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VERÃO INFERNAL
Festas com água gelada na banheira são uma das novidades na cidade
Calor cria novos hábitos em Paris
DANIELA FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS
Os franceses costumavam esperar ansiosamente pelo verão,
visto como um período em que
as pessoas ficam mais descontraídas, os terraços dos restaurantes lotam e, principalmente,
o mau humor dos parisienses
diminui. Agora, porém, com
40C durante o dia e até 30C à
meia-noite em Paris, o calor virou sinônimo de sofrimento.
"Não consigo dormir antes da
1h e acordo várias vezes durante
a noite", diz o corretor imobiliário Gérald Leblais, que passou a
andar nu pela casa. "Não me importo com os vizinhos. Não é
possível fazer de outra forma."
Problema para dormir é uma
das principais queixas dos franceses. Poucas casas têm ar-condicionado em Paris, e o produto
está em falta nas lojas devido à
procura. "Encho a banheira
com água e gelo para refrescar o
ambiente e molho meu corpo
com toalhas úmidas durante toda a noite", diz a paulistana
Adriana Moysés, que está há
duas noites sem dormir direito.
A solução da banheira com
água fria também está sendo
utilizada pelos franceses quando dão festas em casa. Os convidados podem assim molhar os
braços e a nuca. Marcelo Telles
não tem banheira em casa e distribuiu aos amigos vaporizadores de água para plantas. "As
pessoas dançavam borrifando-se com água", conta.
Os disputados terraços dos
restaurantes, normalmente lotados no verão durante o jantar,
também não estão mais atraindo os parisienses. "Não tenho
mais prazer em sair. Está um
forno por todos os lados", afirma o medico Jean Noël Haudecoeur, que passa calor também
na empresa onde trabalha. "Temos ar-condicionado, mas ele
não tem capacidade para essas
altas temperaturas."
Os locais com ar-condicionado mais potente, como lojas de
departamentos e as grandes redes de cinema, estão entre os
mais procurados pelos parisienses. "Já fui quatro vezes ao cinema nos últimos cinco dias", diz
o paulistano Alexandre Mroz,
que também deixou de tomar o
metrô. "Nem pensar em entrar
em um lugar normalmente tão
quente quanto o metro", afirma.
O engenheiro alemão Christian Ast trocou o metrô pela bicicleta. Todos os dias, ele percorre 30 km para chegar ao trabalho, na periferia de Paris.
"Não aguento tomar o metrô, é
muito abafado", diz ele, que
chegou a encomendar por internet um ar-condicionado na Alemanha, por não ter encontrado
o equipamento em Paris.
O turista italiano Enrico Novara encontrou uma maneira
curiosa de visitar Paris neste
momento. "Só saio a partir da
meia-noite e caminho pela cidade a madrugada inteira", diz.
Muitos parisienses têm cães e
gatos, cuja rotina também mudou em razão das altas temperaturas. Na Sociedade Protetora
dos Animais, na região parisiense, os funcionários molham os
cachorros com esguichos de
água todos os dias. Os gatos, que
normalmente não bebem muita
água, ficam em frente a ventiladores. No oeste da França, milhares de frangos e porcos já
morreram por causa do calor.
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