São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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Israel invade o sul do Líbano após ataque

Premiê israelense afirma que ação foi "ato de guerra'; organização terrorista diz que operações militares não conseguirão libertação

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TZFAT (ISRAEL)

Israel adentrou 6 km no território do Líbano e respondeu com artilharia pesada, bombardeios aéreos e pelo mar, além de promessas de intensificar a ação militar, depois de ações de ontem do grupo terrorista Hizbollah em que dois soldados foram seqüestrados, oito morreram e quatro civis ficaram feridos -as piores baixas desde a retirada militar israelense do sul libanês, em 2000.
"É um ato de guerra do Líbano contra o Estado de Israel em seu território soberano", disse o premiê israelense, Ehud Olmert, que ameaçou uma "resposta dolorosa".
Segundo o Exército de Israel, membros do Hizbollah atacaram com tiros e explosivos uma patrulha de dois jipes Hummer na fronteira. Ao mesmo tempo, dezenas de foguetes do tipo Katiusha foram lançados contra cidades no norte de Israel. Pelo menos dois civis israelenses ficaram feridos por estilhaços.
Logo após o ataque, Israel começou a ação militar. Uma ponte a 15 km de Beirute foi destruída. Caças bombardearam bases de treinamento e armazéns do Hizbollah e alvos de infra-estrutura, como pontes e estradas.
Navios de guerra de Israel também entraram em águas territoriais libanesas. Segundo os militares israelenses, foram atingidos mais de 40 alvos. Pelo menos dois civis libaneses morreram em um dos bombardeios, além de um militante do Hizbollah. Outras 16 ficaram feridas em bombardeios de pontes no sul do Líbano.
Os seqüestros aumentam para três o número de soldados israelenses reféns de terroristas em menos de um mês. Em 25 de junho, o soldado Gilad Shalit foi levado por palestinos, e desde então Israel vem bombardeando a faixa de Gaza (leia texto na página seguinte).
O Exército de Israel fez também a primeira incursão por terra em território libanês desde o final da ocupação, iniciada em 1982, depois da invasão liderada pelo então general Ariel Sharon para combater a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Um oficial israelense de alta patente disse que Israel fará o Líbano voltar "20 anos", atacando sua infra-estrutura, se os reféns não forem libertados em boa condições.
Já o ministro da Defesa, Amir Peretz, disse que os responsáveis "vão se arrepender". Ele e Olmert não têm passado militar heróico, algo considerado importante na política de Israel, e a oposição os acusa de falta de experiência no gerenciamento de crises militares.
O chefe do Estado Maior israelense, Dan Halutz, ordenou a convocação de reservistas. Tanques e tropas também foram posicionados ao longo da fronteira com o Líbano.

Foco em Beirute
"Acho que o debate no momento é entre nós e o governo do Líbano", disse o chefe do comando Norte do Exército de Israel, Udi Adam, em entrevista coletiva na cidade de Tzfat, a 10 quilômetros da fronteira, colocando sobre Beirute a responsabilidade pelo ato.
Autoridades libanesas apressaram-se em distanciar-se do seqüestro dos militares israelenses identificados pelo Exército como Eyal Benin, de 22 anos, e Shani Turgeman, de 24, ambos sargentos.
O líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, disse em entrevista que só aceita libertar os soldados em troca de prisioneiros, com negociações por meio de mediadores: "Nenhuma operação militar vai devolvê-los".
Nasrallah ameaçou também disparar morteiros contra cidades no norte e no centro do país. Segundo ele, um dos objetivos do seqüestro é ajudar na luta dos palestinos contra Israel. Ele enfrenta críticas por manter um exército para combater Israel mesmo depois da retirada. O Hizbollah diz que os israelenses mantêm tropas nas Fazendas de Shebá, que a ONU considera território sírio.
Israel e o Hizbollah já negociaram no passado, por meio de mediadores alemães e da Cruz Vermelha. Em 2004, o grupo terrorista soltou o militar Elchanan Tenenbaum, que ficou quatro anos como refém, e devolveu os corpos de três soldados mortos em troca da libertação de prisioneiros.

Reações
A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, condenou a ação do Hizbollah e pediu à Síria, que apóia o grupo, que "use sua influência para obter um resultado positivo".
Mas o governo sírio disse que a culpa é de Israel. "A ocupação é o que provoca o povo palestino e o povo libanês", disse o vice-presidente Farouq al Shara.
A porta-voz da Comissão Européia, Emma Udwin, pediu para "todas as partes fazerem todos os esforços para acabar com a violência".


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