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LATINOBARÓMETRO
Para 71% na AL, só elite se beneficia
Pesquisa mostra que nenhum governo satisfaz aos brasileiros
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O brasileiro demonstra muito
pouca confiança no governo, democrático ou autoritário, revela a
mais recente pesquisa Latinobarómetro, que mede opiniões, atitudes e valores em 18 países da
América Latina desde 1995.
A pesquisa 2004 foi divulgada
ontem pela revista britânica "The
Economist". De 1996 para 2004,
caiu nove pontos percentuais a
porcentagem de brasileiros que
cravam que "democracia é preferível a qualquer outro tipo de governo". Eram 50%, número já relativamente baixo; agora são 41%.
Mas caiu também os que apostam na solução autoritária: em
1996, 24% diziam que, "em certas
circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível a um
democrático". Agora, são 18%.
O desconforto com o governo
(qualquer que ele seja) fica claro
em outra pergunta: 65% respondem que "acham que o governo
beneficia uns poucos poderosos,
em vez de todos". Aliás, essa é
uma característica de toda a região: 71% dos consultados dão essa mesma resposta no conjunto
dos 18 países pesquisados.
De todo modo, subiu a porcentagem dos que apostam na democracia, a partir da posse de Luiz
Inácio Lula da Silva. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, apenas 35% dos brasileiros preferiam
a democracia a outra forma de governo. Agora, são 41%.
O desconforto com a democracia não leva, no entanto, a pensar
em alternativa. Sessenta e oito por
cento dos brasileiros dizem que
"só um sistema democrático pode
trazer o desenvolvimento".
Mas 54% aceitariam um governo não-democrático se resolvesse
os problemas econômicos.
Número bem parecido (53%)
diz que prefere a ordem mesmo
que "algumas liberdades possam
ser limitadas". Esse número parece indicar mais a preocupação
com a segurança pública do que
inclinação pelo autoritarismo.
De todo modo, é enorme, sempre superior a 50% em cada país,
o número dos latino-americanos
que se dizem insatisfeitos com a
maneira como funciona a democracia. No Brasil, são mais de
60%. Mas já foram mais: perto de
80% em 1996 (na metade do segundo ano do governo Fernando
Henrique Cardoso).
Como democracia tem sido, na
região, sinônimo de economia de
mercado, os pesquisados não
vêem alternativa: sempre mais de
50% em cada país dizem que "a
economia de mercado é o único
sistema que pode desenvolver o
país". No Brasil, são pouco mais
de 60%, o segundo lugar entre os
pró-mercado, atrás apenas dos
mexicanos (70%).
Em aparente paradoxo, o país
campeão da economia de mercado (os EUA) não é bem visto pelos
latino-americanos em geral e pelos brasileiros em particular.
A pergunta exata é "qual é a sua
opinião sobre os Estados Unidos". A resposta é uma ponderação entre os que respondem
"muito boa" (opinião) e "boa"
menos os que dizem "má" e
"muito má". Feita essa conta, a
avaliação positiva dos brasileiros
sobre os EUA supera a negativa
em 10%. Na Argentina, país cujo
colapso é atribuído em grande
parte ao FMI e, por extensão, aos
Estados Unidos, a opinião anti-norte-americana é mais extensa, a
mais disseminada na região.
Outro aparente paradoxo está
dado pelo fato de que é na Venezuela que aparece uma das mais
baixas porcentagens de insatisfação com o funcionamento da democracia (a mais baixa surge no
Uruguai).
A se aceitar a avaliação da oposição ao presidente Hugo Chávez,
a democracia venezuelana estaria
em cacos, mas os pesquisados em
países como Chile, Brasil ou México, bem mais estáveis, estão
mais descontentes.
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