São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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Com voz débil, Fidel surge na TV e vê "risco de guerra"

Segunda aparição pública acontece no dia em que se esperava que ex-presos políticos fossem para a Espanha

Analistas veem fala como crítica velada aos rumos do regime ou como sinal de que ex-ditador está isolado

Alex Castro/Reuters
O ex-ditador Fidel Castro fala à TV sobre risco nuclear

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Com um fio de voz, mas corado e aparentando ter recuperado peso, o ex-ditador Fidel Castro participou de programa na TV estatal, na segunda aparição pública em uma semana e uma das mais longas desde que, doente, se afastou do poder em 2006.
A reestreia num vídeo aparentemente gravado, ocorre no dia em que ao menos sete prisioneiros políticos foram para a Espanha após acordo entre Havana, Igreja Católica e Madri na semana passada.
O número dos que saíram ontem para Cuba divergem. A chancelaria espanhola fala em em sete e a comissão de direitos humanos em 11.
Na entrevista, também transmitida pela principal TV estatal venezuelana e pela rede chavista Telesur, Fidel falou sobre o risco de uma guerra nuclear que começaria entre as Coreias e incluiria o Irã. Ele leu, sem óculos, trechos de seus textos recentes sobre o que chama de "risco iminente de guerra".
Fidel vestia um casaco cinza escuro, sobre uma camisa xadrez de tons vermelhos.
O dirigente máximo da ilha, Raúl Castro, 79, irmão mais novo que substitui Fidel formalmente desde 2008, prometeu liberar um total de 52 presos políticos até outubro -20 deles já tiveram os nomes confirmados.
Analistas divergem sobre a coincidência dos eventos.
"Não se pode ter certeza sobre as coisas em Cuba. É um mistério dentro de um enigma", diz o jornalista e ferrenho crítico dos Castro Carlos Alberto Montaner.
"Não me espantaria que Raúl tivesse pedido a Fidel que aparecesse, para mostrar que não está tomando as decisões completamente sozinho. Mas o fato é que Fidel jamais teria incluído a igreja na operação dos presos", diz.
"Não vejo essas diferenças entre eles. É uma performance conjunta sempre", afirma o jornalista independente e blogueiro Reinaldo Escobar.
Há quem pense que Fidel, representante de uma linha-dura contra o suposto desejo de mudança, ao menos econômica, do irmão Raúl, apareceria agora para dinamitar os acenos de Havana à União Europeia e aos EUA.
Ontem, Fidel não fez menção às questões locais. Ele visitara, na quarta-feira, um centro de pesquisa de Havana-evento que também saiu na mídia estatal.


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