UOL


São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Analistas vêem pouca chance de reforma no Conselho de Segurança

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DE NOVA YORK

Especialistas ouvidos pela Folha acham que são baixas as chances de o Conselho de Segurança da ONU ser reformado. "Vai ser muito difícil, pois nenhum membro do Conselho de Segurança quer de fato diluir seu poder", afirma Doug Bandow, do Instituto Cato.
"Não acho que vá acontecer nos próximos anos", diz Charles Hill, ex-consultor do secretário-geral da ONU e do Departamento de Estado americano, hoje analista do Instituto Hoover.
Ainda que aconteça, opinam os analistas, a reforma deverá mudar o conceito de vaga permanente. Dificilmente, os novos membros teriam o poder de veto, com o qual um único governo pode barrar a aprovação de uma resolução importante ainda que ela tenha todos os outros votos.
O CS reflete a realidade política do final da Segunda Guerra Mundial. Por causa disso, a Alemanha, derrotada militarmente, não tem cadeira garantida mesmo sendo a maior economia da Europa.
Os países vencedores da guerra assumiram vagas fixas e com direito a veto. Em 1965, houve sua última reforma importante, quando o número de membros subiu de 11 para 15. Com o final da Guerra Fria, na virada dos anos 80 para os anos 90, começou-se a discutir a reforma do CS -e aí esquentaram as disputas.
"A proposta para que a Alemanha se tornasse membro foi barrada pela Itália. Quando houve a proposta para a Índia, a China se opôs. Então o momento para a reforma estava morto no final dos anos 90, e não há sinal de que ele vá voltar", afirma Hill.
Assim, Hill define a candidatura brasileira como "perda de tempo". "O Brasil quer fazer com que todos saibam sua posição. Certamente, os EUA não vão se opor a isso. Mas depois que vocês defenderem seu argumento, não acho que haverá nenhum lucro particular em tentar levar isso adiante", afirma.
Já Jochen Prantl, da Universidade Oxford, acha que uma alternativa à cadeira no CS é participar dos chamados "grupos de amigos", uma forma de influenciar o processo decisório na ONU.
"Esses grupos proliferaram após a Guerra Fria. São criados, de maneira informal, em torno de um assunto específico, como um país em crise. O Brasil, por exemplo, envolveu-se no grupo de amigos de Angola."
Bandow, do Cato, enxerga um mérito na estratégia brasileira de lutar pela vaga no CS. Seria uma semente para o futuro. "O Brasil quer estar pronto", diz.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ressalta o fato de o CS não ter nenhum país em desenvolvimento entre seus membros permanentes no momento. E diz que, para refletir o interesse da Assembléia Geral da ONU, os países em desenvolvimento precisam estar mais bem representados.
Amorim concorda com a tese de que a reforma é um assunto complicado. Mas "não reformar é mais complicado ainda", opina. Para os diplomatas brasileiros consultados pela reportagem, o episódio do ataque ao Iraque, no qual os EUA decidiram ir à guerra sem autorização formal do CS, deixou clara a necessidade de mudança.
A França e a Rússia, membros permanentes do CS, já manifestaram apoio ao Brasil. Na América Latina, o país saiu na frente da Argentina e do México, seus tradicionais rivais pela vaga. Tem a aprovação da Venezuela, do Peru, da Bolívia e do Uruguai. Amorim conta ainda com a Austrália, a África do Sul, Angola e Moçambique.
Os EUA explicitaram sua posição em um documento do Departamento de Estado. Declararam que apóiam a expansão do CS e que querem incluir o Japão e a Alemanha. Além disso, o governo americano se diz "preparado para aceitar outras três cadeiras para nações em desenvolvimento da África, da Ásia e da América Latina". Mas os EUA acham que esses três membros deveriam ser escolhidos regionalmente -resposta dada por George W. Bush a Luiz Inácio Lula da Silva. (RD e AS)


Texto Anterior: Diplomacia: Vaga no CS da ONU trará custo extra ao Brasil
Próximo Texto: Invasão do sul: Explosão da população hispânica muda EUA
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.