars News - 23.jun.09/France Presse
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Iraniano agita bandeira do país nas ruas militarizadas de Teerã nos dias que se seguiram à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, há 1 ano
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O programa atômico de
Teerã, que na semana passada galgou o topo da agenda
internacional com a aprovação de uma nova rodada de
sanções pelo Conselho de Segurança da ONU, está longe
de ser uma prioridade para a
população iraniana.
A grande maioria, inclusive na oposição, apoia o direito do país de seguir com suas
atividades nucleares, mas
tem preocupações muito
maiores -sobretudo a repressão política e o declínio
da economia.
Um ano após a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, quando acusações de fraude levaram milhares às ruas, a oposição sente-se amordaçada pelo regime e abandonada pelo mundo.
Estudo divulgado nesta semana pela Human Rights
Watch (HRW) confirma o panorama descrito pela Folha
há três semanas, durante a
visita do presidente Lula ao
Irã: a atmosfera no país é totalmente distinta da de junho
de 2009, quando os protestos
tingiram as ruas de verde, a
cor da oposição.
Sob o calor da repressão,
as manifestações públicas de
insatisfação evaporaram. Enquanto a comunidade internacional se concentrava nas
ambições nucleares do Irã,
"Teerã metodicamente esmagou todas as formas de
dissenso", afirma o relatório
da HRW.
Para Faraz Sanei, pesquisador de Irã da organização,
há visível frustração no país
pelo fato de a artilharia diplomática internacional mais
pesada se concentrar apenas
na questão nuclear.
"A convicção geral, especialmente entre os ativistas, é
que os direitos humanos deveriam ser tão ou mais importantes do que o tema nuclear", diz Sanei.
"O foco naquele perigo potencial não deve obscurecer
o fato de que milhares de pessoas não apenas sofrem
ameaças do regime, mas vivenciam diariamente a violência aplicada por ele."
CONSENSO ABALADO
Movida pelo orgulho nacionalista, a maioria dos iranianos manteve-se historicamente favorável ao programa nuclear, iniciado nos
anos 50 pelo regime do xá Reza Pahlevi, com a ajuda dos
Estados Unidos.
O apoio popular manteve-se após a Revolução Islâmica
de 1979 e prosseguiu até a
campanha eleitoral do ano
passado, quando o candidato oposicionista Mir Hossein
Mousavi, o mesmo que depois viraria símbolo da resistência ao regime, defendeu
com fervor o direito iraniano
de ter atividades nucleares
para fins energéticos.
Tal consenso, contaram à
Folha ativistas iranianos exilados na Europa, sofreu um
baque depois que o governo
intensificou a repressão aos
dissidentes. Muitos passaram a ver o programa nuclear não como um patrimônio nacional, mas como uma
forma de o regime se perpetuar no poder.
Em conversas com a reportagem da Folha em Teerã, quase todos os iranianos
abordados disseram não ter
dúvidas de que o objetivo do regime é a produção de armas nucleares.
Quando o assunto é a aplicação de sanções internacionais contra o país, como as
aprovadas na última quarta-feira na ONU, as opiniões são
mais divididas.
Muitos temem que restrições comerciais contidas na
resolução da ONU aumentem as dificuldades de uma
economia já golpeada por
corrupção, má administração e altos índices de inflação e desemprego.
Outros lembram que as
sanções da ONU não afetam
os negócios com petróleo iraniano. Assim se preservam
os lucros das empresas ocidentais que fazem o seu refino e se mantém o controle da
economia iraniana pela
Guarda Revolucionária -força paramilitar ligada ao líder
supremo, o aiatolá Ali Khamenei-, no que o especialista Fouad Ajami classificou de
"petrocracia".
Reprimida internamente e
sem apoio externo consistente, a oposição navega na internet em busca de salvação.
"Mas o Twitter não tem como vencer uma Guarda Revolucionária com os recursos
que lhes são concedidos por
uma economia que ela administra segundo sua preferência", escreveu Ajami.
FOLHA.COM
Especialista diz que
Obama sacrificou
estratégia de diálogo por
ganho de curto prazo
folha.com.br/mu749944
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