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Corpos em mesquita podem ser de crianças, diz Paquistão
Cadáveres encontrados em templo alvo de ação do Exército estão carbonizados
Após derrota de rebeldes amotinados em mesquita, o ditador Musharraf promete erradicar o extremismo; escolas islâmicas protestam
Mian Khursheed/Reuters
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Destroços da madrassa para mulheres no complexo da Mesquita Vermelha; ação durou 35 horas
DA REDAÇÃO
O Exército do Paquistão informou ontem que 19 dos 75
corpos encontrados no complexo da Mesquita Vermelha,
na capital Islamabad, estão tão
carbonizados que é impossível
discernir seu sexo e idade.
Os mortos -que o governo
dizem ser ao todo 108, entre
amotinados, militares e vítimas
de fogo cruzado- são resultado
de um cerco de oito dias encerrado anteontem, após um confronto direto de 35 horas entre
o Exército paquistanês e militantes de um grupo islâmico radical que se rebelou contra o
governo do ditador Pervez
Musharraf. Os radicais, liderados por Abdul Rashid Ghazi
-morto na ação- advogavam a
instalação de um regime religioso mais rígido no país.
Desde janeiro, comandos
formados pelos clérigos da
mesquita atacavam livrarias
com publicações ocidentais e
seqüestravam mulheres que diziam ser prostitutas.
Apenas ontem o Exército
permitiu a jornalistas o acesso
às ruínas do complexo, que
abrigava também uma madrassa -escola islâmica- para mulheres. Por isso permanece a
dúvida sobre quantas pessoas
morreram efetivamente na
ação. Para Qazi Hussain Ahmed, líder do maior partido islâmico do Paquistão, o Jamaat
al Islami, morreram nos conflitos de 400 a mil pessoas.
O governo do Paquistão, por
sua vez, insiste em que não está
escondendo o número de mortos -assim como insistia em
que, entre eles, não havia mulheres nem crianças. Autoridades dizem ainda que cerca de
1.300 pessoas fugiram do complexo da Mesquita Vermelha.
Palavras
Após o fim das batalhas, e
com as madrassas de Islamabad de portas fechadas ontem,
deu-se uma guerra de palavras.
Enquanto o ditador Musharraf ia à TV afirmar que seu governo está determinado a erradicar o extremismo e o terrorismo do país, o irmão de Abdul
Rashid Ghazi, Maulana Abdul
Aziz, disse esperar uma "revolução islâmica" no Paquistão.
Musharraf justificou a ação
militar contra a mesquita. "Infelizmente nos levantamos
contra o nosso povo (...) eles se
desviaram do caminho correto", disse, segundo a BBC.
De acordo com o jornal americano "Herald Tribune" haveria uma outra justificativa para
o ataque: entre supostas prostitutas seqüestradas por seguidores de Ghazi estariam cidadãs chinesas, e Pequim, importante aliada do Paquistão, pressionou Musharraf a agir.
Já Maulana Abdul Aziz, que
tentou escapar da mesquita durante o cerco e foi preso, afirmou no funeral de seu irmão
que "há muitos Ghazis vivos
para se tornarem mártires".
A dúvida entre os paquistaneses é se o episódio na mesquita é apenas o primeiro numa
ofensiva de Musharraf contra
outras madrassas, por um lado,
e se, por outro, ele servirá de
exemplo para incitar outras sublevações de extremistas.
Devido ao pouco investimento do governo em educação, as
madrassas, que chegam a cerca
de 100 mil no país e provêm
educação gratuita, tornaram-se
uma alternativa para quem não
pode pagar por educação particular para seus filhos. No entanto, segundo o International
Crisis Group, são poucas aquelas que encorajam abertamente
a militância.
Na melhor das hipóteses, a
tragédia da Mesquita Vermelha
poderá impulsionar Musharraf
a integrar as madrassas ao sistema formal de educação, expelindo o conteúdo extremista de
seus currículos. No entanto há
quem diga que a presença do
extremismo latente é um dos
pilares da manutenção do regime de exceção no país, o qual é
chefiado por Musharraf.
Com agências internacionais e o "Financial Times"
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