São Paulo, sábado, 13 de julho de 2002 |
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PERU A poucos dias de completar primeiro ano de mandato, presidente reforma gabinete para tentar conter impopularidade Em baixa, Toledo tenta "relançar" governo
ROGERIO WASSERMANN DA REDAÇÃO A duas semanas de completar um ano de mandato, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, empossou ontem seu novo gabinete, após uma ampla reforma que tenta conter a onda de greves e protestos populares contra seu governo e a insatisfação com a atual política econômica. Sem cumprir com suas principais bandeiras de campanha -como o crescimento econômico e a criação de empregos-, Toledo viu os índices de reprovação ao seu governo chegarem a 80%, segundo as últimas pesquisas. Para analistas, a reforma ministerial de Toledo é uma espécie de relançamento do governo, desgastado pela estagnação econômica e pelas promessas de campanha não cumpridas. Uma dessas promessas era não privatizar empresas estatais de energia. O início do processo de privatização gerou fortes protestos no sul do país, no mês passado, que deixaram duas pessoas mortas e levaram Toledo a suspendê-lo. As principais mudanças no gabinete foram a nomeação de Javier Silva Ruete ministro da Economia, cargo que já havia ocupado em dois outros governos; do atual embaixador nos EUA, Allan Wagner, para a Chancelaria; e de Luis Solari, um dos líderes do partido de Toledo, Peru Possível, para a chefia de Gabinete. Silva Ruete substitui Pedro Pablo Kuczynski, banqueiro de investimentos nos EUA e ex-funcionário do Banco Mundial. A participação de Kuczynski na campanha de Toledo e sua posterior nomeação como ministro havia sido considerada uma tentativa de buscar credibilidade para a economia peruana no mercado internacional. Porém sua gestão, após quase um ano de governo, era alvo de críticas. "Kuczynski adotou uma política econômica muito ortodoxa e pouco flexível, que impediu avançar com as suas promessas eleitorais", disse à Folha o analista político Mirko Lauer, colunista do jornal "La Republica". Para Lauer, a mudança não deve prejudicar o Peru no mercado internacional. "Silva Ruete não é um desconhecido, já foi ministro outras vezes e não é exatamente o oposto de Kuczynski. É apenas mais flexível e mais político", considerou. "Além disso, a presença de Kuczynski no governo não significou um aumento no fluxo de investimentos no país, e o Peru seguiu tomando empréstimos no exterior a taxas de juros altíssimas", disse o analista. Reforço No campo político, Toledo teria buscado com a reforma um reforço na relação com o seu próprio partido, desgastada nos últimos tempos, com a nomeação de Solari para a chefia de Gabinete. A nomeação de Wagner como novo chanceler, por sua vez, visa uma aproximação com o ex-presidente Alan García (1985-1990), a quem Toledo derrotou no segundo turno das eleições do ano passado. Wagner é amigo de García, em cujo governo já havia ocupado o mesmo cargo. A aproximação, que não inclui um acordo explícito, objetiva, entre outras coisas, evitar que o Apra, partido de García, encampe os protestos populares e torne a continuidade do governo Toledo inviável. Os dois partidos buscam ainda uma condição mais favorável na disputa para a eleição para prefeitos, programada para novembro. Na avaliação de Mirko Lauer, Toledo mostrou habilidade política na reforma. "As mudanças indicam flexibilidade por parte do presidente", disse. "Com a popularidade abaixo de 30% e instituições muito débeis como as peruanas, sempre existe o risco de o presidente não conseguir terminar seu mandato, mas crises que desembocam numa solução desse tipo quase sempre vêm acompanhadas de uma crise política muito séria com a total falta de flexibilidade dos governantes." Com agências internacionais Próximo Texto: País dividido: OEA teme piora na crise venezuelana Índice |
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